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As estatísticas são tão claras como a luz vermelha do semáforo em uma noite escura.

Falar ao telefone celular e dirigir ao mesmo tempo o torna 4 vezes mais propenso a sofrer um acidente. Escrever mensagens de texto ao dirigir o torna 23 vezes mais propenso a sofrer um acidente.

Dirigir é basicamente uma tarefa visual; falar e ouvir, não. Podemos conversar com outras pessoas e dirigir sem muito prejuízo de atenção. Mas, já que escrever mensagens de texto é visual, “executar duas tarefas visuais de uma vez, assim como escrever mensagens de texto e dirigir, prejudica seriamente a maneira como você executa cada tarefa”.

Por esta razão o tempo de reação de motoristas distraídos por mensagens de texto sofre uma diminuição de 35% comparado com motoristas atentos, um prejuízo maior do que a intoxicação por álcool e maconha juntos.

Para tornar isso mais concreto, no tempo médio que se leva para enviar uma mensagem de texto (4,6 segundos), a aproximadamente 89 Km/h, dirigimos às cegas o comprimento de um campo de futebol americano. Em seguida, dirigimos inconscientemente sob o efeito do adormecimento pós-texto chamado “cegueira da desatenção”, o que significa que passamos vários segundos olhando pelo pára-brisa antes que nossas mentes finalmente retomem a atenção à estrada.

Escrever no celular ao dirigir é tão estúpido e perigoso, que 46 ​​estados americanos já proibiram isso. Você deduziria que esses fatos desencorajariam as pessoas de tomar essa decisão drasticamente imprudente.

Mas não.

Porque as Leis Não Funcionam

As proibições legais sobre escrever mensagens de texto ao dirigir parecem surtir pouco efeito na prevenção deste hábito perigoso. Na verdade, um estudo da Universidade de Michigan concluiu que as leis contra mandar mensagens de texto ao dirigir podem na verdade estar causando um aumento nos acidentes mais graves ligados a mensagens de texto e direção.

Então por que as leis não funcionam? E por que o número de acidentes mais letais está aumentando?

Em primeiro lugar, os consumidores são alimentados com uma dieta constante de mensagens contraditórias. A Deadly Wandering [Um Passeio Mortal] é um livro recente escrito pelo jornalista Matt Richtel, e é um exame fascinante dos perigos de escrever mensagens de texto ao dirigir. Richtel acompanha um caso de 2006 de um estudante universitário, cujo ato de escrever mensagens de texto ao dirigir levou a uma colisão e à morte de duas pessoas que estavam num carro que vinha em sua direção. Richtel reconta o acidente, acompanha o consequente julgamento, e faz todas as perguntas pertinentes sobre nossas obrigações legais quando se trata de manter nossa concentração intacta em um mundo digital.

No final, pelo menos em parte, Richtel coloca a culpa da condução distraída nos profissionais de marketing de telecomunicação, nos fabricantes de automóveis, e na falta de regulamentações governamentais. Recebemos mensagens contraditórias, diz ele. Nossas operadoras de telefonia móvel dizem, “não escrevam mensagens de texto dirigindo”, e, em seguida, elogiam a capacidade de executar multitarefas digitais 24 horas por dia, 7 dias por semana. Até mesmo uma criança pode entender que a multitarefa com um telefone celular é melhor do que fazer apenas uma coisa (como dirigir um veículo?).

Nossos fabricantes de automóveis dizem, “não dirija e escreva mensagens de texto”, e, em seguida, instalam wi-fi em nossos carros. E nosso governo faz pouco para impedir essas mensagens conflitantes, ele conclui.

Pesquisadores de segurança rodoviária dizem que pode haver uma razão mais simples pela qual as leis não funcionam. Diferente de segurar um telefone ao lado do seu rosto para fazer uma chamada à vista de todos (também perigoso e ilegal em muitos estados), os estados que mais reprimem tornam a prática mais clandestina. Em vez de enviar textos acima do nível do volante, enviamos textos usando o polegar abaixo do campo de visão dos espectadores, que é no nível da janela. Quanto mais as leis reprimem as mensagens de texto, cada vez mais o celular baixa para fora da vista. Quanto mais baixo o celular estiver, mais a nossa atenção é atraída para fora da estrada, exigindo mais tempo para ler e enviar textos, e mais tempo para retomar a atenção na estrada. Assim, quanto mais agressivos nos tornamos para acabar com as mensagens de texto ao dirigir, as mensagens de texto ficam mais escondidas (e perigosas), e resultam em acidentes mais graves.

Portanto, se as leis, multas e ação policial não podem acabar com a prática de enviar mensagens de texto ao dirigir, a solução deve ser pessoal, e temos visto um aumento em campanhas publicitárias gráficas que usam a tema da empatia, para mostrar o quanto os motoristas descuidados que mandam mensagens de texto podem causar danos que mudam vida a outros.

As mentes por trás desses anúncios gráficos sabem que enviar mensagens de texto ao dirigir é em grande parte o resultado de ignorar as pessoas que estão fora do seu carro.

Matthew Crawford, em seu novo livro, The World Beyond Your Head: On Becoming an Individual in an Age of Distraction [O Mundo Além da Sua Cabeça: Sobre Se Tornar Um Indivíduo na Era da Distração], explica o que os engenheiros de tráfego estão começando a aprender: a segurança do motorista aumenta quando sabemos que os outros estão nos observando dirigir, pelo lado de fora. Quanto mais próximo temos que dirigir de uma faixa de ciclovia, ou de um cruzamento de escola, ou de um condomínio de escritórios, mais conscientes ficamos de que os outros estão nos observando dirigir e tomamos mais cuidado. Mas quando essas pistas desaparecem, temos a tendência de pisar fundo, esquecer das pessoas ao nosso redor, e nos fecharmos dentro de nosso próprio mundo egocêntrico.

