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O que significa ser “chamado”? Revire esta pergunta em sua mente; talvez haja mais por trás disso do que se possa ver. “Chamado” não é uma palavra trivial. Ela implica em alguém que chama, no mínimo. E, como Sinclair Ferguson observou, “chamado” é uma das descrições de uma só palavra mais frequentes que o Novo Testamento utiliza para os cristãos. Quando Deus se repete, os homens devem prestar atenção.

Talvez você pense em chamado como se fosse uma busca, à qual um homem dedica sua vida—homens como William Wilberforce ou Martin Luther King. Talvez “chamado” traga à mente o seu pastor ou um missionário apoiado por sua igreja, que muitas vezes falam de se sentirem chamados. Para alguns, a vocação do homem é apenas outra maneira de falar sobre sua profissão; “chamado” significa meu trabalho ou carreira.

Pode ser que você se surpreenda, mas nas Escrituras, a ideia de chamado não é inicialmente um plano de carreira pelo qual optamos, ou uma causa que escolhemos, ou um código que usamos para desbloquear a vontade de Deus. O chamado bíblico é, em primeiro lugar, algo feito por nós. É a convocação de Deus para o Salvador, e para o seu serviço.

A Chamada de Deus ao Salvador

Você pode se lembrar do dia, do evento, da mensagem ou do ano em que você se sentiu direta e pessoalmente atraído para seguir a Jesus? Para alguns, foi dramático, um evento que define a vida, marcado por emoção e comprometimento. Para outros, foi um amanhecer lento, como o sol da manhã que elimina as sombras da noite até que um novo dia brilhe com vida. Para mim, foi uma temporada de paradas e começos, cambaleando irresistivelmente em direção a Deus, por razões que não conseguia compreender. Mas, independentemente de sua história, houve eventualmente uma verdade inegável que prendeu sua atenção: Deus o chamou para si mesmo (Rm 8:30).

Poucas coisas são mais extraordinárias do que a realidade de que o Criador do Universo se inclina para chamar os pecadores. “Porque eu não vim chamar justos, mas pecadores.” (Mt 9:13). Isto não é uma rede genérica lançada sobre o mar sem nome da humanidade. Esta convocação é apaixonada, particular e pessoal: “Mas agora, assim diz o Senhor que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu.” (Is 43:1)

É tentador pensar que este apelo diz mais sobre nós do que sobre Deus. Possuímos um valor inexplicável para Deus (Sl 8: 5-8; Mt 6:26), mas o ponto principal de sua convocação não é para confirmar nosso significado. Pecadores não são troféus especiais que Deus queria ganhar ou algum tipo de barganha alucinante que Ele simplesmente não podia recusar. Não, a glória maior do chamado lança uma luz não sobre os que são chamados, mas naquele que os chama (1 Co 1:29; Ef 2:8–9).

Em 10 de março de 1876, o primeiro telefonema foi feito. Alexander Graham Bell, o inventor, chamou seu assistente, Thomas A. Watson. “Venha aqui”, disse Bell à Watson no telefonema histórico, “Quero vê-lo.”

Watson nunca pressupôs que aquela primeira ligação para ele, fosse realmente a seu respeito. Não saltou de sua cadeira como um atleta de futebol americano, atirando o telefone ao chão e batendo no peito como um superstar após uma jogada espetacular. Não, Watson enxergava o plano maior. O primeiro telefonema não aconteceu por causa do cara sendo chamado, mas por causa do inventor.

O criador chamou; o destinatário respondeu.

De uma maneira extremamente profunda e infinitamente esplêndida, o chamado eficaz de Deus para a salvação revela muito mais sobre Ele do que sobre os que Ele chamou (Ef 1:3–14). Mais grandioso do que qualquer invenção humana, o instrumento para esse primeiro chamado não é um dispositivo, mas uma mensagem—o evangelho glorioso de um Salvador sofredor e ressuscitado (2 Ts 2:14). Isto significa que o primeiro chamado é o chamado mais importante. E não é sobre o que fazemos ou para onde vamos, mas sobre a quem seguimos (Rm 1:6).

A primeiro chamado é a base para um segundo. O primeiro determina quem somos—filhos de Deus redimidos pelo sangue do filho de Deus, Jesus. Com nossa identidade estabelecida, o segundo chamado traça o rumo para nossas vidas; é o chamado ao seu serviço (Jo 13:13–17).

