Se adentrarmos uma sala de aula de escola dominical típica, provavelmente observaremos os alunos sentados no chão, ouvindo uma história de uma Bíblia ilustrada, bem como mesas cobertas de materiais de trabalhos manuais prontos para serem colados e formarem uma representação rápida de alguma parte da história contada, ou até mesmo crianças marchando pela sala cantando canções simples que se conectam com a lição daquele dia.
Muitas vezes, o que falta é uma discussão mais profunda baseada na expectativa de que as crianças compreendam não só as verdades teológicas da história, mas também a narrativa mais ampla das Escrituras. Isto ocorre não por professores de escola dominical se negarem a prover uma formação espiritual mais intencional e efetiva para seus alunos. Frequentemente, tais professores simplesmente não receberam um currículo robusto e intencional ou o treinamento necessário sobre a melhor maneira de alcançar crianças de cada faixa etária.
O que pode ser feito para ajudá-los? Como podemos moldar programas infantis para que encorajem crianças que compreendem o sentido mais amplo das Escrituras?
Escolha as Histórias Sabiamente
Nos currículos utilizados hoje em dia, há a tendência de que as histórias se baseiem em alguns poucos eventos, normalmente naqueles que se parecem com uma história de super-heróis, destacando grandes homens e mulheres de fé. As histórias do povo de Deus tomam um viés de lendas morais, com o intuito de advertir as crianças para que se comportem bem. Tal abordagem pode distorcer a verdadeira natureza da Bíblia, que não é uma história sobre a raça humana; é uma história sobre Deus.
Uma abordagem melhor seria buscar histórias que revelam a natureza de Deus, mantendo, ao mesmo tempo, o foco na mensagem central da narrativa. Cada porção das Escrituras nos aponta para a cruz—futura ou já consumada—que é o cerne da nossa fé.
Se tivermos esta mentalidade, ajudar os alunos a compreenderem o sistema sacrificial do Antigo Testamento se tornará tão essencial quanto contar a história do poder de Deus ao derrubar as muralhas de Jericó—ou até mesmo mais importante. Em cada história, há que ressaltar o tema imprescindível do amor de Deus pelo seu povo, e isto necessita ser feito a cada domingo.
Montando Currículos Centrados na Narrativa Maior
Com começo, meio e fim nítidos, as Escrituras revelam quem Deus é bem como respondem às questões mais importantes da vida, sobre a nossa identidade e propósito. Começando mesmo com as crianças menores, conte a história devagar e deliberadamente, em sua sequência apropriada. Quando chegar ao fim, conte tudo de novo. Escutar a história completa múltiplas vezes assegura que as crianças terão uma compreensão sólida.
A história abrangente da aprazível criação de Deus, do dano que adveio pela queda do pecado e a redenção e restauração que Jesus comprou pela cruz se reflete na totalidade das Escrituras. Esta estrutura molda não só quais histórias escolhemos contar, mas também a maneira como as contamos. Ao buscarmos em conjunto estes elementos em todas as passagens da Bíblia, os alunos aprendem os meios para fazerem isto por si mesmos.
A história de Jonas, por exemplo, demonstra a alunos de qualquer idade não só como a raça humana está danificada, mas também a graça insondável de Deus, ao chamar Jonas, um profeta renitente, ao fazê-lo retornar quando ele havia literalmente fugido de tal chamado, ao preservar sua vida apesar de sua desobediência, ao fazê-lo cair de joelhos (na barriga de um enorme peixe!) e no amplo arrependimento e fé inspiradores na cidade de Nínive, notória por sua perversidade.
Ao invés de simplesmente nos maravilharmos com o milagre incrível de Deus usar um peixe para engolir Jonas, podemos nos concentrar nestes temas mais amplos para redirecionar os alunos para aquilo que é o mais importante. Alunos mais velhos poderão também fazer mais conexões diretas, tais como os três dias que Jonas passou dentro do peixe com a ressurreição de Jesus ao terceiro dia. Alunos de todos as idades podem entender e se regozijar que a bondade de Deus não depende da bondade do homem.
Repetir, Repetir, Repetir
A repetição é verdadeiramente essencial para o aprendizado. Ao repetirmos frequentemente estas verdades, elas ficarão gravadas no coração das crianças. Deus, por sua graça, conclama o seu povo para repetir para seus filhos as histórias de Sua fidelidade. O esquecimento leva à dúvida e à desobediência. Ouvir a história mais uma vez nos atrai cada vez mais de volta a Ele.
