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A apologética é uma resposta à pergunta do “por que” depois de já havermos respondido “o que”. O “o que”, é claro, é “O que é o evangelho?”. Mas quando convidamos pessoas a crerem no evangelho, e elas perguntam “Por que eu deveria crer nisso?”—precisamos da apologética.

Já ouvi muitos cristãos tentarem responder à pergunta do por que voltando ao “o que”. “Você deve crer pois Jesus é o Filho de Deus”. Mas isso responde ao por que com mais um “o que”. Cada vez mais vivemos em um tempo em que não se pode evitar a pergunta do por que. Fornecer apenas o “o que” (por exemplo, uma vívida exposição do evangelho) funcionava nos dias em que as instituições culturais haviam criado um ambiente no qual o cristianismo simplesmente parecia verdadeiro, ou pelo menos, honrado. Mas em uma sociedade pós-cristandade, no mercado das ideias, devemos explicar por que ele é verdadeiro, ou as pessoas simplesmente irão descartá-lo.

A Apologética é Bíblica?

Ainda assim, hoje há muitos cristãos que dizem: “Não faça apologética, apenas exponha a Palavra de Deus—pregue, e o poder da Palavra atingirá as pessoas”. Outros argumentam que “pertencer vem antes do crer”. Dizem que a apologética é uma abordagem racional e iluminista, não uma abordagem bíblica. Que as pessoas necessitam ser trazidas a uma comunidade onde possam ver nosso amor e nossas obras, vivenciar a adoração, ter suas imaginações capturadas, e a fé se tornará crível para elas. Há um certo mérito nestes argumentos. De fato seria racionalista demais dizer que podemos provar o cristianismo e, assim, qualquer pessoa racional teria de crer nele. Na realidade, tal abordagem desonra a soberania de Deus por se curvar à nossa razão humana autônoma.

Comunidade e adoração são importantes, pois as pessoas chegam à convicção através de uma combinação de mente e coração, um senso de necessidade, ao refletir intelectualmente sobre as coisas e vê-las em comunidade. Mas também tenho visto muitos céticos que são trazidos a comunidades cristãs calorosas e ainda assim perguntam “Mas por que devo acreditar em você e não em um ateu ou em um muçulmano?”. Precisamos ter cuidado em dizer “Apenas creia”, pois, na realidade, estamos respondendo “Porque sim”. Soa como um jogo de poder nietzscheano. É bem diferente de Paulo, que debatia, argumentava e provava no livro de Atos, e de Pedro, que nos conclama a dar a razão de nossa esperança em 1 Pedro 3.15. Se nossa resposta for “Nossas crenças podem parecer totalmente irracionais para você, mas se você vir o quanto amamos uns aos outros, também desejará acreditar”, soaremos como uma seita. Portanto necessitamos fazer apologética e responder à pergunta do por que.

Não Há Território Neutro

No entanto, o problema com uma apologética exclusivamente racionalista (“Vou provar a você que Deus existe, que Jesus é o Filho de Deus, que a Bíblia é verdadeira”, etc.) é que, de certa maneira, coloca Deus no banco dos réus diante de pessoas supostamente neutras e perfeitamente racionais, assentadas objetivamente no trono da Razão. Isto não corresponde ao que a Bíblia diz sobre a realidade do pecado e do pensamento distorcido e tendencioso produzido pela incredulidade.

Por outro lado, uma apologética exclusivamente subjetivista (“Convide Jesus para a sua vida e Ele resolverá todos os seus problemas, mas não posso te dar boas razões para isso, apenas confie com o seu coração”) também deixa de trazer a convicção de pecado real e da necessidade. Não haverá alegria na graça de Jesus a menos que as pessoas vejam que estão perdidas. Portanto, uma apologética moldada pelo evangelho não deve simplesmente apresentar o cristianismo, deve também desafiar a cosmovisão dos incrédulos, mostrando onde está o real problema desta cosmovisão e dos incrédulos em si.

Traduzido por Caroline Ferraz.

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