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Deus Prefere que Sejamos Ricos ou Pobres?

Agur certamente tem um insight aqui, especialmente se considerarmos que sua motivação era honrar ao Senhor. Ele orou: “não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus” (Provérbios 30.8-9).

Paulo, escrevendo aos filipenses, ecoa esse equilíbrio, dando a Deus o crédito por sustentá-lo tanto na pobreza quanto na riqueza: “aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.11-13).

Estas passagens têm em comum a aplicação da sabedoria espiritual, mas sua pergunta parece estar indo para algo mais profundo. Seria um destes extremos —a riqueza ou a pobreza — mais abençoado? Estariam algumas pessoas “mais próximas de Deus” em virtude de seu status econômico?

Naturalmente, tanto os materialmente pobres como os ricos são igualmente necessitados de um Salvador — e Jesus está profundamente preocupado que ambos ouçam e respondam às boas novas do seu reino. Por sua graça, homens e mulheres com grande riqueza podem amar a Deus e demonstrar sua fidelidade através da generosidade, e irmãos e irmãs que vivem na pobreza podem louvar Aquele que os provê e protege.

No entanto, talvez os pobres tenham alguma vantagem na compreensão do simples poder da mensagem do evangelho. Em situação de pobreza material, os efeitos do pecado e do quebrantamento no mundo — e a necessidade da restauração de todas as coisas — são aparentes. Para que o evangelho seja verdadeiramente boas novas para os ricos, que desfrutam de muitos confortos nesta vida presente, é necessário que primeiro seja “más novas”: as riquezas não são um indicador de status espiritual, e o chamado de Jesus para tomarmos nossa cruz requer sacrifício maior daqueles que se beneficiam dos reinos deste mundo.

O próprio Jesus levanta estas questões, particularmente no Evangelho de Lucas. Ele começa seu ministério em uma sinagoga lendo Isaías 61 e declarando corajosamente seu cumprimento: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor.” (Lc 4. 18.19).

Na narração de Lucas do Sermão da Montanha, ele registra as bênçãos de Jesus sobre os pobres e as aflições dos ricos em rápida sucessão:

Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus. Bem-aventurados vós, os que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, os que agora chorais, porque haveis de rir. Mas ai de vós, os ricos! Porque tendes a vossa consolação. Ai de vós, os que estais agora fartos! Porque vireis a ter fome. Ai de vós, os que agora rides! Porque haveis de lamentar e chorar. (Lc 6..20-22, 24-25)

Este tema é tão consistente no ministério de Jesus que despede triste um jovem rico buscando salvação em seus próprios termos. Verdadeiramente, Jesus diz: “Porque é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.” (Lc 18.25). “Sendo assim, quem pode ser salvo?” os discípulos perguntam (Lc 18.26). Cheio de graça e verdade, Jesus responde: “Os impossíveis dos homens são possíveis para Deus.” (Lc 18.27). De fato, no próximo capítulo, um homem rico (e um trapaceiro) é trazido para o reino quando Zaqueu se arrepende e crê.

Em última análise, a preocupação especial de Jesus pelos pobres mostra o papel deles na história maior que Deus está contando. De volta a Isaías 61, vemos que seu negócio é virar as categorias do mundo de ponta-cabeça. Para o seu povo crente que é pobre e oprimido, ele promete:

E a pôr sobre os que em Sião estão de luto uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria, em vez de pranto, veste de louvor, em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem carvalhos de justiça, plantados pelo Senhor para a sua glória. Edificarão os lugares antigamente assolados, restaurarão os de antes destruídos e renovarão as cidades arruinadas, destruídas de geração em geração. (Is 61.3-4)

Aqueles que estão no fundo do presente sistema são precisamente aqueles que Deus usará para reconstruir o que o pecado da humanidade arruinou. As glórias do seu reino invertido demonstram sua soberania sobre todos.

E “o ano aceitável do SENHOR” que Jesus menciona? É o ano do jubileu, quando as injustiças entre os ricos e pobres são niveladas, e todo crente tem um novo começo para que aqueles que se tornaram pobres “possam continuar a viver convosco” (Lv 25.35, 36).

O Deus que sempre fez o habitar entre o seu povo seu propósito, e que voltará para tornar todas as coisas novas (Ap 21.5), deseja que tanto os ricos quanto os pobres morem juntos agora como um símbolo desta promessa. Em uma igreja que procura viver essa promessa, a oração de Agur é respondida e o contentamento de Paulo é satisfeito.

Traduzido por Victor San

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