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O Calvinismo e a Plantação de Igreja São Velhos Amigos

Nossas estantes estāo repletas de livros sobre o Calvinismo. Muitos de nós, pastores, sabemos da importância de conectar as doutrinas da graça com a nossa pregação, aconselhamento e discipulado. Mas o alcance destas doutrinas deve ir além dos limites de nossos estudos.

O calvinismo tem por objetivo algo além de uma teologia arrebatadora; tem por objetivo nossa missāo.

Talvez você esteja de acordo com isto, possivelmente até com entusiasmo. Mas você já considerou como o calvinismo — o verdadeiro calvinismo e não as caricaturas ou falsificações — pode capacitar e sustentar a plantação de igrejas?

Onde Ele se Conecta

Reunir um bom núcleo de equipe não é fácil. Mudar-se com sua família para o outro lado do planeta pode causar muita apreensão. O baixo número de congregantes, o batistério vazio e a perseguição, branda ou intensa, podem fazer com que até os mais fortes entre nós vacilem. Como faremos isso? É aí que o calvinismo se conecta.

A soberania de Deus na salvação maximiza nossa missão. Quando sabemos que Deus é a única força irrefreável e infalível no universo — e que estamos em missão com ele — então, nossos corações e olhos se abrem para os perdidos. Longe de prejudicar nossos esforços e persistência, as doutrinas da graça nos estimulam e nos fazem relembrar a razāo de plantarmos igrejas: porque Deus salva os pecadores. Ou, como Jonas simplesmente diz: “Ao SENHOR pertence a salvação!” (Jn 2.9).

TULIP e o Plantio de Igrejas

A conhecida abreviaçāo para o calvinismo, TULIP *, representa mais do que um mero sumário da visão reformada sobre a salvação. Ela fundamenta a teologia dos plantadores de igreja, estimulando seu envio e fortalecendo sua missiologia.

A Depravação Total (T), a absoluta pecaminosidade da humanidade, nos faz recordar que ninguém pode melhorar a sim mesmo até obter a salvação. Seja nas cidades, nas áreas rurais ou nos subúrbios, todos necessitam ouvir e aceitar o evangelho. Lidar com mortos espiritualmente e depravados será confuso. Felizmente, nosso Salvador se destaca nesta área. E a plantação de igrejas dispersa as igrejas locais a fim de levar esta mensagem ao redor do mundo.

A Eleição Incondicional (U) e a Expiação Limitada/Definida (L) nos ensinam que Deus vai salvar pessoas de cada tribo, nação e língua por causa da cruz e do túmulo vazio (Ap 5.9). A oferta e a demanda por igrejas não acabarão até que o Filho retorne. Jesus tem ovelhas em todas as partes deste mundo. Nossa tarefa? Tocar a trombeta. Falar sobre o bom pastor a elas. Seja na cafeteria, na sala de aconselhamento ou em um abrigo na Tailândia, necessitamos proclamar a grandeza de Jesus. Suas ovelhas ouvirão Sua voz através de sua voz (Jo 10.27).

A Graça Irresistível (I) retira um peso das nossas costas. Deus fará que os espiritualmente mortos fiquem vivos em Cristo. O sucesso do nosso ministério não depende de nós — não depende de nossos sermões, estratégias ou cultos maneiros. Deus — e somente Deus — salva. Embora esta perspectiva alivie a carga, ela também nos impulsiona para frente. Podemos plantar igrejas com humildade e confiança, proclamar o evangelho e fazer discípulos que farão discípulos, porque Deus fará o que prometeu. A plantação de igrejas é como estufas de discipulado e vida com Jesus. Plante. Águe. Então confie em Deus para dar o crescimento (1Co 3.5-7).

A Perseverança dos Santos (P) faz tremular a bandeira da confiança em Deus que vamos chegar até o fim. Mas essa persistência não ocorre de modo isolado. A doutrina é plural: perseverança dos santos. A perseverança ocorre através da ekklesia — a assembléia dos “chamados para fora”. A perseverança dos santos é uma perseverança com os santos, o que significa que a igreja local é uma parte crucial de nossa persistência até o fim (Hb 10.24-25).

