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O Credo dos Apóstolos: Origens Humildes e a Regra da Fé

O Credo dos Apóstolos é uma confissão sucinta de doutrinas cristãs vitais que é usado liturgicamente em toda a igreja ocidental. Originalmente, pensava-se que o Credo teve origem com os apóstolos por volta do dia de Pentecostes, mas hoje a maioria dos historiadores rejeita essa visão, vendo o Credo como contendo a fé apostólica, embora não tendo sido escrito pelos próprios apóstolos.

O Pano de Fundo do Credo dos Apóstolos

Qual foi a origem do Credo? Primeiro, é importante reconhecer que as formulações de credos são comuns nas Sagradas Escrituras. O shema hebraico de Deuteronômio 6.4 é em si um tipo de declaração confessional usada diariamente pelos hebreus piedosos. A linguagem de 1Co 15 é credal, onde Paulo menciona a transmissão da mensagem do evangelho que recebeu e transmitiu aos Coríntios. Sob a antiga aliança, resumos sucintos de fé eram usados devocional e liturgicamente e mais tarde também entre os apóstolos. Portanto, faz sentido que a igreja tenha adotado este costume.

No período pós-apostólico, a necessidade de articulações claras e concisas da fé deveu-se em parte ao rápido crescimento da igreja ao longo dos primeiros séculos de sua existência. Acredita-se que o Credo Apostólico evoluiu como uma espécie de confissão batismal. Os artigos do Credo eram os princípios elementares da fé que os catecúmenos—pense na classe de novos membros daquele tempo—eram instruídos antes do batismo. Depois de um período de aprendizado, eles confessavam o Credo e depois recebiam o sacramento. As doutrinas fundamentais ensinadas aos novos convertidos centravam-se em Cristo, no arrependimento, na fé em Deus, na instrução sobre a prática de lavar os pés uns dos outros, a imposição de mãos, a ressurreição do corpo e a vida eterna.

Será que este Credo antigo realmente contém os “ABCs” apostólicos, que os primeiros cristãos ensinavam aos principiantes? Sim! Considere o que o autor dos hebreus escreveu:

Por isso, pondo de parte os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para o que é perfeito, não lançando, de novo, a base do arrependimento de obras mortas e da fé em Deus, o ensino de batismos e da imposição de mãos, da ressurreição dos mortos e do juízo eterno. (Hb. 6.1-2)

Desde pelo menos a época em que a carta aos Hebreus foi escrita, as doutrinas fundamentais ensinadas aos recém-convertidos centravam-se em Cristo, no arrependimento, na fé em Deus, nas instruções sobre lavagem dos pés uns dos outros (possivelmente uma alusão à teologia sacramental?), na imposição de mãos (ordenação e eclesiologia?), na ressurreição do corpo e na vida eterna. Estes ensinamentos fundamentais (todos presentes no Credo dos Apóstolos) compunham aquilo que os Pais da Igreja chamavam de “regula fidei” ou Regra de Fé. Homens como Irineu e Tertuliano criam que esta regra teria vindo dos apóstolos, e que eles estavam passando o bastão para as gerações subsequentes. O santo depósito de “Pai, Filho, e Espírito Santo; a vida, morte, e ressurreição de Jesus Cristo” foi lapidado em credos tais como o Credo dos Apóstolos, entre os séculos IV e VI, embora se possa traçar cada artigo do Credo a ensinamentos anteriores das Escrituras.

Os Artigos do Credo dos Apóstolos

O Credo apresenta doze artigos de fé (houve época em que acreditava-se que cada apóstolo havia contribuído com um artigo), e há três seções principais no Credo. A primeira seção começa com Deus, o Pai, e a obra da criação; a segunda com Jesus Cristo e a obra de redenção; e a terceira com o Espírito Santo e a obra de santificação.

Creio em Deus Pai, Todo-poderoso,
Criador do céu e da terra.

Em toda a história da igreja, os comentaristas do Credo começam por definir o que significa crer. A crença inclui o consentimento (ou seja, concordar ou aprovar), mas não se esgota nisso. O Credo não é simplesmente um conjunto de proposições às quais dizemos “amém”, mas a fé que uma vez por todas foi entregue aos santos, através da qual vivenciamos a comunhão com Deus e uns com os outros. Para explicar o que significa crer, o teólogo do século XVI Caspar Olevian escreveu: “A fé é reconhecer e descansar na vontade imutável de Deus, a saber; que Ele graciosamente nos dará a salvação prometida pelos profetas e apresentada na realidade por meio de Cristo, como testemunham os Artigos de Fé.” A crença bíblica se apodera do conteúdo da fé e o torna próprio. Crer inclui consentimento (ou seja, concordar ou aprovar), mas não se esgota nele.

No Credo, o primeiro objeto de nossa fé é Deus, o Pai Todo-Poderoso. Ele é Pai em dois sentidos. Primeiro, por sua relação pessoal com o Verbo, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Pelo fato de o Verbo ter sido gerado eternamente, o Pai é sempre Pai. Segundo, quanto à nossa adoção por meio de Cristo, ele é o Pai de todos os que creem. Cristo, que é por natureza o Filho do Pai, nos faz filhos e filhas pela graça (Jo 20.17; Gl 4.4-5; Ef 1.5).

A ênfase na majestade criativa de Deus ecoa as primeiras linhas de Gênesis, “No princípio criou Deus os céus e a terra”. Confessamos Deus como Rei Cósmico sem rival que criou tudo do nada. Isto é sugerido pela identificação de Deus como todo-poderoso. Santo Agostinho observou que a criação do mundo “ex nihilo” (do nada) nos revela a absoluta independência de Deus. “Por admitir que ele é todo-poderoso, não pode existir nada do qual ele não deva ser o Criador.”

Incluído nessa identificação de Deus como Criador também está seu governo providencial sobre a criação. O Único Deus e Pai que fez todas as coisas, também está intimamente envolvido com o mundo que ele criou, até com as ocorrências aparentemente insignificantes da vida (Pr 16.33; Mt 10.29). Esta primeira seção é um conforto para a igreja na medida em que nos apresenta ao Deus que não só governa sobre tudo, mas também cuida de sua criação.

Creio em Jesus Cristo, seu Filho unigênito, nosso Senhor,
o qual foi concebido pelo Espírito Santo
nasceu da virgem Maria,
padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado;
desceu ao Hades;
ressuscitou no terceiro dia,
subiu ao Céu,
e está sentado à direita de Deus Pai, todo-poderoso,
de onde virá para julgar os vivos e os mortos.

Traduzido por Vittor Rocha.

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