A Chamada de Deus ao Seu Serviço

Deus não é como o Sr. Bell. Seu chamado não é um evento único. Sua postura em relação a nós é uma de chamado e convite contínuos. O cristão é encorajado para “que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados,” (Ef 4:1), vivendo para que “Ande cada um segundo o Senhor lhe tem distribuído, cada um conforme Deus o tem chamado” ( 1 Co 7:17). Em essência, Deus nos diz: “Este é quem você é”, e então ele abre nossos olhos para como devemos viver, em resposta a este chamado. Jesus faz ressuscitação cardiorrespiratória celeste em nós, respirando o Espírito Santo em nossos pulmões sem vida, e depois nos convida para “as boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:10).

Colocando de outra forma, há trabalho a ser feito. Mas isso também, começa com Deus. Deus é o primeiro e maior trabalhador, e as Escrituras revelam um Deus que gosta do seu trabalho. Ele declarou sua criação “boa” e, a seguir, convidou seus filhos a fazerem parte do negócio da família. Ele poderia ter continuado a estalar os dedos, para criar novos bebês, jardins e casas. Em vez disso, abençoou a seus filhos com vocações. Eles fazem bebês. Trabalham o solo. Colhem alimentos. Cultivam a Terra. Embora Deus certamente trabalhe de maneira sobrenatural, seu trabalho é mais frequentemente da variedade regular. Ele alimenta o mundo através de agricultores, financia negócios através de banqueiros, e cultiva a beleza através de artistas.

No entanto o chamado fica mais prático também. Somos feitos sob medida por nosso Criador para preencher um lugar e cumprir um destino. Estamos convocados a servir a um propósito. E para chegar a este objetivo, é necessário que respondamos a certas questões que perscrutam nossa individualidade.

Três Questões Vitais

1. Com o que sou dotado?

Como seres criados, somos feitos com certos pontos fortes e com talentos. Estes dons, alguns dos quais são espirituais (Rm 12:3–8; Co 12:4–11; 1 Pe 4:10–11), não são acidentais. Eles nos revelam um caminho que Deus nos convida a percorrer, onde encontramos funções e serviços compatíveis com nossos dons. É como descobrir o esporte ao qual nosso equipamento pertence. Explorar a questão do propósito dos dons (o que inclui perguntar aos outros!) o ajudará a guiá-lo a seu chamado vocacional.

2. Qual é a minha experiência?

A questão da vocação nos encontra num caminho já percorrido. Homens não são recém-nascidos. Chegam à idade adulta tendo passado por experiências significativas. Um lar desfeito, uma bolsa de estudos, um irmão rebelde, um tio na reabilitação, e inúmeros outros marcas ao longo de nossa jornada, moldam a nossa vocação; nossa vocação é vitalmente ligada à nossa história. A criação e educação de Paulo e sua experiência com Cristo fez dele uma testemunha única para os gentios (Ef 3:1–9; Fp 3:3–11). A formação médica de Lucas provavelmente o tornou mais confiável e consciencioso como historiador (Lc 1:1–4; At 1:1–3). Entender “quem eu sou” e “como fiquei dessa maneira” são questões cruciais para interpretar minha experiência e identificar minha vocação vinda de Deus.

3. Do que gosto?

Os homens não são seres sem paixão, sem vida. Temos paixões, desejos, aspirações—coisas das quais gostamos, as quais nos sentimos irresistivelmente atraídos a fazer. Elas nos trazem prazer, e quando somos honestos, muitas vezes sentimos o prazer de Deus em sua busca. “Deus me fez rápido”, disse o corredor olímpico Eric Liddell. “E quando corro, sinto Seu prazer.” A vocação muitas vezes segue a paixão e a ambição. É concebido quando o desejo se casa com a busca. Explora o que nos motiva. A questão sobre o que gostamos, busca qual ocupação nos traz o maior prazer para a maior glória de Deus.

Nosso Salvador Cinético

O primeiro telefonema começou com as palavras “venha aqui”. O primeiro chamado de Jesus começou com “siga-me”. Seguir a Jesus significa que viremos a ele e que aprenderemos quem somos: filhos e filhas do Rei do Universo. Mas Jesus nunca fica parado por muito tempo, e por isso nossa vinda a ele sempre resulta em segui-lo.

Antes de Jesus nos chamar a fazer, ele primeiro nos chama a ser. A partir desse lugar de intimidade, onde somos amados, conhecidos e aceitos, podemos aprender a ouvir a voz de Deus nos chamando. Ele o está chamando hoje.

Como você responderá?

Nota do Editor: Este trecho é uma adaptação da nova Bíblia Devocional do Homem versão ESV (Crossway, 2015). 

Traduzido por Marq.

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