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“Nem sempre as coisas ficam melhores”.

“Às vezes as coisas não melhoram”.

“Não estamos vivendo a melhor fase de nossa melhor vida agora”.

É difícil dizer tais frases, pois estamos acostumados a uma abordagem positiva da vida. Não é de admirar por quê — estamos vivendo em uma época em que muita coisa dá certo. Desfrutamos de ótimos cuidados de saúde. O mundo no momento não está envolvido em uma guerra global. Desde a Revolução Industrial, a expectativa de vida dobrou em muitos países.

Mas mesmo com tais desenvolvimentos genuinamente positivos, não descobrimos uma maneira de acabar com o sofrimento. A morte paira sobre todos nós, por mais que tentemos acabar com seu reinado. O mesmo é verdade em relação às doenças, aos desafios financeiros e às provações do envelhecimento. Apesar de muito pensamento positivo à nossa volta, há ainda muitas dificuldades e dor.

Lidando com as Limitações

Como seres humanos, tudo isto acima é verdadeiro para cada um de nós. Mas como pai, sinto estas coisas agudamente também. Neste sentido, não sou diferente de um homem que escreveu para sua filha há mais de 260 anos. Jonathan Edwards estava preocupado com Esther, sua filha, uma jovem mãe que estava vivendo longe de sua família paterna e que ficou muito doente em 1753. Seu famoso pai escreveu para incentivá-la:

Embora você esteja longe de nós, ainda assim você não está fora de nossos pensamentos: estou muito preocupado com você, frequentemente penso em você e frequentemente oro por você. Embora você esteja a uma distância tão grande de nós e de todos os seus parentes, ainda assim isto é um consolo para nós, que o mesmo Deus que está aqui também está em Onohquaga; e que, embora você esteja fora de nossa vista e fora de nosso alcance, você está sempre nas mãos de Deus, que é infinitamente gracioso; e podemos ir até Ele e entregar você ao cuidado e à misericórdia de Deus.

Que carta surpreendente. Jonathan Edwards tinha uma visão elevada de Deus. Ele é o homem que literalmente escreveu uma “dissertação” mapeando “o fim para o qual Deus criou o mundo.” Além de sua eminente teologia, Edwards era um homem de ação. Ele não apenas orava por um avivamento; mas pregava para isso, recusando-se a aceitar derrota espiritual. A história da vida de Jonathan Edwards é um turbilhão incessante de ministério, disciplina e comprometimento. Ele não foi um homem perfeito, mas, com certeza, foi um homem ativo.

No entanto, vemos nesta carta comovente de pai para filha que Edwards conhecia as limitações que tinha. Ele estava “muito preocupado” por Esther, pois ela estava fora de sua “vista” e fora de seu “alcance”. Em termos humanos, não havia nada que ele pudesse fazer para ajudá-la. Embora orasse muito, ele era impotente. A verdade é que Esther tinha menos de cinco anos de vida e Jonathan também. Edwards já sabia pelo que iria passar em breve: ele não poderia levar consigo sua filha para a eternidade. Ele não iria poder pastorear qualquer de seus familiares do outro lado do rio Jordão.

Tal obra estava fora de seu alcance.

Exatamente Onde Ele nos Quer

Quer queiramos admitir ou não, estamos todos na mesma situação de Esther. Não há pílula que possa curar nossa condição terminal e nenhum pai ou mãe pode garantir nosso bem-estar. Embora isto pareça de mau presságio, na verdade estamos exatamente onde Deus quer que estejamos. Tal como Ester, nós que estamos em Cristo estamos “sempre nas mãos de Deus”. Ninguém pode nos arrebatar do Pai (João 10.28). Nada pode nos acontecer que vá descarrilhar a vontade de Deus para nossas vidas (Rm 8.31–39). A vida é incerta e não sabemos quanto tempo temos na terra (Tiago 4.13–17). Contudo, embora não seja possível ter menos certeza sobre nosso futuro terreno, não é possível termos maior certeza sobre nosso lar celestial (1 João 5.13–15).

Como isto é encorajador a todos nós. O pai ou mãe que se sente tão cansado nesta vida vai desfrutar de descanso total na era que o espera. A criança que luta contra a solidão se levantará para se unir à sua verdadeira família, a família de Deus, na eternidade vindoura. O pastor que luta para pastorear um rebanho indisciplinado entrará em um reino aperfeiçoado onde não há hostilidade de nenhum tipo. Em Adão, as coisas não melhoram. Mas em Cristo, o futuro é incrivelmente brilhante.

Tal esperança é tudo menos vaga e geral. É específica e pessoal. É cosmológica e cristológica. Temos um lar duradouro, os novos céus e nova terra, uma obra de nova criação já iniciada em Cristo (Hb 12.18–29). Há uma corrente, uma escada invencível, da providência divina que se estende desde o começo da história até o fim, e ninguém pode nos derrubar dela. Nossa salvação começou na vontade do Pai, foi assegurada pela morte do Filho e apegou-se a nós por meio da presença interior do Espírito (Ef 1.15–20). Aquilo que emerge da presciência, da predestinação e da eleição divinas concluirá em triunfo, louvor e exaltação futuros. Pode-se dizer assim: no Filho de Deus crucificado e ressuscitado, a esperança está tão fundamentada que quase não é mais esperança.

Em Mãos Seguras

Tudo isto é pelo fato de que o cristão nunca está perdido. Jamais somos abandonados. Somos sempre de Deus e Deus é sempre nosso. A obra de Cristo não está incompleta; está consumada (João 19.30). Não poderia estar mais realizada do que está. Quão animador isso é para nós quando enfrentamos a morte! Em breve, vamos atravessar o rio Jordão, tal como Jonathan e Esther Edwards o fizeram antes de nós. Estamos agora nas margens tempestuosas do rio, mas vemos o outro lado.

Até irmos para lá, enfrentaremos grandes tribulações e desafios consideráveis. Pode ser que as coisas não melhorem em termos terrestres. As dificuldades poderão nos atormentar. Mas não desanimamos. Chegaremos à Nova Canaã. Deus não nos abandonará. Esta é a nossa esperança, a esperança baseada no plano eterno e na obra consumada de Cristo: aconteça o que acontecer, estaremos sempre nas mãos de Deus.

Traduzido por Raul Flores.

Nota dos editores: Este material é adaptado de Always in God’s Hands: Day by Day in the Company of Jonathan Edwards [Sempre Nas Mãos de Deus: Dia a Dia na Companhia de Jonathan Edwards], de autoria de Owen Strachan.

 

 

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