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Ensinar responsabilidade às crianças é uma tarefa primordial dos pais. A questão de se uma mesada deve ou não ser paga por completar tarefas em casa, requer que os pais considerem a capacitação conjunta em duas áreas: responsabilidade pelo trabalho e responsabilidade pelo dinheiro.

Como um artigo recente da revista norte-americana The Atlantic aponta: “A grande maioria dos pais norte-americanos que pagam mesada, a vinculam à conclusão de tarefas domésticas”. Com novos aplicativos para organizar o pagamento das crianças por tarefas, as mesadas obviamente avançaram além dos pagamentos de “um dólar por semana” da minha infância. Não há necessariamente uma resposta certa para a questão de se a conclusão das tarefas diárias deve ser vinculada à recompensa monetária.

Conheço pais que, de forma eficaz, usaram a mesada como compensação. Na superfície, pelo menos, simplesmente dar a mesada poderia levar a um senso de direito adquirido, e desatrelá-la das tarefas levanta a questão de como incentivar as crianças a realmente concluí-las. Mesmo à luz destes desafios, nossa família optou pela abordagem minoritária: decidimos não vincular as mesadas às tarefas domésticas. Para quem está considerando esta opção, ofereço nossa experiência como uma rápida visão de como (e por que) nós a escolhemos.

Responsabilidades Claras

Definimos expectativas claras sobre pelo que as crianças tinham responsabilidade (por exemplo, descarregar a máquina de lavar louça, lavar a roupa e assim por diante) e então cobrávamos isto deles.

Se uma tarefa não fosse concluída no prazo oportuno ou completamente, dávamos um prazo adicional, junto com uma tarefa adicional. Quanto mais tempo demorava-se para cumprir as tarefas, mais desagradáveis se tornavam as tarefas adicionais. Foi uma estratégia bastante eficaz que quase nunca foi além de duas rodadas. Digamos somente que ninguém queria limpar os rodapés. Jamais. (Certa vez perguntei ao meu filho mais novo qual era a tarefa da qual ele menos gostava, e ele disparou “rodapés” antes mesmo de eu terminar de fazer a pergunta.)

Mesada é para os Extras

Mesada foi algo que dávamos de graça. Dávamos uma quantia apropriada para a idade deles, aumentando à medida que cresciam, e que retirávamos quando tivessem idade suficiente para ganhar dinheiro trabalhando fora de casa (por exemplo, de babá ou cortando grama).

Eles tinham liberdade para usar sua mesada, e qualquer outra poupança, a seu critério, para comprar o que quisessem. Como pais, nos comprometemos a suprir suas necessidades. Se uma criança precisasse de um novo par de sapatos, eu gastaria o suficiente para cobrir aquela necessidade — um tênis de marca sem grife. A criança poderia contribuir com a diferença de preço se quisesse um par mais bonito.

Vimos a mesada como uma oportunidade para eles aprenderem o autocontrole e a diferença entre necessidades e desejos. Mas nós não a tratamos como uma compensação.

Prestação de Serviços

Mas, também oferecemos pagamento por certas tarefas que não categorizamos como tarefas cotidianas. Se uma criança precisasse de dinheiro extra, e se o trabalho fosse algo que precisássemos contratar alguém para fazer ou algo que não tivéssemos tempo para fazer nós mesmos, oferecíamos a oportunidade para ganharem um dinheiro extra.

Cada vez que recebíamos hóspedes em casa, minha filha mais velha limpava o quarto para ganhar dinheiro para uma viagem que planejava fazer. Fiquei tão triste quando ela alcançou seu objetivo porque aquela tarefa voltou para mim novamente, e eu tenho uma má atitude. Comecei a deixar folhetos de viagem em seu travesseiro.

Contribuição vs. Compensação

Há alguns anos, conheci o pastor Tom Nelson, um homem que dedicou um bom tempo para estudar a relação entre a fé e o trabalho. Ele articulou um princípio que eu não tinha sido capaz de colocar em palavras, uma estrutura de como o crente deveria pensar sobre o trabalho que ele ou ela realiza.

Ele disse que o trabalho não deveria centrar-se principalmente sobre a remuneração, mas sim sobre a contribuição. Como pessoas cujo trabalho é feito para a glória de Deus, nos perguntamos “o quanto posso contribuir?” antes de nos preocuparmos com “quanto vou receber?” Pense em como o mundo funcionaria de maneira diferente se todos considerassem o trabalho por esta perspectiva.

É por isso que, em nossa casa, não associamos a mesada (compensação) às tarefas (trabalho). Em vez disso, explicamos às crianças que suas contribuições para a manutenção da ordem interna eram absolutamente essenciais. Não estávamos apenas tentando treiná-los para obedecer ou serem responsáveis; nós realmente precisávamos que eles compartilhassem o fardo do trabalho, para que nossa família florescesse. Não era exagero.

Quando nossos filhos ainda moravam conosco, minhas responsabilidades no ministério exigiam que eu me ausentasse 26 noites por ano. Também viajava ocasionalmente para dar palestras. Jeff e eu explicamos às crianças que eles estavam agindo como parceiros do ministério ao manterem a casa em ordem quando eu não podia estar em casa. Isto aliviou significativamente minha carga de trabalho (e a de Jeff) quando todos faziam sua parte.

Ao invés de se ressentirem de suas responsabilidades, as crianças passaram a vê-las como fonte do melhor tipo de autoestima: eles sabiam que suas contribuições eram necessárias e profundamente valorizadas.

E vivemos felizes para sempre em uma casa impecável onde ninguém jamais se queixava de tarefas ou gastava dinheiro frivolamente.

Ok, não exatamente. Mas conseguimos manter o foco na contribuição, e não na compensação.

A Alegria de Contribuir

Quando nossos filhos começaram a planejar seu futuro na faculdade e além, fiquei animada ao ver as esperanças de meus filhos quase adultos: “Eu quero fazer uma diferença lecionando ciência”, ou “Desejo ajudar a tornar a energia verde uma opção viável.”

Certamente espero que meus filhos consigam empregos que paguem um salário justo, mas mais do que isso, espero que tenham empregos que lhes permitam contribuir com alegria, trabalhando como para o Senhor (Cl 3.23). Com este objetivo, procuramos fazer de nosso lar um lugar de alegre contribuição — talvez não alegre no momento (quando o pano está no rodapé e os joelhos estão dobrados), mas alegre em última análise, sabendo que qualquer esforço bom é importante. E que qualquer trabalhador é um filho amado.

Traduzido por Mauro Abner

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