Há muitos calvinistas que só querem sentar e debater os pontos mais refinados da teologia reformada, ou criticar os não-calvinistas nas seções de comentários da internet. Mas o calvinismo verdadeiro está demasiado ocupado para estas bobagens. Se o nosso calvinismo não nos afasta de debates desnecessários para declarar a graça de Deus aos perdidos, então, na melhor das hipóteses tal calvinismo não serve e, na pior, ele é repugnante e perigoso.

O calvinismo real é o calvinismo missional. Sempre foi assim. O calvinismo da velha escola — visto em santos como João Calvino e Charles Spurgeon — entendia a importância de divulgar as boas novas do Senhor Jesus ressurreto.

Calvino, Incentivador da Plantação de Igrejas

Calvino não trancou a porta do seu escritório e se escondeu atrás de uma montanha de livros. Ele era um pastor cujo coração pulsava como um catalisador de plantação de igrejas. O ministério de Calvino se estendeu além de seus escritos, sermões e comentários. Enquanto pastoreava em Genebra, Calvino treinou pastores — equipando, mobilizando recursos e enviando-os para plantar igrejas. Como observou John Starke:

Até 1555, Calvino e seus apoiadores em Genebra, já haviam plantado cinco igrejas na França. Quatro anos depois, eles já tinham plantado 100 igrejas na França. Chegando a 1562, a Genebra de Calvino, com a ajuda de algumas de suas cidades próximas, haviam plantado mais de 2000 igrejas na França. Calvino foi o principal plantador de igrejas na Europa. Ele mostrou o caminho em todas as frentes: ele treinou, avaliou, enviou, aconselhou, correspondeu-se e orou pelos missionários e plantadores de igrejas que enviou.

Os calvinistas verdadeiros não atrapalham a plantação de igrejas. Eles a impulsionam.

Spurgeon, Catalisador da Plantação de Igrejas

Podemos pensar que locais de treinamento para plantação de igrejas são algo novo e útil que inventamos. Errado. Spurgeon já fazia isso há muito tempo em sua Faculdade para Pastores na Inglaterra. Ele não era apenas um pregador poderoso; ele dirigiu um programa que enviava homens para plantar e revitalizar igrejas em vários países.

O estudioso sobre Spurgeon, Tom Nettles, escreveu: “Spurgeon encorajou seus alunos a se tornarem plantadores de igrejas através do evangelismo em lugares difíceis com o uso de meios incisivos e criativos” (325). O próprio Spurgeon, na revista que fundou, escreveu: “Nosso desejo é ver a Faculdade se tornar cada vez mais uma Missão para os lugares distantes, tanto em casa quanto no exterior, e pode ser, em resposta à oração, que o Senhor fará assim ”(293). O Senhor realmente fez assim.

Nettles observa que os homens da Faculdade de Pastores de Spurgeon plantaram igrejas na Inglaterra, Espanha, Norte e Sul da África, Nova Zelândia, Austrália, Jamaica, Ilhas Turcas, República Dominicana, Haiti, América do Sul, Índia, Canadá e Estados Unidos. No relatório de 1891–1892 da Faculdade de Pastores, quase 900 homens haviam sido treinados na Faculdade de Spurgeon. E contando a partir de 1865, quase 30 anos antes, por volta de 100.000 pessoas haviam sido batizadas pelos plantadores de Spurgeon.

Amigos de Longa Data

O calvinismo e a plantação de igrejas são amigos de longa data. Calvino, Spurgeon e nos dias atuais, Atos 29 (www.atos29brasil.com) — que tem 740 igrejas na Austrália, Burkina Faso, Chile, República Democrática do Congo, Índia, Japão, Quênia, Líbano, Maláui, Moçambique, Paquistão, Romênia, Eslováquia, Turquia, Emirados Árabes Unidos, Uganda e outros — demonstram que os calvinistas levam a plantação de igrejas a sério.

O poder da graça de Deus é bom demais, glorioso demais e brilhante demais para ficar escondido entre nós. Devemos deixar que brilhe além das nossas estantes e que extravase em nossa missão.

* N.T. – A abreviaçāo TULIP é baseada nas iniciais dos conceitos em inglês.

Traduzido por Marcos David Muhlpointner

 

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