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Este post é dirigido a pregadores e é sobre pregadores. Embora muitas das reflexões possam ser úteis para todos os cristãos, estou escrevendo especificamente com meus colegas pastores em mente.

Vivemos numa época na qual a política está em toda parte, e tudo é sobre política. Por um lado, isto sempre foi verdade. Jesus é o Senhor, César não é Senhor. Esta é uma declaração política. Todo sermão toca na polis, na cidade do homem, na nossa cidadania terrena. Mas não é isto que tenho em mente, pelo menos não inteiramente. O que quero dizer com “política” são as eleições, as autoridades eleitas, os partidos políticos e o fluxo interminável de debates políticos e controvérsias legislativas, econômicas e judiciais que são parte constante de nossas notícias diárias e feed de mídias sociais.

O que um pastor deveria fazer em relação a estas controvérsias e debates? Esta é a minha questão.

Quando pregadores são rapidamente criticados ou por falarem demais (não é centrado no Evangelho!) ou de menos (não está conectado!), cabe a nós pensar cuidadosamente sobre a relação entre o ministério pastoral e a política.

Aqui estão sete considerações.

1. Deixe que a Bíblia defina a agenda para seu ministério semanal no púlpito.

Gosto muito de pregar de um lado ao outro da Bíblia versículo por versículo. Não tenho inteligência suficiente para decidir o que a congregação realmente necessita ouvir esta semana. Portanto, eles ouvirão um sermão sobre João 5.1-18 neste domingo. Por quê? Porque na semana passada ouviram sobre João 4.43-54. E à noite ouvirão sobre Êxodo 24, porque no último domingo ouviram sobre Êxodo 23. Isto significa que nos últimos dois meses preguei sobre o aborto, sobre a justiça social e sobre a escravidão, porque isto é o que está em Êxodo. Desejo que meu povo saiba que, como regra geral, a Bíblia estabelece a agenda, não os meus interesses ou aquilo que considero relevante.

2. O Evangelho é o principal, mas não é a única coisa.

Com certeza, não devemos nunca nos afastar da cruz em nossa pregação. Mas se quisermos ofertar “todo o desígnio de Deus” (At 20.26-27), devemos mostrar como mil outras questões teológicas, filosóficas e éticas estão ligadas a Cristo e a Cristo crucificado. Thabiti está correto: “Um evangelicalismo ‘centrado no Evangelho’ que se torna um evangelicalismo ‘somente evangélico’ deixa de ser apropriadamente evangélico”. A Bíblia é um livro grande. Não diz tudo sobre tudo, e diz nada sobre algumas coisas, mas diz muito sobre mais do que apenas algumas coisas.

3. Há que se distinguir entre a igreja corporativa e o cristão individual.

Necessitamos de crentes em todos os níveis de governo e envolvidos em todo tipo de debate sobre políticas públicas. Mas há uma diferença entre o cidadão cristão informado pela Bíblia e as declarações formais dos pronunciamentos de igrejas e de pronunciamentos dos púlpitos da igreja. No começo do século XX, a maioria dos evangélicos [nos Estados Unidos] apoiava fortemente a 18ª Emenda à Constituição Norte-Americana, a Lei de Volstead e a Proibição de bebidas alcoólicas em geral. Quando J. Gresham Machen tomou a decisão impopular de votar contra a proposta de que sua igreja expressasse apoio à emenda, ele o fez, em parte, porque tal voto teria deixado de reconhecer a diferença entre “a igreja em sua capacidade corporativa das atividades de seus membros, que haviam tomado posição no tocante a tais questões políticas”(Selected Shorter Writings, 394).

4. Reflita sobre a natureza de sua posição e sobre o ministério de sua igreja.

Estudei ciências políticas na faculdade e tenho um conhecimento razoável (para um leigo) de economia, sociologia e filosofia política. Tenho grande quantidade de opiniões e convicções. Mas não quero que meu ministério se centre nisto. Isto não quer dizer que eu não comento sobre o aborto ou sobre o casamento gay ou sobre o racismo ou outras questões sobre as quais a Bíblia fala claramente. No entanto, estou sempre consciente de que não posso separar o Kevin Blogueiro ou o Kevin do Twitter ou o Professor Kevin do Pastor Kevin. Desta maneira, quer eu tenha esta intenção ou não, meus comentários refletem sobre minha igreja,

