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Depressão e Ministério: Perigos Ocupacionais

Paul Tripp documentou evidências convincentes relativas à prevalência de depressão na cultura pastoral. Ao continuar a conversa, meu foco será responder às perguntas: “O que é depressão? Quais são os desafios ímpares comuns aos pastores que podem contribuir para que a depressão seja uma “suscetibilidade ocupacional”?”

Um Cenário Comum

Pastor Bill e sua esposa, Lisa, lideravam uma igreja que estava crescendo e tinham um bom casamento, mas algo estava errado. Por mais de seis meses Bill estava se sentindo cansado o tempo todo. Se dava conta de que estava esbravejando com seus filhos e ficando mais distante de sua esposa amorosa. Sua preparação de sermões era árdua. Havia perdido aquela paixão de tempos atrás pelo púlpito. Estava começando a ter fobia dos domingos, pois tinha que enfrentar seu rebanho e pregar a mensagem. Deixou de fazer coisas que amava—andar de bicicleta com um amigo e até mesmo jogar golfe. Estava comendo mais e se exercitando menos.

Anos antes, Bill tinha perdido sua primeira esposa mas tinha lidado com a perda incrivelmente bem. Continuou a pregar e a servir os outros com apenas um curto período de luto. Dois anos depois, ele se casou novamente com uma mulher piedosa que tinha sido amiga de sua esposa. A não ser por sua recente luta com “motivação”, Bill e sua nova esposa e família estavam indo muito bem. Agora sua esposa e os presbíteros estavam preocupados com o que parecia ser burnout. Estaria ele passando por algum tipo de crise de meia-idade, estaria em queda espiritual, ou teria ele algum problema físico que estivesse drenando sua energia? Bill não conseguia descobrir. Se sentia espiritualmente seco, não conseguia se concentrar em oração, e muitas vezes acordava em meio à noite com ansiedade. Quando começou a fazer aconselhamento, se perguntava o que estaria acontecendo e só queria que sua vida voltasse ao normal.

Causas da Depressão

A depressão certamente pode emergir de pecados não confessados, como vemos no Salmo 51 com o rei Davi. Mas a depressão também pode ser causada por sofrimento de perda ou cansaço de alma. Pode haver também fatores complicadores como distúrbios de tireoide, apneia do sono ou diabetes, que podem causar sintomas depressivos. É importante fazer uma avaliação completa e descartar fatores físicos antes de nos concentrarmos naquilo que está no coração.

Os sintomas da depressão podem ser como uma luz de advertência no painel do carro, mas, quando ignorados, se tornam mais como um motor fundido. Aqui estão alguns sintomas comuns—veja se você pode identificá-los na vida de Bill ou se você tem algum deles presente em sua própria vida.

Sintomas de Depressão

  • Dificuldade em concentrar, de lembrar detalhes ou tomar decisões
  • Fadiga e falta da energia
  • Sentimentos de desalento e/ou pessimismo
  • Insônia, acordar demasiado cedo de manhã, ou sono excessivo
  • Irritabilidade, inquietação
  • Perda de interesse em atividades ou hobbies que foram uma vez prazerosos
  • Comer excessivamente ou perda de apetite
  • Dores persistentes, dor de cabeça, cãibras ou problemas digestivos
  • Sentimentos de culpa, inutilidade e/ou desamparo
  • Sentimentos persistentes de tristeza, de ansiedade ou de vazio
  • Pensamentos suicidas, tentativas de suicídio

A depressão varia e há que concebê-la como um espectro de leve a grave. A depressão leve pode incluir apenas alguns destes sintomas tal como fadiga, aumento ou diminuição do apetite, insônia, períodos de desânimo ou tristeza, dificuldade de concentração e/ou perda de motivação. Em jovens, a irritabilidade e inquietação podem ser mais predominantes.

A depressão moderada também pode incluir períodos de desalento, problemas físicos persistentes, sensação de solidão, perda de prazer na maioria das coisas que já foram de alto interesse.

É provável que a depressão grave inclua culpa, sensação de inutilidade, momentos de choro e isolamento descontrolados, problemas para realizar o trabalho ou até mesmo cuidar das necessidades básicas, exaustão e letargia física. Se negligenciada, pode levar a pensamentos de suicídio ou comportamento suicida.

A Vulnerabilidade Específica de Pastores

Na história de Bill, podemos ver muitos dos sintomas moderados da depressão. Ele ignorou os sinais anteriores e nunca realmente lamentou a perda de sua esposa ou dos amigos que tinham juntos. Embora parecesse que ele estava lidando bem com a perda e a crescente pressão de cuidar dos filhos sozinho, ele começou a derivar lentamente rumo a uma depressão que o afetou espiritualmente, fisicamente e mentalmente. Começou a confiar em seus anos de experiência e vontade de não decepcionar os outros. Seu serviço não estava procedendo de um transbordamento de um relacionamento vital com Deus e ele não estava se apoiando em sua comunidade para ter amparo e responsabilização.

Tal como Bill, muitos líderes de ministério. por várias razões, têm dificuldade em serem transparentes. Pode parecer estranho ou contra-intuitivo, mas em geral, os pastores não tem um amigo tipo Provérbios 17.17. Frequentemente ouço: “A quem poderia contar isto?” “Com quem poderia compartilhar este fardo?” “Em quem posso confiar?” “Receio perder meu emprego.” Tal como Davi, os pastores podem pronunciar na privacidade de seus próprios pensamentos, “ninguém que por mim se interesse“ (Sl 142.4).

Outra questão para os pastores é a guerra espiritual. Satanás é um verdadeiro adversário, e ele é especialmente hábil em isolar e atacar pastores e suas famílias. Muitos pastores ficam cansados e desconectados. Logo começam a funcionar sem levar em conta sua posição em Cristo e começam a temer a opinião dos outros, ao invés de buscarem apoio em sua comunidade.

Quando Bill deixou de permanecer em Cristo, ele começou a representar. Tornou-se então ainda mais suscetível a ataques espirituais, sentindo-se como hipócrita e com o tanque vazio. Esta “tempestade perfeita” pode levar ao desânimo muitas vezes resultando que pastores e líderes de ministério larguem o ministério. Vale a pena analisar se a depressão já está afetando seu ministério ou se você precisa fazer ajustes agora para evitar este declive escorregadio.

Traduzido por Luiz Santana.

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