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Depressão e Ministério: Enfrentando a Depressão com Cristo

Buscando uma Solução ou Centrada na Alma?

Ao ministrar a ministros, perto do final da primeira consulta, frequentemente pastores me perguntam: “Como saberei quando estarei ‘curado’, quando estarei ‘melhor’? Como será a ‘recuperação’ da depressão?”

Em certo sentido, esta é uma boa pergunta porque reflete esperança. Por outro lado, nem sempre é a pergunta mais útil. Pode se encaixar muito bem com a personalidade pastoral típica do “Faça algo. Vamos consertar isso agora!” Esta pergunta pode ter mais em comum com a ideia do mundo de uma terapia breve em busca de uma solução do que com o plano de Deus para o crescimento da alma em Cristo, ao longo da vida.

Claro que seria imprudente ignorar a pergunta, e seria insensível insistir que “Você sempre vai ser assim – acostume-se com isso”. Mas também seria desonesto sugerir que deste lado do céu, podemos garantir a plena “recuperação”..

Assim sendo, costumo dizer algo como: “Esta é uma pergunta justa. A batalha de cada pessoa com a depressão é diferente. A jornada de cada um pelo vale do desânimo é um processo relacional único. Vamos falar sobre como seria para você enfrentar a depressão cara a cara com Cristo.”

Estágios Definidos ou Uma Vereda Individual?

No livro God’s Healing for Life’s Losses [A Cura de Deus para as Perdas da Vida], comparei e contrastei os “cinco estágios do luto” do mundo com o caminho relacional da Palavra para o crescimento no sofrimento. Quer estejamos falando de dor, ansiedade, depressão ou qualquer problema de sofrimento ou pecado, não há duas jornadas idênticas.

Reflita sobre Davi, Elias, Jó e Paulo. Cada um enfrentou o que podemos chamar de “depressão”, mas de diversas formas e com causas e “curas” diferentes. O caminho de Davi nos Salmos, o processo de Elias em 1 Reis 19, a jornada de Jó no livro que leva seu nome, e as lutas de Paulo em 2 Coríntios são idiossincráticas – específicas da pessoa.

Esta é uma razão pela qual conselheiros bíblicos nunca simplesmente pegam um versículo ou uma passagem e os aplicam a qualquer pessoa como um modelo tamanho único de causa, cuidado e cura. É também por isso que o aconselhamento bíblico não é um “evento de exortação” mas um processo relacional. Não exortamos pessoas de forma simplista a “não ficarem ansiosos” ou “a se regozijarem sempre” como se estas fossem palavras mágicas trazendo cura instantânea. Paulo, que escreveu estas palavras, também escreveu em outra carta, “assim, querendo-vos muito, estávamos prontos a oferecer-vos não somente o evangelho de Deus, mas, igualmente, a própria vida; por isso que vos tornastes muito amados de nós” (1Ts 2.8). Deus nos conclama a compartilhar as Escrituras e nossas almas – de forma robusta e relacional.

Pastor – não tenho uma resposta rápida, fácil de três passos que irá “curar” sua depressão. Não tenho uma lista tamanho único que identifique a “recuperação da depressão”. Ao invés disso, eu o encorajo a identificar alguns amigos confiáveis que possam trilhar esta jornada com você através de seu singular vale de desânimo.

Vitória Sobre ou Lutando Com?

O que quer que tenha sido o espinho na carne de Paulo, mesmo após suplicar a Deus por três vezes, Deus escolheu não removê-lo. Considere o quão comum era para que Paulo “lutasse com” ao invés de vivenciar a “vitória sobre”.

“…foi acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida. Contudo, já em nós mesmos, tivemos a sentença de morte” (2Co 1.8-9a).

“Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos” (2Co 4.8-9).

“. . . na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias . . . entristecidos, mas sempre alegres . . . ” (2Co 6.4b, 10a).

Rara é a pessoa que vivencia uma milagrosa, instantânea e duradoura vitória sobre a depressão. Ao invés disto ser desalentador, a mensagem franca de lutas diárias corajosas contra a depressão é alentadora porque são reflexões verdadeiras da vida que vivemos aqui, com corpos caídos em um mundo caído.

Pastor – com toda integridade, tenho que compartilhar com você que Deus não garante uma “vitória sobre”. Deus não promete “cura” ou “recuperação” se por isso significamos a remoção garantida de todos os sintomas da depressão. Entretanto, Deus promete sim confortar e cuidar (2Co 1.3-5). Ele promete sim que o que não pode ser curado pode ser suportado (1Co 10.13).

Auto-Suficiente ou Dependendo de Cristo?

Mas por que Deus não prometeu “felicidade o tempo todo”? Paulo deixa claro.

“Para que não confiemos em nós, e sim no Deus que ressuscita os mortos” (2Co 1.9b).

“Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (2Co 4.7).

“A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Co 12.9).

Pastor – como você vai saber quando estará “melhor”? Quando for uma pessoa mais dependente de Cristo. Quando estiver dependendo cada vez mais do Deus que o ressuscitou dos mortos (e a depressão nos parece como a morte). Quando estiver demonstrando cada vez mais a um mundo que está observando (incluindo sua família e congregação) que seu poder vem de Deus. Quando estiver cada vez mais sendo modelo da verdade de que a graça de Deus lhe é suficiente, que Seu poder se aperfeiçoa na sua fraqueza.

Remoção de Sintomas ou Crescimento em Semelhança a Cristo?

Orar pela remoção dos sintomas de depressão é legítimo – Paulo orou assim pela remoção do espinho em sua carne. Entretanto, nossa meta principal não é que sentimentos ou circunstâncias se alterem, mas sim lidar com nossos sentimentos e circunstâncias de maneira semelhante a Cristo. Nossa meta principal é ser como Cristo: nossa vida interior cada vez mais refletindo a vida interior de Cristo.

No jardim, Cristo orou para que o cálice passasse de si. Ele francamente expressou sua tristeza abjeta ao seu Pai celestial. Mas mesmo quando a tristeza não foi curada e até quando o cálice não foi removido, Cristo confiou-se ao Deus que ressuscita os mortos!

Martinho Lutero, que vivenciou profunda depressão espiritual e ansiedade, compreendia que o sofrimento era o remédio de escolha de Deus para nos curar de nossa doença mais profunda: a auto-suficiência. Isto não significa que toda depressão seja devida a nosso pecado pessoal. Significa que Deus pode usar a depressão como um agente curativo no processo relacional de nos tornar mais conformes à imagem do seu Filho.

Pastor – como saberá quando está “curado”? Quando encontrar a Deus for mais importante do que encontrar alívio. Quando conhecer a Cristo e ser como Cristo for mais importante do que encontrar a cura. Quando estiver enfrentando sua depressão face a face com Cristo, cada vez mais refletindo o rosto de Cristo.

Traduzido por Marq.

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