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Barney se esforça para levantar sua cabeça roxa enorme, enfraquecido pela perda gradual de audiência nos últimos anos. Antes uma formidável voz na programação de TV para crianças, agora ele agarra fracamente seus amigos, que estão em silêncio ao lado. Barney consegue pegar um pedaço da nuca de Elmo e chama-o para perto. “Uma coisa que você nunca deve deixar que nenhuma criança esqueça: ‘Você é especial’”. O monstro com voz de falsete coloca uma mão peluda em Barney e se vira para olhar os outros. Todos sabiam que uma mensagem muito importante tinha sido confiada a eles. De todas as lições morais em programação de TV para crianças, essa seria fundamental.

Se você observar, sempre que as crianças se afastam de resoluções de problemas bobos ou situacionais e de admoestação moral, geralmente se trata deste mesmo tema: a importância de uma auto-imagem positiva e a confiança que deve resultar dessa. É dessa forma que educadores da TV nos treinam a pensar positivamente sobre tudo, desde a cor do cabelo até o nosso conjunto particular de interesses, como, por exemplo, maneiras de nos inflarmos com confiança para viver.

Não estou defendendo uma autoimagem baixa, claro. Estou simplesmente apontando que a insegurança parece ser a única coisa apropriada para uma correção pública. Na verdade, poderíamos dizer que, no universo moral da programação infantil, a insegurança é o pecado principal. Por quê?

Antes de tentar responder a essa pergunta, deixe-me apresentar uma outra: Eu acredito que Deus chama a insegurança de pecado também. Mas por quê?

A resposta ao primeiro ‘por que’ e ao segundo não poderiam ser mais diferentes. Nossos instrutores culturais desaprovam nossa insegurança porque ela é uma ofensa à dignidade individual. Deus desaprova nossa insegurança porque é uma ofensa à dignidade do seu Filho. O problema de Deus com a insegurança vale a pena ser ponderado.

Insegurança e Confiança na Carne

Pode ser contraintuitivo, mas, de acordo com a Bíblia, insegurança é o que Paulo chama de “confiança na carne”. Mas como será que faz sentido que a insegurança e a confiança estejam relacionadas? Toda moeda tem dois lados. No lado superior, a confiança na carne é a autoconfiança, que vem por meio da posse daqueles atributos que supostamente determinam merecimento. Entretanto, o lado inferior da moeda é tão perigoso quanto o primeiro: se trata da insegurança que vem de não possuir esses atributos. Em ambos os casos, nós colocamos nossa confiança em atributos pessoais que pensamos trazer vida.

No contexto religioso e cultural do apóstolo Paulo, ele possuía todas as características premiadas que o fez ser digno de confiança diante Deus e diante dos outros. Você e eu provavelmente nunca conhecemos alguém que desejaria ser conhecido publicamente como um fariseu ou que gostaria de ter sido circuncidado ao oitavo dia. Em nossa cultura, essas não são coisas particularmente louváveis. Mas todos nós sabemos as coisas que são. E, de maneira mais pungente ainda, todos nós sentimos o desespero de não tê-las.

Para alguns de nós, esse é a estática que interfere em nosso pensamento habitual, mas precisamos perceber que a razão principal da insegurança ser um problema não é porque ela nos faz infeliz, como nossos vários amigos fantoches salientariam. A insegurança é pecaminosa por razões mais graves do que essa. Aqui estão, pelo menos, quatro delas:

1. Distração Com Nós Mesmos

A insegurança atrapalha a nossa capacidade de fazer aquilo que Deus nos criou para fazer: amá-lo e amar os outros. Quantas vezes você já esteve em uma situação em que deveria ter oferecido cuidado a alguém ou se aproximado de Deus em particular na oração, mas sua mente estava viajando sobre quão estranho você parecia em suas calças naquela manhã ou sobre quão mais inteligente era a pessoa com quem você estava falando? Ser autoconsciente é estar consciente de si mesmo. Nós não amamos os outros quando estamos obcecados com nós mesmos; não somos humildes quando os contamos como mais significativos e mais dignos (Fp 2:3).

2. A Insatisfação com Deus

A insegurança muitas vezes é nada mais do que resmungos por um maná melhor. Estamos cansados de ter uma alimentação adequada; queremos um sabor extraordinário. Nós não gostamos do que Deus nos deu — dinheiro, posição, aparência e personalidade — e resmungamos por algo melhor. Esse descontentamento é uma armadilha de “muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição” (1 Tm 6:9). Nossa insatisfação pessoal muitas vezes é nada mais do que nossa insatisfação com Deus. A razão principal da insegurança ser um pecado não é porque ela é um insulto ao nosso valor (embora seja), mas porque é um insulto à sabedoria de Deus.

3. Justificação de Outros

A insegurança revela que ansiamos por justificação diante de pessoas mais do que diante de Deus. Ele não se importa se o tamanho da sua calça é grande ou pequeno, ou se você aluga ou é dono da sua casa. Nós sabemos disso, claro. Mas nós ainda assim nos importamos… porque os outros ainda se importam. Preocupamo-nos mais com os atributos que pensamos fazer-nos dignos antes as pessoas do que com o que nos faz dignos antes do Todo-Poderoso. A justiça é o que agrada ao Senhor. Mas nós preferiríamos ter uma reputação invejável. Quando nossas mentes estão ansiando por mais atenção no Facebook ou por uma carreira melhor como forma de aumentar nossa dignidade, nós abandonamos a justiça de Cristo que realmente faz-nos dignos (Rm 1:16-17)

4. Justificação Pelas Obras

A insegurança mostra que ainda estamos de alguma maneira acreditando que nossa justificação é baseada em nossos próprios atributos e realizações. A maioria de nós não é tentada a pensar em nós mesmos como dignos porque somos da tribo de Benjamin, mas talvez desejemos que tivéssemos pelo menos uma igreja maior, crianças mais impressionantes ou um outro título antes do nosso nome. Mas encontrar confiança nessas coisas é um rival direto de encontrar confiança em Cristo.

E esta é a sanidade que o apóstolo Paulo traz para nós em nossa insegurança: “Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor” (Fp 3:7-8a). Paulo não diria a nós em nossas inseguranças implacáveis “Eu sei que você não se sente digno, mas você é. Deus fez você especial”. Se ser especial fosse a solução, nossa vida seria um ciclo interminável de dietas radicais e de procura por emprego. Mas essas são apenas nossas tentativas patéticas de virar a mesma moeda corroída para o lado de cima. Isso ainda seria confiança na carne.

Paulo diz a nós para paramos de encontrar nosso valor em outra coisa que não seja em Cristo e em sua obra redentora feita por nós. Mergulharmos internamente numa nova rodada de auto-escárnio não pode ser comparado a nos abandonarmos para servir os outros. O enfado dos resmungos contínuos não pode ser comparado ao ganho de contentamento piedoso. A admiração inconstante de pessoas não pode ser comparada à calorosa aprovação do Todo-Poderoso. A confiança vacilante que mantemos em nós mesmos não pode ser comparada ao valor muito mais elevado da confiança em Cristo.

Se Paulo tivesse uma mensagem de despedida, ela certamente não seria que você é especial. Seria que você é justo em Cristo e que a prova culminante disso espera por você na linha de chegada, então fique firme na fé (2 Tm 4:6-8). Nós não devemos estar tão preocupados em sermos especial a ponto de deixarmos de ser encontrados em Cristo.

Traduzido por Rebeca Romero.

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