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Confie Mais em Deus do Que na Tecnologia Médica

A paciente, uma mulher idosa que vinha de outro país para passar um longo tempo com a família, sentia dor na perna havia vários meses. Uma noite, a dor ficou insuportável e a família a levou para o pronto-socorro. O médico, querendo investigar se a dor era causada por um nervo comprimido nas costas, pediu uma tomografia. As imagens poderosas que investigaram seu corpo não revelaram nada de anormal nas costas, mas viram algo em um lugar completamente diferente. Embora os achados (chamados de “incidentalomas”) fossem pequenos e não específicos, a palavra “anormal” apareceu no laudo. Nessas situações, o temor por algo ruim pode ser gerado pelo médico, pelo paciente ou por ambos. Neste caso, foi o sistema médico quem reagiu com medo, o que, no fim, levou a três exames adicionais e a uma dolorosa biópsia, antes de se certificarem de que não era nada grave.

Além dos milhares de dólares gastos para confirmar o “normal”, outro infortúnio deste caso, causado pelo excesso de cuidado, foi a queixa inicial da paciente. Na busca por um laudo que atestasse um resultado normal, a dor contínua da paciente foi completamente negligenciada. Sua reação final ao sistema médico de alta tecnologia revelou sua frustração: “Vou voltar ao meu país onde, pelo menos, os médicos ouvem o paciente ao invés de olhar para exames.”

Só temos a agradecer pela poderosa tecnologia que possuímos. No entanto, os Estados Unidos têm mais tecnologia que qualquer outro país, e nós, que temos acesso a ela, somos desafiados a conter nossa tendência em usá-la. Porém, sempre será difícil usá-la com sabedoria, pois o mundo é tão mau quanto tememos que ele seja.

Se ao menos pudéssemos depender de algo além do poder do pensamento e das ferramentas que possuímos para se colocarem entre nós e um desastre…

Abraçando o Inesperado

Estamos fora do jardim, agora; comemos da árvore e não há como voltar atrás. Sabemos demais para voltarmos à inocência e à segurança do jardim. Nosso mundo é assustador e aparentemente aleatório, porém, quanto mais tentamos controlar o caos, mais tememos o que permanece fora de nosso controle. Infelizmente, em certo nível, o mundo do Gênesis depois do capítulo 3 confirma nossos temores.

Na parte final de Gênesis lemos a história de José, cujos invejosos irmãos mais velhos o vendem como escravo ao Egito. Depois de venderem José, eles assumem terem resolvido o problema. Todavia, sua visão de que era ruim ter José por perto, e que vendê-lo como escravo seria melhor, criou o problema do sofrimento de seu pai, o que foi extremamente pior. Apesar de todos os seus filhos e filhas terem vindo para consolá-lo, ele “recusou ser consolado e disse: Chorando, descerei a meu filho até à sepultura. E de fato o chorou seu pai” (Gn 37:35). A tristeza de Jacó foi, lentamente, dissipando sua vida.

Em meio a resultados imprevistos, tentativas fracassadas de melhorar as coisas (por causa de nosso débil entendimento do que é bom e mau) e da contínua presença de enfermidades e tristezas, não importa o que façamos, nós percebemos que, apesar de nossos melhores esforços, não sabemos o que vai acontecer. É difícil admitir, mas somos atores em uma peça, conhecemos apenas um pequeno pedaço do roteiro e ansiamos por um diretor que saiba o que está por vir. Como C. S. Lewis escreveu em “A Última Noite Deste Mundo”:

Não conhecemos a peça. Sequer sabemos se estamos no I ou no V Ato. Não sabemos quais são os personagens principais e os secundários. O Autor sabe… que há um significado, que podemos ter certeza, porém não podemos ver isso. Quando tiver terminado, talvez venhamos a saber. Somos levados a esperar que o Autor tenha algo a dizer a cada um de nós sobre a parte que desempenhamos. Executá-la bem é o que infinitamente importa.

E nos alegraria muito “executá-la bem” se simplesmente soubéssemos que somos parte de uma história na qual eventos inesperados não incomodam o diretor, a incerteza e a imprevisibilidade não perturbam o enredo e a surpresa é até considerada parte essencial da história.

Boas Notícias

Depois do jardim, seria de se supor que Deus nos deixasse à nossa própria sorte; afinal de contas, se foi essa a vontade da humanidade, alcançamos precisamente o que queríamos. Todavia, como mostram continuamente as histórias das pessoas imperfeitas de Gênesis, Deus não parou de se preocupar. E o livro de Gênesis não termina com a escravidão de José ou o luto de um pai.

Os irmãos foram para o Egito, onde José ascendeu ao segundo posto, abaixo de Faraó. E o pai, reunido ao filho, morreu em paz. Agora, aqueles que o venderam como escravo encontram-se perante seu poderoso irmão, temendo o “mal” que ele fará, em vingança ao que lhe fizeram.

Mas José tem uma cosmovisão diferente. Ele acredita que o universo não é aleatório. Ele entende que o conhecimento pessoal de bem e de mal não é tão confiável quanto pensamos. E ele sabe que essa peça possui um diretor que não se perturba com o inesperado, mas controla completamente o roteiro, inclusive aproveita e faz uso das falhas dos atores. Ao final de Gênesis, as palavras de José a seus irmãos dão uma boa notícia a uma era ansiosa:

“Não temais; acaso estou eu em lugar de Deus? Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida. Não temais, pois.” (Gn 50.19–21).

Saber que Deus continua a ser um agente ativo no mundo, e que é capaz de incorporar até as coisas que consideramos ruins em um plano maior e melhor, altera drasticamente a forma como lidamos com saúde e enfrentamos as doenças. Sempre que nossa saúde está em perigo ou que ficamos doentes, normalmente (e adequadamente) buscamos o bem para manter ou recuperar nossa saúde. Mas será que há momentos e lugares em que outros bens são possíveis?

A ideia de que Deus é bom, de que Ele busca ter comunhão conosco e de que Ele tem o poder e a intenção de produzir o bem, não importa o mal que haja, deixa-nos receptivos a uma gama muito mais ampla de esperanças e expectativas. E isso vai além da ideia de que devemos ter saúde a todo o custo e com qualquer técnica.

Nota do editor: Este é um trecho adaptado do livro de Bob Cutillo, “Pursuing Health in an Anxious Age” [Buscando Saúde em Uma Era Ansiosa, sem edição em português] (Crossway, 2016). 

Traduzido por Daila Fanny.

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