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O grupo a cappella Pentatonix gravou o clássico sucesso de John Lennon, “Imagine”.

Imagine que não há paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós
Acima de nós, somente os céus
Imagine todas as pessoas vivendo pelo hoje

Imagine que não haja países
Não é difícil de fazer
Nada pelo que matar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz

E assim por diante.

É uma escolha fácil. O apelo visceral da música tem perdurado, e o Pentatonix a atualizou com harmonias exuberantes e uma narrativa visual convincente em torno de questões de identidade atuais. Mas como podemos avaliar a validade dessa premissa central, após tantos anos?

Quando Lennon lançou “Imagine” em 1971, sua visão de um mundo livre de religião era menos um sonho e mais um crescente consenso. Com certeza, os regimes ateístas da época estavam longe de “viver a vida em paz”, mas os sociólogos achavam fácil “imaginar nenhuma religião” em um mundo que se modernizava rapidamente. A lógica era simples; na Europa Ocidental, a modernização havia levado à secularização. Esta trajetória continuaria, e para onde a Europa liderasse, o resto do mundo seguiria.

Havia apenas um problema com essa “hipótese de secularização”.

Estava errada.

Hipótese Fracassada

Longe de inaugurar um mundo livre de religião, o início do século 21 testemunhou o que Peter Berger, um dos líderes da sociologia da religião (1929-2017) chamou de “falsificação empírica” ​​da hipótese de secularização. Na Europa Ocidental e na América do Norte, a proporção de pessoas que se identificam como religiosas realmente encolheu e parece que encolherá ainda mais. Mas em nível global, não só a religião não declinou tal como profetizado, mas as projeções sociológicas realmente revelam uma imagem de um mundo cada vez mais religioso.

As últimas projeções sociológicas sugerem que, até 2060, o cristianismo ainda será o maior sistema de crença global, aumentando ligeiramente de 31 para 32 por cento da população mundial. O Islã ficará bem próximo em segundo lugar, crescendo substancialmente de 24 para 31 por cento. O hinduísmo deverá diminuir ligeiramente de 15 para 14 por cento, e o budismo de 7 para 5 por cento. Mas aqui está a virada inesperada: até 2060, a proporção do mundo sem afiliação religiosa (incluindo ateus, agnósticos e “nenhuma religião”) diminuirá de 16 para 13 por cento. Sim! Diminuirá.

Para aqueles de nós que cresceram sob a hipótese de secularização, isso vem como uma surpresa, seja ela agradável ou não. Então, o que está acontecendo?

A Religião Está Prosperando

Parte da resposta reside no vínculo entre a teologia e a biologia: as pessoas que creem em Deus tipicamente se reproduzem mais do que aqueles que não creem. Isto pode ser um consolo para os secularistas, que preferem imaginar que os crentes se reproduzem mais ao invés de serem melhores pensadores do que eles.

De fato, no mundo moderno, as pessoas são forçadas a pensar mais porque poucas pessoas vivem em comunidades religiosamente homogêneas. Mesmo assim, esta mudança não resultou em um golpe mortal para a religião, nem mesmo para sua liberalização. De fato, na América do Norte, as fileiras das pessoas não afiliadas a nenhuma religião, estão crescendo predominantemente pela chegada de pessoas que anteriormente eram cristãos nominais, cristãos culturais e teologicamente liberais, enquanto que o cristianismo não diluído e o islamismo tradicionalista estão prosperando no mundo moderno.

Além disso, embora seja verdade que no Ocidente muitos estão abandonando o cristianismo cultural, o tráfego não é todo de mão única. Nos Estados Unidos, quase 40 por cento dos que foram criados como não-religiosos tornam-se religiosos quando adultos, enquanto que apenas 20 por cento dos norte-americanos que foram criados como protestantes mudam na idade adulta. Em outras palavras, meus amigos seculares são duas vezes mais propensos a criarem filhos que se tornarão cristãos do que eu para criar filhos que se tornarão não religiosos.

Mas o maior choque para o sistema secular é a história da China, um país que tentou muito imaginar nenhuma religião. É difícil coletar dados precisos sobre a prática religiosa em um país oficialmente ateu, mas o cristianismo está se espalhando na China a uma taxa notável. Na verdade, Fenggang Yang, um dos principais especialistas mundiais em sociologia da religião na China, estima que até 2030, a China será o lar de tantos cristãos quanto os Estados Unidos, e poderia ser um país de maioria cristã em 2050.

Secularização: Mito Caucasiano Ocidental?

O cristianismo foi acusado de ser um instrumento do imperialismo caucasiano ocidental. Lamentavelmente, houveram momentos e lugares onde tal acusação é verdadeira. Mas a narrativa caucasiana ocidental desmorona à luz da igreja global. A diversidade étnica e racial radical foi uma característica do ministério de Jesus, e atualmente, o cristianismo tem maior distribuição racial e cultural do que qualquer outro sistema de crenças.

O primeiro africano convertido ao cristianismo está registrado no Novo Testamento (Atos 8.26-40), e até 2060, espera-se que 40 por cento dos cristãos do mundo vivam na África subsaariana. Mesmo em alguns dos países menos associados ao cristianismo, as raízes do evangelho são profundas: a igreja na Índia traça sua linhagem ao segundo século, enquanto as comunidades cristãs atualmente sofrendo no Iraque e na Síria estão entre as igrejas contínuas mais antigas do mundo.

O cristianismo não é uma religião caucasiana e ocidental. Mas uma profunda ironia é que a hipótese de secularização foi revelada como um mito ocidental caucasiano, com base na premissa de que o mundo seguiria na direçāo em que a Europa ocidental liderasse.

Acordando do Sonho

Fenggang Yang argumenta que o mundo acadêmico necessita passar por uma mudança de paradigma, parecida com uma revolução científica, ao acordarmos do sonho da secularização. Se tomarmos as melhores projeções a sério, a grande questão para a próxima geração não será “religião ou humanismo secular”? mas sim “o cristianismo ou o islamismo”?

Portanto, imagine nenhuma religião se quiser. Sente-se, relaxe e curta o som do Pentatonix. É quase irresistível! Mas não se canse esperando uma utopia secular: tal sonho ainda é uma fantasia.

Traduzido por Marq

 

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