Isto significa que não compartilho muitas convicções políticas que compartilharia caso não fosse pastor. Não quero que as pessoas concluam baseados em minha presença on-line, que a Igreja Christ Covenant é, na verdade, uma igreja apenas para pessoas que tenham uma visão similar de economia ou do Supremo Tribunal Federal ou de relações exteriores. Isto significa que jamais entro em grandes controvérsias? De jeito nenhum. Mas significa que tento não fazê-lo, a menos que tenha autorização bíblica explícita e direta para a crítica que estou nivelando ou para a posição que estou defendendo. Significa também que tento me lembrar de que mesmo que eu ache que meus tweets e posts são apenas uma pequena fração do que faço ou de quem eu sou, para algumas pessoas eles são quase tudo que veem ou sabem sobre mim. Não posso me dar ao luxo de ter uma persona pública que não reflita minhas prioridades privadas.

5. Considere que a igreja, como igreja, não é capacitada e nem conclamada a tratar de todas as questões importantes na arena pública.

Isso não é um pretexto. É ter senso comum. Presenciei comissões denominacionais conclamarem a igreja a tomarem posições específicas sobre a lei agrícola, refugiados sudaneses, a guerra do Iraque, fundos de aposentadoria socialmente selecionados, política de imigração, aumentos de salário mínimo, o embargo americano de Cuba, o conflito palestino-israelense, a economia global , emissões de gases de efeito estufa, bem-estar social e políticas de tributação. Embora a igreja deva corretamente fazer declarações amplas sobre cuidar dos pobres e oprimidos, e até mesmo denunciar pecados culturais específicos, a igreja não deve especificar quais tipos de rifles os cristãos podem ou não usar (um exemplo real). ou que tipo de filosofia judicial os cristãos deveriam querer em um juiz do Supremo Tribunal Federal (outro exemplo real).

Mais uma vez, a abordagem de Machen é instrutiva. Ele insistiu que ninguém “tem maior horror aos males da embriaguez do que eu” e que “era claramente o dever da igreja combater este mal”. No entanto, quanto à “forma exata” da legislação (se alguma fosse necessária), ele admitia a diferença de opinião. Segundo ele, alguns homens criam que a Lei Volstead não era uma maneira inteligente de lidar com o problema da embriaguez, e que a proibição obrigatória de bebidas alcoólicas causaria mais mal do que bem. Sem afirmar sua própria opinião, Machen argumentou que “aqueles que sustentam a visão que acabei de mencionar têm o perfeito direito à sua opinião, no que diz respeito à lei de nossa igreja, e não devem ser coagidos de qualquer forma pelas autoridades eclesiásticas. A igreja tem o direito de exercer disciplina quando a autoridade para a condenação de um ato pode ser encontrada nas Escrituras, mas não tem esse direito em outros casos ”(394-95).

6. Considere se você tem sido consistente.

Obviamente, há muita discussão atualmente sobre a justiça social e uma série de questões frequentemente associadas à esquerda política. Isto compreensivelmente faz com que as pessoas à direita fiquem um pouco nervosas. A missão evangelística da igreja já foi soterrada antes por uma avalanche de causas humanitárias e movimentos sociais. Ao mesmo tempo, as preocupações da direita se revelam ocas quando pastores que distribuem guias de eleições partidários, que twittam sobre a posse de armas, que cantam o hino nacional na igreja, começam a murmurar sobre a presença de política na igreja quando alguém levanta o assunto de racismo ou de justiça. Tenho certeza de que a mesma coisa acontece em ambas direções: sentimo-nos bem tomando posições políticas até que alguém do outro lado comece a fazê-lo também.

7. Esteja preparado para atirar quando for necessário, mas evite disparos desnecessários.

Há momentos em que uma crise nacional é tão envolvente ou uma questão política tão obviamente perversa (ou justa) que o ministro se sentirá obrigado a dizer algo. Por exemplo, os ataques de 11 de setembro de 2001. Ou quando há tumultos em sua cidade. Ou uma declaração de guerra. Mas estas são exceções que comprovam a regra. Nossos meios de comunicação, para não mencionar as mídias sociais, nos fazem sentir como se cada dia houvesse um colapso global e que cada hora é um momento de crise existencial. Não acredite na propaganda exagerada. Não há uma fórmula exata sobre quando interromper sua série de sermões, sobre quando soltar um blog bombástico, ou quando adicionar eventos atuais em sua oração pastoral. Tais situações requerem sabedoria e não soluções de tamanho único. Mas deixe-me sugerir que, quando se trata de política e políticas públicas, podemos ter uma boa analogia na criação de filhos: gritaria só funciona quando feita com parcimônia.

Traduzido por Thaisa Marques

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