Como um protestante reformado de uma igreja com liturgia mais contemporânea, naturalmente fico desconfiado de qualquer coisa que pareça ritualismo religioso. Corredores de oração? Não, obrigado; vou continuar com a oração comunitária na igreja e a oração privada que Jesus recomenda (Mateus 6.6). Velas e incenso? Novamente, prefiro a simples pregação e o canto congregacional. Portanto, quando me perguntam se devemos ungir os enfermos com óleo, confesso que, por reflexo, tendo a resistir à ideia. Para alguém da minha linha teológica, derramar óleo em alguém parece simplesmente… estranho. Mas a teologia fiel não é uma empreitada de seguir sentimentos ou intuições, é uma questão de se submeter às Escrituras, onde quer que elas levem.
E neste caso, as Escrituras abordam diretamente se devemos ungir os enfermos com óleo.
“Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.” (Tiago 5.14–15).
Esta passagem é bastante enigmática, e certamente não tenho a palavra final sobre ela, mas como parece responder à pergunta proposta no título deste artigo, vale a pena considerar como este texto deve moldar o ministério aos enfermos em nossas congregações.
Não tenho a intenção de desatar todos os nós exegéticos (são muitos!), em vez disso, espero que possamos obter uma ideia geral do que Tiago está recomendando simplesmente fazendo perguntas ao texto e seguindo o princípio hermenêutico básico de que devemos sempre deixar partes mais claras das Escrituras guiar e restringir nossas interpretações de passagens mais difíceis como esta.
Tendo isso esclarecido, vamos considerar quatro perguntas que nos ajudam a entender o que Tiago está exortando nesta passagem.
1. Devemos aplicar esta passagem a todas as doenças?
Tiago não está sugerindo que você ligue para os presbíteros e peça que eles peguem o óleo toda vez que sua alergia atacar ou você ficar resfriado. O fato de que a pessoa doente neste texto deve “chamar” os presbíteros para visitá-la sugere que esta pessoa está significativamente doente–incapaz de comparecer às reuniões comunitárias ou outros eventos onde poderia encontrar os presbíteros. Além disso, a descrição da cura no versículo 15 também sugere a gravidade da doença.
2. Por que os enfermos devem chamar seus presbíteros?
Pragmaticamente, chamar seus presbíteros para orar por você em um momento de doença coloca suas necessidades não apenas diante deles, mas, provavelmente, diante de toda a congregação. Como pastores de sua igreja, os presbíteros estão mais bem preparados para saber como cuidar de você, como expressar suas necessidades à igreja e como ministrar a esperança do evangelho.
O final do versículo 16 pode fornecer outra pista sobre por que os enfermos devem chamar seus presbíteros para orar por eles. Nesse versículo, Tiago ensina que “muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo”. Dadas as qualificações para ser presbítero (1 Tm 3.1–7) e a responsabilidade de modelar piedade para a congregação (1 Pe 5.3), os presbíteros em sua igreja devem ser irrepreensíveis e sua intercessão deve ser solicitada.
É digno de nota a indicação de Tiago para que o homem enfermo inicie o contato com os presbíteros e peça oração e unção. Estes são atos de fé e humildade de sua parte, expressões de dependência humilde do Deus que detém o poder da vida e da morte em suas mãos.
3. Qual é o significado do óleo?
A menção do óleo por Tiago é certamente uma das partes mais enigmáticas dessa passagem, então, vamos primeiro eliminar o que a unção com óleo não significa.
Primeiro, Tiago não está ensinando a doutrina católica romana da extrema unção. Ele não indica em nenhum lugar que devemos ter a unção dos enfermos com óleo como um “sacramento”. Além disso, o uso de óleo nesta passagem não é para preparar os enfermos para a morte, mas é acompanhado pelas orações que buscam cura e restauração.
Segundo, Tiago não está sugerindo que o óleo tenha alguma qualidade mágica ou sobrenatural. A cura resulta da oração dos presbíteros “em nome do Senhor”. O óleo é secundário nesta passagem, adornando o ato central que é a oração–nossa humilde expressão de dependência do Senhor para todas as coisas, particularmente para a nossa saúde.
Finalmente, o óleo nesta passagem não é medicinal, como alguns comentaristas sugerem. Embora seja uma proposta intrigante, não há evidência neste texto de que “óleo” deva ser lido como um substituto para remédio. De fato, em Marcos 6.13, a única outra vez que encontramos óleo e cura conectados no Novo Testamento, o óleo claramente não é medicinal, já que as curas descritas nessa passagem são sobrenaturais.
Então, por que ungir com óleo? É possível que a unção com óleo seja simplesmente um símbolo da consagração a Deus, como frequentemente é o caso em outras partes das Escrituras (cf. Nm 3.3; 1 Sm 10.1; Sl 89.20). Ungir com óleo é um ato físico que expressa uma verdade espiritual: pertencemos a Deus e nos colocamos totalmente aos seus cuidados. A oração expressa este ponto com palavras, enquanto ungir com óleo o expressa em uma ação.
4. Esta passagem promete que aqueles que são ungidos serão curados, sem exceção, desde que tenham fé suficiente?
O início do versículo 15 parece sugerir que “a oração da fé” inevitavelmente resulta em cura física. Certamente, tal interpretação não condiz com a realidade. A piedade não é garantia de saúde física, nem pode deter a morte perpetuamente (Hb 9.27). Além disso, o próprio Paulo, que talvez tenha sido o cristão mais cheio de fé de todos os tempos, teve que deixar Trófimo doente em Mileto (2 Tm 4.20).
Pelo contrário, Tiago está nos lembrando que a oração que agrada a Deus surge da fé viva descrita no capítulo 2. Em algumas ocasiões, Deus usa essas orações cheias de fé como o meio pelo qual Ele cura os enfermos. Orar com fé não é uma fórmula mágica que torce o braço de Deus para fazer o que queremos; em vez disso, orar com fé é um pedido ousado a Deus para curar um irmão enfermo, confiando humildemente no plano perfeito de Deus—um plano que culmina com Cristo “salvando” e “erguendo” todo o seu povo na ressurreição.
Dependência Humilde da Misericórdia de Deus
Devemos ungir os enfermos com óleo? Depende da situação.
Por um lado, Deus não ordena que os cristãos busquem todo irmão enfermo para ungi-lo. Mas se alguém seriamente enfermo deseja a cura, então sim—uma maneira de expressar sua total dependência e submissão a Deus é pedindo que homens justos intercedam por ele e simbolizem seu compromisso com o Senhor através da unção com óleo.
Traduzido por David Bello Bondarenco.