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Por 17 anos, Tom Schreiner tem estado na linha tênue entre servir como acadêmico em tempo integral e pregar em sua igreja local. Ele escreveu numerosos livros e comentários importantes, incluindo Teologia de Paulo, O Apóstolo da Glória de Deus em Cristo (Vida Nova, 2015) e foi presidente da Sociedade Teológica Evangélica.

Durante seis dos últimos dez anos, Schreiner tem sido o pastor da minha família na Clifton Baptist Church. Nesta entrevista, conversamos sobre as perguntas que um número crescente de seminaristas fazem, isto é, se Deus equiparia eles para pastorear em uma igreja, dar aulas na faculdade, ou até fazer as duas coisas.


Como você entendeu a direção de Deus, em seus primeiros anos de ministério, quanto a usar seus dons para cumprir seu chamado para ser pastor ou professor de seminário?

Quando me formei no Fuller Seminary, em 1983, meu filho Daniel tinha 1 ano, e eu precisava de um emprego. Estava aberto e ansioso para pastorear e ensinar. Desejava ambos, então me candidatei aos dois. E esperei. Depois de alguns meses a Azusa Pacific University me ofereceu um emprego de professor em tempo integral. Embora tenha tentado uma posição pastoral, isso não havia dado certo, então pensei: “Bem, o Senhor está me levando a aceitar este trabalho. Preciso tomar uma atitude, e adoraria ensinar.”

Apesar da Azusa Pacific University ser uma escola de confissão wesleyana, eles estavam dispostos a contratar pessoas com visões mais reformadas, por isso, aceitei a vaga e fiquei lá por três anos. Também comecei a servir como pastor associado, então desde o início estava envolvido no ministério pastoral. Fui recebido como presbítero, participava das reuniões do conselho, pregava uma vez por mês e ensinava na escola dominical toda semana. Era uma igreja pequena, e estávamos extremamente envolvidos nessa congregação.

Sempre amei estar bastante envolvido com a igreja e ensinar no seminário. Eu realmente nunca dividi as duas coisas.

Nos últimos 17 anos você serviu como pastor e professor. O acúmulo dessas funções correu bem? Algum obstáculo ou desvantagem?

Quando se faz ambas as coisas, você fica apertado em termos de tempo, então creio que isso seja um obstáculo. Mas acho que o ministério pastoral pode ser a melhor coisa que já fiz, porque nada me ajudou mais como professor na sala de aula do que ser pastor em uma igreja. Meu trabalho acadêmico, que tem me ajudado a interpretar o Novo Testamento, tem sido vital para o meu ministério na igreja local, mas foi através do pastoreio que comecei a ver como o que eu estava fazendo na sala de aula relacionava-se com o ministério e as coisas que deveriam ser enfatizadas. Diria que o pastoreio é a melhor coisa que já fiz para o meu ensino.

No Seminário do Sul (Southern Seminary), somos encorajados a estar muito envolvidos nas nossas igrejas, e muitos professores são pastores. Todos os nossos professores têm o compromisso de estar profundamente envolvidos na igreja local, com suas falhas e fraquezas, pois a igreja expõe nossas falhas e fraquezas também. A igreja é imensamente valiosa para a sala de aula.

Como você aconselharia um estudante tentando decidir entre ser pastor ou professor?

Se um aluno está buscando ao Senhor de todo o seu coração e desejando agradá-Lo, mas está dividido entre o ministério pastoral e uma carreira acadêmica, eu perguntaria qual aspiração é mais forte. Confio que Deus o está guiando e orientando, então, qual aspiração é mais forte em seu coração?

Mas o Senhor também nos conduz pelas circunstâncias. Muitos que querem se tornar professores frequentemente descobrem que as ofertas de emprego são escassas. Nossos professores no Seminário do Sul dizem a todo estudante que aplica ao programa de doutorado: “Tomara que você não esteja esperando dar aulas, porque nós não podemos garantir que você vai conseguir uma vaga nessa área. Esperamos que você esteja disposto ao ministério pastoral, uma vez que não fazemos propaganda enganosa, prometendo que você vai conseguir um emprego de professor”. Em última análise, não posso responder a essa pergunta para alguém; creio que é o Senhor quem dirige, ensina e guia.

Como um pastor pode decidir se deve cursar um doutorado?

Em primeiro lugar, a maioria das pessoas não precisa de um doutorado. Isso certamente não é necessário para ser um pastor. Em segundo lugar, no entanto, um doutorado pode ser útil para um pastor. Talvez a minha história será de alguma ajuda para aqueles que tentam responder a esta pergunta. Eu tinha 26 anos e pensava comigo mesmo: Sou muito jovem e inexperiente para ser pastor. Precisava de um fundamento bíblico-teológico mais profundo, mais sólido. Eu sabia que mais estudos iriam me aprofundar mais no ensino e na pregação do que aquilo que eu tinha na época. Havia questões importantes em minha mente que eu queria resolver. Então, na minha situação, creio que meus estudos de doutorado me ajudaram extraordinariamente; eles me deram recursos acadêmicos de grande proveito, mesmo que nunca os mostre para a congregação. Na verdade, na maioria das vezes eu não mostro esses recursos para minha congregação.

