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Graça Maravilhosa para os Debates no Twitter

John Newton (1725-1807) foi um dos grandes líderes cristãos ingleses do século XVIII. Foi um escravocrata que se tornou abolicionista, marinheiro que virou pastor e blasfemo que se tornou autor de hinos (“Amazing Grace” [Preciosa Graça] sendo o mais famoso). Foi também um dos grandes escritores de cartas pastorais na história da igreja. E foi um dos grandes pacificadores de sua geração.

Restaurador de Conexões

Newton era abertamente calvinista. Mas tinha como amigos pessoais, muitos cristãos arminianos, incluindo os fundadores do Metodismo, John e Charles Wesley. Ele cria que a verdade é preciosa e, portanto, debates teológicos são necessários. Mas cria também que o pecado é a razão pela qual as controvérsias teológicas se tornam tóxicas. Portanto “seguir a paz com todos” (Hebreus 12.14), tornou-se seu objetivo.

Tal era a reputação pacífica de Newton que John Wesley uma vez escreveu para ele:

“Você parece ter sido projetado pela Divina Providência para ser um restaurador de conexões, um reconciliador de homens honestos, mas preconceituosos, e um unificador (trabalho feliz!) dos filhos de Deus que estão desnecessariamente divididos uns dos outros.”

Em uma carta a um amigo, Newton escreveu:

“Quanto mais eu vivo, mais vejo a vaidade e a pecaminosidade de nossas disputas ímpias: elas causam a erosão dos próprios pontos vitais da religião. Lamento pensar quantas vezes perdi meu tempo e temperamento desta maneira, presumindo regular as vinhas dos outros, quando negligenciei a minha; quando a trave no meu olho obstruiu tanto a minha visão que não consegui discernir nada além do cisco do meu vizinho. Agora estou desejoso de seguir um caminho melhor…

Concordo que todos os ramos da verdade do evangelho são preciosos, que os erros são abundantes, e que é nosso dever dar um testemunho honesto daquilo no qual o Senhor nos permitiu encontrar consolo, e instruir com mansidão tantos quantos estão dispostos a serem instruídos; mas não creio ser meu dever, ou melhor, creio que seria meu pecado, tentar forçar minhas ideias na cabeça de outras pessoas. Tentei fazer isto muitas vezes em tempos passados; mas agora julgo que tanto meu zelo quanto minhas armas eram carnais.”

Conselhos Cruciais para Controvérsias

Em outra famosa carta, hoje intitulada “Sobre controvérsias”, Newton aconselhou um amigo que planejava publicar um artigo refutando a teologia arminiana de um colega ministro. São conselhos duradouros e inestimáveis, que, se formos sábios, receberemos como se fôssemos os destinatários dessa carta. O Twitter não é o único fórum para controvérsias hoje, mas tornou-se um solo excepcionalmente fértil para a erva daninha de debates ímpios.

Primeiro, Newton nos incita a orar por nosso oponente ao nos prepararmos para abordá-lo. “Esta prática terá uma tendência direta para conciliar seu próprio coração ao amor e a ter compaixão dele; e tal disposição terá uma boa influência em cada página que você escreve ”.

Em segundo lugar, Newton nos aconselha a lidar gentilmente com o nosso oponente porque:

“O Senhor o ama e o sustenta; portanto, você não deve desprezá-lo ou tratá-lo duramente… Daqui a pouco vocês se encontrarão no céu… e embora você possa achar necessário se opor aos erros dele, considere-o pessoalmente como uma alma afim, com quem você deve ser feliz em Cristo para sempre.”

Terceiro, Newton nos conclama a instruir nossos oponentes com mansidão, lembrando que no final das contas, é Deus quem muda a mente de uma pessoa que está em erro (2T 2.24-26; Fps 3.15). A teologia calvinista exige “o exercício da gentileza e da moderação”, e a Bíblia nos diz “não contender, e sim ser brando para com todos”. Portanto, não devemos usar “expressões que possam exasperar” nossos oponentes e nos tornar obstáculos para que aceitem as verdades das Escrituras.

Em quarto lugar, Newton salienta que o nosso tom e palavras públicas influenciam outros cristãos. Alguns, mesmo que não entendam os argumentos em si, “sabem que mansidão, humildade e amor são características de um temperamento cristão”, portanto, se nossa apresentação não tiver estas qualidades, eles se sentirão justificados em rejeitar nossa teologia.

“Pode ser que você seja fundamental para a edificação deles, se a lei da bondade, bem como da verdade, regular sua caneta [ou seu teclado], caso contrário, poderá prejudicá-los. Existe um princípio do ego que nos predispõe a desprezar aqueles que diferem de nós; e frequentemente estamos sob sua influência, enquanto pensamos que estamos apenas mostrando um zelo apropriado pela causa de Deus.”

Em quinto lugar, Newton nos adverte da sutil auto-justiça que inevitavelmente infecta nossa atitude em relação àqueles com quem discordamos:

“A auto-justiça pode se alimentar de doutrinas, assim como das obras; e um homem pode ter o coração de um fariseu, enquanto sua cabeça esta cheia de noções ortodoxas sobre a indignidade da criatura e das riquezas da livre graça. Sim, acrescentaria, mesmo os melhores homens não estão totalmente livres deste fermento e, portanto, ficam bastante dispostos a se contentarem com tais representações, que ridicularizam nossos adversários e, consequentemente, lisonjeiam nossos próprios juízos superiores. As controvérsias, em sua maior parte, são administradas de tal maneira a ponto de induzir essa disposição errada, ao invés de reprimi-la; e, portanto, em geral, elas produzem pouco de bom. Elas atiçam aqueles a quem intentamos convencer e ensoberbecem aqueles a quem intentamos edificar. Espero que seu desempenho possa ter um aroma de um espírito de verdadeira humildade e ser um meio de promovê-lo nos outros.”

E em sexto lugar, Newton nos diz para ter cuidado com os efeitos negativos que as controvérsias poderiam ter em nosso próprio caráter:

“Há muito poucos escritores envolvidos em controvérsias que não tenham sido manifestamente magoados por elas. Ou se inflam no sentido de sua própria importância, ou absorvem um espírito irado e contencioso… O que beneficiará um homem se ele conquistar sua causa e silenciar seu adversário se, ao mesmo tempo, perder a humilde e terna estrutura de espírito na qual o Senhor se deleita… Seu objetivo, sem dúvida, é bom; mas é necessário vigiar e orar, pois encontrará Satanás à sua direita para resistir àquilo que intenta.”

Busque a Sabedoria Pacífica do Alto

Newton queria que nos lembrássemos, em qualquer debate ou controvérsia em que nos envolvamos,

“A sabedoria que vem de cima não é apenas pura, mas pacífica e gentil; e a falta destas qualidades, tal como uma mosca morta num pote de unguento, estragará o sabor e a eficácia de nossos trabalhos. Se agirmos com um espírito errado, não traremos glória a Deus, não faremos bem a nossos semelhantes e não obteremos nem honra nem conforto para nós mesmos.”

Necessitamos prestar atenção ao conselho deste pastor experiente e debatedor gentil e assegurar que, ao tentarmos ganhar uma discussão, não acabemos perdendo a guerra pelo amor.

Publicado originalmente em DesiringGod.org: https://www.desiringgod.org/articles/amazing-grace-for-twitter-debates

Traduzido por Felipe Barnabé

 

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