“As estradas são tacitamente pedagógicas, assim como os carros”, escreve Crawford. “Elas podem promover a prudência — literalmente, olhando em volta para os outros e por sua vez considerando a si mesmo como um objeto a serviço para os outros — ou uma coleção de micro universos individualistas. Neste último caso, tendemos a não nos encontrar com as outras pessoas, a menos que literalmente colidamos com elas” (81).

Crawford está prevendo carros com condução automática sem o uso das mãos, algo que os cristãos terão de pensar a respeito no futuro. Mas, por enquanto, em um carro pilotado por humanos, o ato de enviar mensagens de texto ao dirigir é negligência egoísta em relação aos outros.

Uma Perspectiva Cristã

Então, o que os cristãos têm a oferecer? Como podemos parar o que as leis não conseguem?

Assim como Jesus resumiu de maneira tão útil para nós, Deus nos chamou para fazer duas coisas a cada momento de nosso dia: amar a Deus e amar ao próximo (Mateus 22:37-40).

Este amor de duas vertentes é poderoso quando as leis se mostram impotentes.

Em primeiro lugar, a forma como usamos nossos celulares deve ser dirigida pelo nosso amor por Deus e pelo nosso desejo de obedecê-lo. Temos que estar decididos a parar de viver como agnósticos da tecnologia. Desobedecer boas leis de trânsito destinadas a promover o bem da sociedade não somente é digno de penalidades estatais; é um ato de rebelião contra o próprio Deus (Romanos 13:1-7).

Em segundo lugar, dirigir um veículo é sempre perigoso e coloca outras pessoas em perigo. Nós comandamos um bloco de aço e vidro de aproximadamente 1360 Kg ou um SUV de aproximadamente 2041 Kg), em altas velocidades, com pouca separação, a não ser uma faixa pintada no asfalto. Erros de frações de segundo rapidamente se desenvolvem em enormes problemas, e às vezes tragédias. Simplesmente esquecemos que as ferramentas que usamos em nossas vidas diárias colocam os outros em risco, e um pequeno deslize pode mudar vidas para sempre (Deuteronômio 19:4-10).

Em terceiro lugar, devemos prestar atenção primariamente às pessoas presentes fisicamente ao nosso redor. Quando alguém perguntou a Jesus para definir “próximo”, é alguma surpresa ele ter apontado para uma estrada (Lucas 10:29-37)? Na era digital, a pessoa mais isolada do planeta pode desviar a nossa atenção para longe das necessidades imediatas ao nosso redor. Além de tudo isso, nossos cérebros recebem uma injeção de dopamina com algo tão simples como um zunido ou sinal de alerta em nossos celulares (uma das razões porque notificações do Facebook são mais poderosas para nós do que os sinais de trânsito, como mencionei anteriormente).

Em outras palavras, mensagens de texto ao dirigir é um excelente exemplo (entre muitos) de como a nossa era digital nos impede de enxergar a nossa principal vocação para com os nossos semelhantes no mundo real ao nosso redor. A segurança do nosso semelhante exige toda a nossa atenção. A nossa vocação secundária é para com aqueles que não estão fisicamente próximos. Eles podem esperar até que o motor seja desligado.

Auto-Controle

A verdadeira solução para o problema das mensagens de texto e direção não é repressão externa, mas determinação interior e disciplina pessoal.

Dr. Ray Bingham, professor-pesquisador no Instituto de Pesquisas Rodoviárias na Universidade de Michigan, diz:

Por enquanto há apenas uma resposta certa, e não é 100 por cento solução, mas é muito eficaz. São os bons e velhos auto-controle e auto-regulação. Sim, isso é chato, eu sei. Sem geringonças geniais ou tecnologias revolucionárias. Talvez algum dia existirão veículos totalmente automatizados, e antes disso provavelmente haverá uma tecnologia que possa ajudar os motoristas a evitar a distração, manter-se alerta, e focar sua atenção na tarefa de dirigir. Neste meio tempo, cabe a cada um de nós fazer a nossa parte para promover a segurança no trânsito, evitando distrações enquanto estamos dirigindo.

Isso tudo é muito simples, e muito prático.

Ao dirigir, mantenha seu celular longe da vista. Guarde-o em seu bolso ou bolsa. Coloque-o no banco de trás. Desligue-o quando você dirige. Use outro dispositivo para ouvir sua música. Faça o que for preciso para mostrar amor aos seus semelhantes mais próximos (seus companheiros motoristas e passageiros).

Carros não são espaçonaves individuais. Carros requerem uma percepção aguçada do que está acontecendo em todos os momentos fora do carro. O que precisamos é de um auto-controle centrado no outro e que esteja enraizado em nosso amor por Deus, e, por conseguinte, demonstrado no amor pelo nosso semelhante na estrada.

Enviar mensagens de texto ao dirigir é perigoso, estúpido, e ilegal. Adolescentes fazem isso. Pais fazem isso. Mulheres fazem isso. Homens fazem isso. E é hora de parar.

Os cristãos são convocados a parar de enviar mensagens de texto ao dirigir não só porque é ilegal. Mais importante ainda, enviar mensagens de texto ao dirigir é uma forma de negligência para com nosso próximo, e negligenciar nosso próximo é um pecado contra o nosso Deus que exige medidas intencionais de auto-controle.

Nota: Este artigo foi publicado originalmente em Desiringgod.org.

Traduzido por Claudio L. Chagas.

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