Necessitamos contar a história de Deus intencionalmente e repetidamente, repassando seus temas principais a cada semana. Mesmo que tenha participado somente de uma aula, uma criança deve sair de lá tendo aprendido algo sobre o caráter de Deus e sobre a história da redenção. Alunos que frequentam a escola dominical por anos necessitam ouvir a narrativa completa múltiplas vezes, em níveis cada vez mais profundos.
A repetição da rotina de aula também pode ser uma ferramenta de ensino incrivelmente poderosa. Integrar padrões de oração, louvor, diálogo, contemplação e resposta proporciona uma estrutura para a adoração. Esta consistência concede aos nossos alunos uma dádiva importante não só no presente, mas algo que poderão levar consigo para o resto da vida.
Desenvolva as Lições à Medida em que os Alunos Amadurecem
À medida em que as crianças crescem e se desenvolvem, seus pontos fortes e desafios também aumentam.
Primeira Infância
Crianças pequenas são ávidas para absorver informações e edificar um sólido alicerce de conhecimentos. Elas são capazes de memorizar com facilidade e prazer, principalmente através de canções, histórias e atividades. Podemos utilizar tal capacidade sem sacrificar o aprofundamento e a verdade. Peça-lhes que decorem passagens das Escrituras (mesmo textos mais longos!) para escondê-los no coração, para que tenham um poço profundo de verdades do qual possam retirar preciosidades seguidamente, à medida em que crescem e amadurecem.
Nível Intermediário
Alunos de nível intermediário situam-se entre a infância e a idade adulta. Sua mente e corpo estão mudando a um ritmo somente visto previamente quando eram bebês. Tais alunos buscam a verdade de novas maneiras. Anseiam saber por si mesmos o que é verdadeiro, o que é bom e aprazível e este anseio se manifesta frequentemente em perguntas difíceis.
Ao questionarem, pode nos parecer que estão se afastando da fé. Mas não necessariamente. Nestes ternos anos, devemos proporcionar aos alunos espaço seguro para que façam as perguntas mais importantes. É preciso encorajá-los a testar as coisas por si mesmos e a contestarem. No entanto, também é necessário proporcionar a eles uma rocha firme e permanente para lhes servir de padrão—a Verdade.
Lições baseadas em diálogo robusto e honesto, conduzidas por adultos cheios de fé e compaixão permitirão aos alunos que se apropriem e aprofundem a sua fé. Descobrirão o valor de cada palavra das Escrituras ao examinarem cuidadosamente o texto, vendo ao mesmo tempo os temas e conexões mais abrangentes.
Nível Secundário
Nesta época da vida, os alunos estão descobrindo quem são. Anseiam por demonstrarem esta identidade ao mundo à sua volta, portanto é necessário guiá-los a fazerem isto com sabedoria e graça. Compreender seu lugar dentro da história do povo de Deus lhes permitirá centrar sua vida em Cristo ao invés de em si mesmos. Isto é contra-cultural e pode até mesmo ir contra seus próprios desejos, mas acabará por enraizá-los nAquele que jamais muda—que os criou, os ama perfeitamente e ordena seus passos.
Ajude também os alunos a desenvolverem compaixão para com aqueles que tem crenças diferentes. Nesta época da vida, o cinismo e a tendência para transformar o “outro” em vilão são fortes. Desenvolver uma cosmovisão verdadeiramente bíblica, que se apega inabalavelmente à Verdade, ao mesmo tempo em que estende a mão àqueles que ainda não têm conhecimento da verdade, é um passo importante em direção à maturidade espiritual.
Ensino Submisso a Deus e Comprovado
Esta abordagem para o ensino nas igrejas segue o fluxo das Escrituras ao mesmo tempo em que reconhece as necessidades de desenvolvimento das crianças e seus pontos fortes. É baseada no modelo clássico de ensino. Dados indicam que estes princípios são comprovadamente eficazes para o desenvolvimento de profundidade de pensamento e amor ao aprendizado, tanto com crianças em “homeschooling” quanto em escolas tradicionais.
No entanto, em todas as coisas, é necessário recordar que nenhuma estratégia de ensino ou lição estruturada com sabedoria é capaz de ocasionar a regeneração de uma alma. É o Espírito que atrai os corações ao Pai. A ferramenta mais essencial nas mãos de um professor de escola dominical não é um currículo específico, mas sim a súplica do justo, que é poderosa e eficaz (Tiago 5.16).
Tradução por Carlos Dourado.