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Você acredita que Adão e Eva existiram? Que Gênesis conta história de fato? Que nada daquilo foi um mito? Que a “queda” aconteceu exatamente como relatado em Gn 3? Que a geração de pré-diluviana de Sete (Enoque, Matusalém, Noé, dentre outros), realmente existiu? Se sua resposta for afirmativa, você faz parte de um grupo que está entrando em extinção.

Embora a leitura e interpretação “histórico-crítica” dos capítulos introdutórios da Bíblia não seja algo recente, esta forma mítica de ler Gênesis tem atraído a simpatia de inúmeras pessoas no século XXI.

Desde que Jean Astruc percebeu as fontes J e E nos escritos de Moisés (sim, ele cria que Moisés escreveu o Pentateuco) inúmeras releituras passaram a ser feitas dos cinco primeiros livros da Bíblia. O foco, obviamente, é “demitologizar” o relato da criação, além de outras histórias contadas em Gênesis.

Após Astruc (1684-1766), outros passaram a reler Gênesis considerando-o mítico. Robert Lowth (1710-1787) escreveu «De Sacra Poesi Hebraeorum» em 1753, sugerindo a possibilidade de uma poesia derivada de um mito. Embora estes dois ainda não fossem abertamente críticos do texto, aqueles que os leram e escreveram após eles o foram. É o caso de C.G. Heyne e J.G. Eichhorn que, após 1779, passa a publicar artigos e livros defendendo que os relatos de Gênesis nunca aconteceram.

Curiosamente, após a publicação de A Origem das Espécies em 1859 por Charles Darwin, uma visão evolucionista da própria religião passa a se popularizar entre teólogos cristãos graças ao desserviço , digo, aos esforços, de Karl Heinrich Graf e Julius Wellhausen (alguns incluem o holandês Abraham Kuenen também).

Bem, estas informações são para lhe mostrar que não vem de hoje a releitura mítica de Gênesis. No entanto, tem chamado a atenção de muitos o livro publicado por William Lane Craig em 2021 pela Eerdmans, In Quest of the Historical Adam: A Biblical and Scientific Exploration (Em Busca do Adão Histórico: Uma Exploração Bíblica e Científica).

Nele, Craig confessa crer que Gênesis e seus relatos são mitos-históricos. Além disso, advoga que, ou Adão nunca existiu, ou teria sido um hominídeo, uma espécie de símio evoluído (macaco mais esperto), que o Pentateuco teria sido uma fraude piedosa (e que Moisés não foi seu autor), dentre outros absurdos literários, históricos, linguísticos e teológicos.

Sete considerações:

  1. O livro de Craig deveria se chamar “Demitologização de Gênesis”;
  2. Craig, diante de suas palavras neste livro, poderia ser visto como um teólogo liberal, caso alguém entenda que o desejo de demitologizar as Escrituras seja filho das ideias liberais de Rudolf Bultmann (não estou afirmando que Craig é liberal, mas que suas ideias neste livro se parecem com ideias liberais);
  3. ⁠Comparar Gênesis com mitos da antiguidade — Enuma Elish, Utnapishtim, Shabaka , etc — revela que, ou ele é um ignorante literário, ou um incrédulo desonesto que não percebe as consequências devastadoras para a teologia ao considerar Gênesis um mito-histórico.
  4. A capa deste livro de Craig traz um símio evoluído representando Adão. Ou seja, um macaco elevado ao Homo sapiens, mostrando suas simpatias com o evolucionismo teísta, outro absurdo recente;
  5. Mas, caso Gênesis seja um mito-histórico bem-intencionado, não deveria haver imagem de símio evoluído na capa, pois, pela lógica, nunca teria existido – por seu um mito (ou seja, a capa contradiz o conteúdo);
  6. ⁠Se a teoria de Craig estiver certa, esta fraude piedosa dos autores do Pentateuco foi seguida pelos autores sapienciais, pelos profetas, por Jesus, pelos apóstolos, por todos os Pais da Igreja, pelos teólogos medievais e reformados, sendo que, somente após a extraordinária capacidade intelectual dos teólogos modernos, conseguimos concluir que todos antes de nós estavam errados. Como é que ninguém jamais percebeu isso antes, não é mesmo?
  7. Graças a Deus que a mente de teólogos ‘evoluídos’ como Craig foram iluminadas para nos mostrar “a verdade”.

⁠Uma pena que John Sailhamer, Edward J. Young, Meredith Kline, e outros gigantes da Teologia Bíblica do AT já estejam no céu, e não possam responder a Craig.

Por fim, não nos esqueçamos que Tim Keller, C. S. Lewis, Alister McGrath, alguns brasileiros da ABC2, et caterva, são simpáticos a esta teoria também. Só não escreveram livros para defender este absurdo, como acaba de fazer William Lane Craig.

Vale incluir nesta lista Francis Collins, fundador do instituto BioLogos, amado por N. T. Wright (Keller e outros), e defensor da crença de que o Cristianismo e o Evolucionismo podem ser vistos como “irmãos”, e que o Criador teria usado os processos evolutivos para criar tudo o que existe (e que deveríamos reler a Bíblia tirando dela os seus mitos).

E aí, você concorda com Craig? Acha que deveríamos reler a Bíblia sob a luz da “ciência” moderna? Que Adão e Eva jamais existiram e que os relatos sobre a Criação, Queda e Redenção presentes em Gênesis deveriam ser revistos e reinterpretados baseando-nos nestes teólogos evoluídos?

“Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos”. Paulo, aos Romanos 1,22.

 

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