Além disso, do outro lado da complexidade há uma simplicidade. Creio que o estudo aprofundado pode levar-nos até lá, enquanto que um estudo superficial pode acabar sendo demasiado complexo e não ajudar as pessoas a realmente entender o que as Escrituras estão dizendo. Nesse caso acho que um doutorado pode ser muito útil. Mas a questão é, precisa mesmo? Eu acho que não. Você tem um desejo ardente por isso? Você tem condições financeiras para fazê-lo? Sua esposa o apoia? Será que melhoraria o seu futuro ministério, de alguma forma? Se você puder responder a estas questões afirmativamente, então talvez o Senhor o esteja levando a fazer um doutorado.

Cursar um doutorado atrapalha a atividade pastoral? Por outro lado, há algum treinamento ministerial que deveria evitar o pastorado?

Creio que seja possível um doutorado afastar um pastor de seu povo. É uma questão de motivação e do coração, e é possível que alguns pastores, depois de obter um doutorado, tornem-se arrogantes e orgulhosos. Em seus corações, eles podem começar a ver suas congregações como um grupo de ignorantes e antiquados, e, portanto, não poderiam mais ministrar efetivamente a eles. Creio que seja mais uma questão de coração do que da formação, em si. É uma questão espiritual.

Por outro lado, posso conceber uma situação em que um pastor é academicamente dotado, mas socialmente desajeitado. Talvez ele possa melhorar o suficiente socialmente para ser pastor, mas ainda existem alguns, dadas as suas habilidades sociais, que provavelmente deveriam ensinar ao invés de pastorear. E eles precisam reconhecer quais são os seus dons.

Apesar disso não se relacionar diretamente com o pastorado, me lembro de um aluno em estudos bíblicos e teológicos, há alguns anos, que veio a mim e disse: “Estou indo muito mal no estudo das línguas bíblicas, elas são uma luta para mim. É tão desestimulante, tenho tentado com todas as minhas forças”. Eu lhe disse: “Então Deus não te dotou para fazer isso. Deus está te dirigindo e conduzindo por um caminho diferente. Estes não são os seus dons; se você está se esforçando e não está vendo resultados, não coloque esse fardo sobre si mesmo. Seja o que Deus te chamou para ser. Nem todo mundo é chamado a envolver-se em estudos bíblicos e teológicos, por isso não se obrigue a ser o que você não é. Alegre-se com o que Deus fez você para ser e encontre o seu lugar. Não se obrigue a encaixar nesse molde preconcebido do que deveria ser”. Ele achou esse conselho extremamente libertador. Portanto, ao considerar o pastorado e o doutorado, reconheça quais são os seus dons.

É possível uma pessoa fazer bem as duas coisas? Um pastor pode ser fiel no púlpito e aos seus muitos e importantes deveres pastorais, e, ainda assim, fazer uma leitura exaustiva e um estudo cuidadoso, que são necessários para ser um acadêmico?

Na grande maioria das situações, é impossível. A única maneira possível para fazer o que fiz foi por causa dos outros presbíteros de minha igreja. Não havia como pregar como preguei nos últimos 17 anos e fazer todas as coisas que um pastor em tempo integral faz. Nem de perto. Mas tínhamos em nossa comunidade outros presbíteros muito talentosos que ajudavam significativamente. Então, se você tem uma equipe pastoral em que possa dividir responsabilidades, talvez você consiga fazê-lo. Mas se você estiver em uma igreja onde há um ou dois pastores, não vejo como isso seria possível. Mesmo que a igreja seja pequena, creio que seria extremamente difícil fazer as duas coisas. Acho que é uma situação única em que a combinação funciona bem, porque o ministério pastoral quase sempre exige mais de você.

Sentia essa tensão frequentemente. Às vezes, confessava aos meus colegas presbíteros: “Me sinto dividido, como se 70 por cento na igreja e 70 por cento no seminário”. Há um reconhecimento claro, pelo menos na minha vida, de que há sempre muito mais a se fazer. Você realmente se dá conta disso quando gasta tempo com as pessoas, porque para escrever, basta estar sozinho. Não é possível escrever em uma comunidade. Mas isso significa ausentar-se dos membros da igreja por longos períodos de tempo. Essa não é a vida pastoral. Assim, a única maneira que dá certo é ter uma equipe de presbíteros e uma congregação que reconhece isso. No entanto, isto é raríssimo. Nunca buscaria isso como um modelo, mas jamais imaginei que faria exatamente isso por 17 anos. Para mim, houve momentos em que me perguntei se deveria deixar o seminário e servir no ministério pastoral em tempo integral. Por pelo menos duas vezes cheguei muito perto de fazer isso.

O que os seminários deveriam fazer para para ajudar os homens a enfrentar esta questão?

A melhor maneira de ajudar, penso eu, é haver conversas pessoais entre alunos e professores. Cabe ao indivíduo conversar com seus professores sobre o assunto. Se você sabe que está lutando com algo parecido com isto, pergunte a um professor: “Aqui está algo com que estou lutando; me ajude a pensar sobre o que fazer”. Assim é a vida na igreja e no seminário. Somos pessoas; precisamos falar com pessoas. Professores também têm esse papel pastoral no seminário, o de ajudar aos alunos a pesar questões como esta.

Claro, não precisa ser um professor do seminário. Converse com o seu pastor sobre isso. Há muitos pastores sábios e piedosos com quem o aluno pode falar. Pode-se também encontrar respostas conversando com outro seminarista.

Traduzido por Nathanael Baldez.

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