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Devo Ficar Em Uma Organização Cristã Que Não Parece Cristã?

Nota dos editores: A nova coluna “Thorns & Thistles” [Cardos e Abrolhos] da Coalizão pelo Evangelho busca aplicar a sabedoria, com conselhos práticos sobre a fé, o trabalho e a economia.

Eu trabalho para uma organização cristã que por dentro, não parece ser cristã. Tenho tentado pacientemente mudar a cultura por dentro, mas sou apenas uma pessoa e estou me desgastando. Vale a pena ficar num emprego em uma organização cristã que atualmente tem uma cultura insalubre, por causa daquilo que a organização poderia ser ou foi criada para ser?

Saber o que fazer, quando não há um versículo bíblico específico para nos dar a resposta exata (o que é o caso para a maioria das decisões na vida), exige que sejamos o tipo de pessoa que tem o “know-how” do reino. Isto significa muito mais do que memorizar uma lista de etapas; devemos ser pessoas caracterizadas por virtudes bíblicas. A sabedoria divina é formada à medida que nos enraízamos em uma comunidade de santos, modelamos nossa vida em pessoas parecidas com Cristo, meditamos em espírito de oração sobre as Escrituras e praticamos hábitos que direcionam nossos corações ao Rei.

Com este pano de fundo, dois “parapeitos” teológicos podem ajudá-lo a enfrentar esta questão.

Dois “Parapeitos”

Primeiro, é necessário ser realista sobre o que se pode esperar do trabalho em um mundo decadente. Não há trabalho que seja perfeitamente adequado a nós. Mesmo quando estamos em uma organização relativamente saudável, com um emprego que corresponda ao conjunto de nossas habilidades, haverá dias difíceis. O problema pode vir de um certo cinismo, causado por uma visão excessivamente idealista daquilo que o trabalho deveria ser. Os teólogos chamam isso de escatologia excessivamente realizada. Se este for o caso, devemos nos lembrar que a leste do Éden, somos chamados a trabalhar em meio a espinhos e cardos, que são encontrados até mesmo em organizações cristãs.

Segundo, se seus superiores estão pedindo para você fazer algo antiético, você não deve obedecê-los. Isto pode significar que você terá que sair, mas não necessariamente. Quando você deixa seus superiores saberem que não pode fazer o que eles estão pedindo e o motivo, sua transparência e sua integridade podem desencadear uma conversa saudável que leve à uma mudança organizacional. De qualquer maneira, se a escolha for entre obedecer a Deus ou ao seu chefe, é necessário estar disposto a ir embora.

Questões Importantes

Dentro destes limites de expectativas mais realistas — mesmo para as organizações cristãs — e de um compromisso com um alto padrão de ética pessoal, há algumas perguntas que devemos nos fazer.

A cultura da organização, incluindo suas práticas e objetivos funcionais, quase inevitavelmente causa malformação nos que nela estão? Mais uma vez, não estou sugerindo uma auto-justificação presunçosa. Todos nós temos pontos cegos, quando ignoramos as conseqüências ou aparências de coisas que fazemos rotineiramente e que são menos do que ideais. Mas, há muitas pessoas de longa data na organização que retiveram virtudes e integridade cristãs? Ou os que já estāo lá há longo tempo foram tão influenciados pelas mazelas da organização (talvez o dualismo entre o trabalho e a fé, que justifica a desonestidade ou práticas desumanas como apenas “o modo como as coisas são feitas”) quais vícios recorrentes (tal como a ganância, a desonestidade ou a apatia) são demasiadamente difundidos?

Nossos contextos vocacionais nos moldam. Muitas vezes, o rótulo de “cristão” pode nos cegar para a visão de mundo funcional dominante (diferente da visão de mundo declarada) da organização e como ela está nos moldando. Ficar pode ser prudente, pelo menos por um tempo. Mas certifique-se de que, se ficar, faça isto com os olhos bem abertos. Se você permanecer em tal organização, é necessário se colocar em uma comunidade de valores opostos, que o ajudem a identificar as falsas narrativas do seu local de trabalho e que ofereçam uma catequese contrária. Centrar sua vida em uma igreja fiel é essencial, mas você também pode ser auxiliado por colegas de trabalho que pensam da mesma maneira ou por associações profissionais cristãs.

Finalmente, se você sair, irá para onde? É fácil imaginar que a galinha do vizinho é melhor do que a nossa, mas outras oportunidades podem estar indisponíveis ou serem tão insalubres quanto — se não pior — do que sua organização atual. Se não for uma situação em que a empresa está pedindo que você faça algo antiético, você tem algum tempo. Não corra prematuramente de uma situação insalubre para outra. Sim, o Senhor provê, mas às vezes ele nos pede para ficar e confiar que sua graça é suficiente. Se Ele não está fornecendo outra opção, na maioria das vezes a decisão prudente é ficar, pelo menos por enquanto, e procurar ser fiel, servindo a seus colegas, clientes e empresa da melhor maneira possível.

Traduzido por Raul Flores

 

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