Eu nunca gostei de limites. Lembro-me de, quando criança, enquanto brincava com minha cozinha infantil, um dos meus pais vir me dizer que era hora da soneca. Eu implorava para ficar acordada. Eles não viam que eu estava ocupada preparando a comida para minha família de faz de conta? Quem tem tempo para uma soneca? Com a economia do jeito que está? De jeito nenhum. Alguém precisa alimentar as crianças.
Com o passar dos anos, ainda tento resistir às limitações. Tento provar a Deus e a mim mesma que consigo fazer o suficiente, contribuir o suficiente e ser suficiente. Se eu recusar as sonecas e me esforçar, certamente produzirei fruto suficiente para atingir a segurança e a aprovação que meu coração incerto almeja.
Em um mundo em que se espera que façamos tudo e sejamos tudo, talvez você também lute com isso. Até mesmo aqueles de nós que confiam na obra consumada de Jesus Cristo tendem a depender dos próprios feitos para determinar seu valor diante dos outros e sua confiança diante do Pai. Frequentemente olhamos para os nossos frutos para medir nosso valor em vez de olharmos para o Filho e para aquilo que somente o seu mérito provê.
Mas aqui há uma tensão. Afinal, é correto desejar uma vida cristã frutífera. Então, como podemos pensar de maneira sábia sobre nossos limites e nossa produtividade?
Criados com Limites
Considere o homem bem-aventurado do Salmo 1. Ele certamente é produtivo — “ele prospera em tudo que faz” (v.3, NVT). Curiosamente, porém, sua vida não é impelida pela luta contra suas limitações, mas em deleitar-se na lei do Senhor e em viver dentro de seus bons limites. Ele é comparado a uma árvore, e note o que o salmista diz sobre o fruto da árvore:
Ele é como árvore
plantada junto a corrente de águas,
que, no devido tempo, dá o seu fruto,
e cuja folhagem não murcha;
e tudo quanto ele faz será bem-sucedido. (v.3, ARA, ênfase acrescentada)
O homem bem-aventurado é como a árvore que dá o seu fruto no seu devido tempo. Essa árvore não é uma macieira-laranjeira-figueira-cerejeira híbrida que produz todo tipo de fruto. Também não é uma árvore que dá fruto o tempo inteiro. Ela dá o fruto para o qual foi designada no tempo designado.
Fruto da Estação
Em nossa sociedade ocidental moderna, na qual temos acesso a quase todo tipo de frutos o ano inteiro, é fácil esquecer que as frutas e os vegetais foram criados para serem plantados e colhidos em determinadas estações. Todas as estações são necessárias para a produção do fruto — a aflição do inverno para eliminar insetos e pragas nocivas, a lavoura e as chuvas da primavera para cultivar nova vida, o calor do verão para desenvolver e fertilizar, e a colheita do outono para reunir a plantação e celebrar.
E os agricultores trabalham em cada estação. Mesmo quando as plantações ainda estão ocultas, eles trabalham a terra, preparando-a para a plantação, semeando, ou preparando-se para a colheita. Da mesma forma, Deus prepara o solo do nosso coração em cada estação, mesmo quando ainda não conseguimos ver o fruto.
Um dos momentos mais libertadores da minha vida ocorreu quando meu pastor me disse: “Você não precisa ter a chave para todas as portas. Você não precisa ter a resposta para todas as perguntas”. Talvez você também precise ouvir isso. Como o homem do Salmo 1, nossa produção de frutos é limitada. Ele dá fruto no devido tempo à medida que ele é nutrido pela água da vida que flui diretamente da Palavra de Deus. Ele está firmemente enraizado à medida que escolhe buscar direcionamento em suas páginas e não nas vozes do mundo.
Pomar de Bênçãos
Sim, somos chamados a dar fruto; mas não todos os frutos, o tempo inteiro. A beleza da igreja é que nenhum membro do corpo de Cristo é responsável por gerar toda a colheita sozinho. Pelo contrário, diversas árvores diferentes com raízes profundamente firmadas no bom solo e na água viva de Cristo criam um pomar de bênçãos para o mundo, demonstrando a glória da Videira e do Agricultor.
Dar fruto não é um fardo para os ramos que permanecem na Videira. Eles simplesmente fazem o que a vida da videira está produzindo neles. À medida que permanecemos em Cristo, por meio da obra do Espírito Santo, daremos o seu fruto. Seremos frutíferos ao nos deleitarmos não em nossas conquistas mas na lei do Senhor. Prosperaremos não ao nos esforçarmos ao máximo, mas ao meditarmos na Palavra de Deus dia e noite.
Negar nossos limites não é o caminho para uma colheita farta. Cristo Jesus morreu para nos dar descanso não de nossas limitações mas em meio às nossas limitações. Não se trata de um descanso que receberemos quando produzirmos uma certa quantidade de frutos — mas sim de um descanso para produzir fruto através de nós. Que ele receba a glória devida ao seu nome por todo fruto que ele está produzindo em nós e através de nós nesta estação.
Traduzido por Caroline Ferraz