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Algumas Poucas Linhas sobre o Coronavírus na Alemanha

Esta é certamente a primeira vez que esta geração de alemães foi testemunha de uma situação tão alarmante quanto esta. Centros esportivos, Universidades, lojas, escolas, Jardins de Infância, clubes, hotéis, restaurantes, museus, cinemas etc. Enfim, uma infinidade de atividades, serviços e comércios foram fechados a fim de evitar a propagação de uma doença que já é o tema em todas as rádios e canais de televisão no país. Embora acostumados a regras rígidas de convivência, estas “medidas que nunca foram vistas em nosso país antes” [1], como disse a chanceler Angela Merkel na conferência de imprensa do dia 16 de março, foram um duro baque não só na economia, como também na rotina dos alemães.

O que impressiona, entretanto, é a capacidade que a nação tem de se unir em prol de um objetivo comum. Os alemães são conhecidos por serem introvertidos e desobrigados quando se trata do indivíduo, mas extremamente colaborativos e socialmente comprometidos quando em torno de um propósito nacional. Desde 1995, por exemplo, os alemães pagam o Solidaritätszuschlag (ou Imposto de Solidariedade), criado com o objetivo de ajudar economicamente a região, que antes fazia parte da antiga Alemanha Oriental, a se reerguer. Parte do sucesso contra o avanço do vírus que a Alemanha tem conseguido deve-se a esse compromisso nacional. As pessoas evitam sair de casa, e até mesmo encontros entre familiares tem dado lugar à reclusão voluntária. Um povo que não era dado culturalmente a contatos físicos, agora evita-os mais ainda.

O medo não é injustificado. Apesar da letalidade baixa do vírus, os infectologistas afirmam que ele é facilmente transmitido, causando mortes especialmente em um grupo de risco no qual a Alemanha tem com fartura: idosos. Em 2018 a Alemanha tinha uma população de mais de 17 milhões de pessoas na terceira idade[2], o segundo maior número da Europa, perdendo apenas para a Itália. Seria um verdadeiro caos se apenas a décima sétima parte dessas pessoas fossem hospitalizadas, apesar do sistema de saúde alemão ser invejável. Dados do Deutsche Bank Research revelam que o país possui 1942 hospitais, e 497 mil leitos, dos quais 60%, isto é, 28 mil são exclusivos de terapia intensiva [3]. Toda esta bonança é fruto de um serviço de saúde misto, no qual planos de saúde privados, recebem dinheiro público para funcionar. O valor pago por cada contribuinte é definido de acordo com diversas variáveis, mas resumidas em uma lógica simples: quem pode mais paga mais; quem ganha menos, paga menos.

Além do sistema de saúde, orgãos ligados às igrejas também estão atentos aos cuidados com doentes. A Deutscher Caritasverband da igreja católica, e a Diakonie Deutschland, pertencente à igreja Evangélica Luterana são as duas associações mais conhecidas, promovendo alguns cuidados de saúde, inclusive nos lares. Embora funcionem bem, essas organizações revelam aquele lado individualista dos alemães. Muitos pagam seus impostos, inclusive o imposto religioso a fim de se isentarem da sua responsabilidade pessoal pelo próximo. Terceirizam a solidariedade. Além disso, mostra também a única faceta religiosa que sobrou das duas igrejas cristãs, devastadas pelo ceticismo da teologia liberal: a ação social. Para a grande maioria dos cristãos alemães, o Evangelho se resume a cuidar do próximo, nada mais do que isso. Sem uma perspectiva completa da salvação, só resta aquilo pelo qual se afadigam “debaixo do sol” (Eclesiastes 1.3)

A falta de esperança em Cristo produz, dentre outras coisas, o medo. Pesquisa encomendada pela Revista FOCUS mostra que 70% dos alemães com menos de 30 anos de idade, tem medo da morte [4]. Essa faixa etária deveria estar preocupada em como viver bem, e não em morrer. Em tempos de epidemia e outras situações-limite da vida, esses números tendem a aumentar. O medo da morte, entretanto, pode ser até positivo: dá nos um choque de realidade. Faz ecoar na cabeça de muitos, a pergunta que Deus fez na parábola do homem rico: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? (Lucas 12.20). A epidemia talvez faça com que muitos repensem a sua eternidade. O homem rico é o estereótipo da nação alemã. Um país que juntou riquezas para si, mas nada para com Deus.

O trabalho missionário entre os alemães visa justamente mostrar qual a nossa verdadeira riqueza. Nosso tesouro está em Cristo, e a morte não pode nos roubar essa esperança. Embora a morte nos assuste, podemos gritar a plenos pulmões: Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? (1 Coríntios 15.55). O escárnio da morte não vem das nossas obras, mas dos méritos do bendito Salvador; morto, mas ressurreto pelo seu próprio poder.

Orem pra que saibamos como transformar esta epidemia, para glória de Deus. Assim certamente será, mas queremos fazer parte desta missão que não é nossa, mas dEle. Orem para que Deus quebre o orgulho dos alemães, fazendo-os abandonar a confiança irrestrita que muitos têm na ciência, e se rendam ao verdadeiro Salvador. Orem a fim de que Deus nos dê sabedoria e disposição para consolar os aflitos, sofrer com os enlutados e aconselhar a todos. Sempre visando aquele prêmio final, a coroa da vida. Esse é o tesouro que o Corona não pode nos roubar.

 


[1] https://www.spiegel.de/politik/deutschland/coronavirus-angela-merkel-spricht-ueber-massnahmen-der-regierung-a-3b03dc2b-ab75-40f2-90c9-97d3c1828497

[2] https://de.statista.com/themen/172/senioren/

[3] https://www.faz.net/aktuell/wirtschaft/corona-in-deutschland-bis-wann-reichen-die-krankenhaus-betten-16676537.html

[4] https://www.focus.de/wissen/mensch/neurowissenschaft/positive-abschiedsworte-psycho-studie-beruhigt-zu-sterben-ist-weniger-schlimm-als-wir-befuerchten_id_7232729.html

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