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Recentemente, tenho sentido um peso no coração por um grupo de pessoas não alcançadas no Oriente Médio. Portanto, fui e as visitei. Parecia que Deus tinha alinhado uma necessidade naquele lugar com meus dons ministeriais. Minha esposa disse que seu coração ardia para ir. Meus familiares me deram sinal positivo. Havia apoio financeiro. Ao orarmos, nosso desejo de ir apenas aumentava.

Ao seus postos. Preparar. Vá. Certo? Tínhamos o desejo, a preparaçāo, os meios, o apoio e o senso de chamado da parte de Deus. Bastava escolher uma organização missionária e ir?

Não.

De jeito nenhum. Não sem o apoio de uma igreja local saudável.

O Maior Problema com Missões

As missões modernas enfrentam muitos desafios espinhosos: a contextualização, a questão de quanto envolver pessoas locais e de quanta autonomia devem ter, entre outras questões culturais. No entanto, em nosso mundo globalizado, com tantas pessoas desenvolvendo grandes projetos relacionados a questões culturais, parece haver um outro problema crescente: a falta de compreensão sobre a natureza da igreja e seu papel nas missões.

Este é o maior desafio para as missões modernas, e ele levanta várias outras questões. Gostaria de me concentrar aqui em uma pequena mas significativa porção deste desafio: fazer uma parceria com uma igreja saudável para enviar missionários para o campo.

Mas primeiro, deixe-me lhe contar uma história.

“Batizei-me a Mim Mesmo!”

Fui pastor universitário da InterVarsity Christian Fellowship nos Estados Unidos por décadas. Um dos prazeres de trabalhar naquele ministério era um acampamento anual de uma semana na praia, no final do ano letivo. Certo ano, em um dos nossos horários de compartilhamento noturno, um aluno disse: “Eu estava me divertindo muito na praia lendo o livro de Atos — o qual, a propósito, nunca havia lido antes — e cheguei àquela parte sobre Felipe e o cara da Etiópia”.

Nesse momento, os funcionários da equipe se entreolharam com uma expressão perplexa.

“E comecei a pensar”, continuou o teólogo iniciante, “que nunca tinha sido batizado. E o oceano todo estava à minha frente e pensei: por que não? Então eu pulei, orei e caí de costas na água. Batizei!-me a mim mesmo”

Sim, o aluno “se batizou” a si mesmo.

Agora, não vou descrever todas as razões pelas quais os cristãos não deveriam fazer isto. Praticamente nenhuma organização cristã, seja ela histórica ou contemporânea, pratica ou praticou o auto-batismo. A maioria dos cristãos entende corretamente que o batismo significa ser incorporado a Cristo e a seu corpo visível, a igreja. Como tal, é a porta de entrada para a comunidade de crentes.

Batizar-se a si mesmo é uma coisa tola. Ir às nações sem o apoio de uma igreja local é como batizar-se a si mesmo. Ser um missionário solitário autoproclamado é tão ridículo e arrogante quanto batizar-se a si mesmo.

A Igreja Envia

Desde que a igreja começou a organizar viagens missionárias em Atos 13, as missões se referem à igreja — e não a um indivíduo ou até mesmo uma organização para-eclesiástica — enviando obreiros para pregar o evangelho e estabelecer novas igrejas.

No entanto, encontro com regularidade surpreendente alguém que se denomina um missionário autoproclamado, com pouco ou nenhum endosso ou apoio de uma igreja local. Ironicamente, esse tipo de pessoa frequentemente me diz que está fazendo um trabalho de “PI” (isto é, plantação de igrejas). Eles não devem saber que a igreja de Antioquia — a primeira a praticar missões organizadas do Novo Testamento — é o nosso modelo para missões hoje.

Barnabé, enviado pela igreja de Jerusalém, foi para Antioquia. Quando ficou claro que Deus estava atraindo a muitos para si, Barnabé recrutou a Paulo para se juntar a ele no trabalho (Atos 11.22ss). Barnabé e Paulo pastorearam a igreja de Antioquia junto com outros crentes fiéis (Atos 13.1). Depois de algum tempo o Senhor falou à igreja — à igreja! — para separar a Paulo e Barnabé para o trabalho para o qual Deus os estava chamando. Nos referimos àquele evento hoje em dia como a primeira viagem missionária (Atos 13.2-3). E aqui está a surpresa: a igreja fez aquilo.

A igreja em Antioquia não enviou os mais jovens (e, portanto, os mais baratos para sustentar), os menos experientes no ministério, os mais desajeitados, ou aqueles de quem eles queriam se livrar. Eles enviaram a Paulo e Barnabé! Eles enviaram o seu melhor, os dois homens que eram, sem dúvida, os líderes mais fortes da congregação. Você consegue imaginar como foi perder Barnabé e Paulo do culto semanal?

Necessitamos desesperadamente de uma aplicação rigorosa de Atos 13 nos dias de hoje. Não se trata de igrejas estarem dispostas a assentir sobre a ida de alguém e talvez enviar um cheque. Trata-se de igrejas enviarem parceiros biblicamente qualificados e cuidadosamente examinados para a obra. As igrejas deveriam enviar aqueles a quem eles estariam dispostos a contratar como funcionários, aqueles que iria doer um pouco perder para a obra no exterior.

Não Vá Até Que Seja Enviado

Uma igreja não deve enviar membros apenas qualificados para o liderança, mas também aqueles que são verdadeiramente submissos à igreja.

Quando me encontrei com os presbíteros da minha igreja atual para compartilhar o que senti que Deus havia colocado no meu coração, eu lhes disse que não queria fazer o que eu tinha visto tantos outros fazerem no passado.

Eu lhes disse que eu tinha sido presbítero e sabia como é um crente simplesmente me informar sobre seu chamado missionário sem nunca se aproximar dos líderes para orientação. Eu não estava vindo a eles esperando um comissionamento automático com apoio financeiro total. Queria que meus presbíteros soubessem que eu me submeteria à liderança deles.

Certo, por honestidade e para contar a história toda, houve um tempo em que eu era aquele jovem crente que esperava o apoio e a bênção para “meu ministério”. Mas agora, mais velho e mais sábio, eu lhes disse que jamais iria se eles dissessem que não.

Os presbíteros fizeram boas perguntas. Houve uma discussão animada, inclusive sobre a minha submissão à liderança deles. Um deles me perguntou: “Mack, é difícil de acreditar que se a nossa decisão for ‘não’, que você realmente não iria”. Bem, ele é advogado, logo, interrogatório é sua especialidade. Mas havia clareza em meu coraçāo: cheguei a um ponto onde nunca mais irei em missões sem a sabedoria coletiva dos meus presbíteros em uma igreja saudável.

Em parte, isso é porque observei o que acontece quando missionários não enviados “se enviam”. Plantam igrejas doentes no exterior — isto se as plantarem. É o cúmulo da ironia que missionários que trabalham tanto na sensibilidade cultural exportem a pior parte do individualismo ocidental na forma como mostram a sua falta de compromisso com a igreja local.

Portanto não se batize a si mesmo. E se estiver determinado a fazer a obra missionária, não vá até que tenha se submetido a uma igreja local saudável e for enviado por ela.

 

Traduzido por David Bello

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