Este artigo irá traçar brevemente as origens da teologia da prosperidade e sugerir algumas razões pelas quais ela tem prosperado nos Estados Unidos.
Enraizada no Novo Pensamento
A teologia da prosperidade é construída sobre uma heresia quase-cristã, que se popularizou no final do século 19 e início do século 20 nos Estados Unidos, conhecida como Novo Pensamento. Esta filosofia ensina que a chave para ter saúde e riqueza está em pensar, visualizar e falar as palavras certas. Norman Vincent Peale (1898–1993), pastor da Marble Collegiate Church, em Nova Iorque, popularizou as ideias e as técnicas do Novo Pensamento nos Estados Unidos através de seu livro O Poder do Pensamento Positivo (1952). No entanto, Ralph Waldo Trine (1866–1958), foi o propagador mais prolífico do Novo Pensamento. Em ambos os trabalhos, pode-se discernir alguns dos elementos-chave recorrentes da teologia da prosperidade: dizer as palavras certas, invocar uma lei universal de sucesso com palavras e ter fé em si mesmo.
As ideias do Novo Pensamento influenciaram, entre outros, o evangelista, pastor e fundador do Instituto Bíblico Betel, E. W. Kenyon (1867–1948). Sua abordagem teológica é a base para a característica mais simbólica da teologia da prosperidade: dizer as palavras certas para transformar a sua realidade; o que você confessar, você terá. Kenyon serviu como um link para os pregadores populares da prosperidade, que formaram a base do movimento moderno desse tipo de teologia.
Por exemplo, no final dos anos 1940, Oral Roberts irrompeu na cena religiosa com o ministério da alegada cura e prosperidade financeira. Na década de 1980, seu programa de televisão foi um dos programas religiosos mais populares do país. Enquanto Roberts certamente atraiu a atenção nacional e apregoou a teologia da prosperidade, muitos reconhecem Kenneth Hagin (1917–2003) como o evangelista mais proeminente da teologia da prosperidade, e também o pai do movimento Palavra da Fé. Mais do que qualquer outro fator, o movimento Palavra da Fé foi o veículo responsável por espalhar os ensinamentos de prosperidade por todo os Estados Unidos no final do século 20.
Em 1962, Hagin estabeleceu seu ministério evangelístico com o propósito de propagar suas doutrinas. Contudo, ele não estava sozinho na promoção do ensino da prosperidade. Muitos outros pregadores adotaram essa doutrina contaminada de Hagin e começaram seus próprios ministérios na mídia. Exemplos incluem o filho de Hagin, Kenneth Hagin Jr., Kenneth Copeland, Frederick Price, Robert Tilton, Benny Hinn, Charles Capps e Jerry Savelle, entre outros.
Embora não haja denominações da Palavra da Fé ou da teologia da prosperidade, muitas organizações sustentam os ministérios dos promotores da prosperidade e exportam esse tipo de teologia para o mundo todo através da mídia. Em 1973, Paul e Jan Crouch, juntamente com Jim e Tammy Faye Bakker, fundaram a Trinity Broadcast Network (TBN). De acordo com seu site, a TBN é hoje a maior rede de televisão cristã do mundo. A TBN serve como uma plataforma para os professores da teologia da prosperidade alcançarem milhões, incluindo os bem conhecidos pregadores de “saúde e riqueza”, como Rod Parsley, Creflo Dollar, Paula White, Kenneth Copeland, Jesse Duplantis e Kenneth Hagin Jr.
Nos Estados Unidos, hoje, a teologia da prosperidade é popular, mais uma vez, através dos ministérios de Joel Osteen, T. D. Jakes, Joyce Meyer e outros. Em seu livro de 2007, O Que Há de Melhor em Você (Thomas Nelson), Osteen escreve: “Comece a pensar, sentir e falar positivamente sobre si mesmo. A Escritura diz: ‘Nossa fé torna-se eficaz quando reconhecemos tudo de bom que há em nós.’ … Nossa fé é mais eficaz quando reconhecemos as coisas boas que estão em nós. Declare: ‘Eu tenho um futuro brilhante. Eu sou capaz. Eu sou talentoso. As pessoas gostam de mim. Eu tenho o favor de Deus.’”
Esta mensagem de pensamento positivo e de poder das palavras para criar novas realidades é nada mais do que as ideias do Novo Pensamento. Infelizmente, seus impérios midiáticos exportam esse falso ensino para todo o mundo. Sem dúvida, a teologia da prosperidade se originou nos Estados Unidos, mas por que este tipo de evangelho ressoa e cresce aqui?
Segredo do Sucesso
Embora seu sucesso não seja ocasionado por um fator apenas, uma combinação de argumentos, talvez, ajude a explicar porque a teologia da prosperidade radicou-se nos Estados Unidos.
Ele apela para o desejo natural do ser humano de ser bem sucedido, saudável e estar financeiramente seguro. Embora estes desejos não sejam inerentemente pecaminosos, eles podem tornar-se, caso substituam o nosso desejo por Deus. O problema, então, não são a saúde e a riqueza em si, mas a nossa atitude em relação a estas coisas. Sempre que colocamos nossa segurança e confiança em qualquer coisa ou qualquer pessoa que não seja Jesus Cristo, nos tornamos idólatras. Portanto, em certo sentido, a teologia da prosperidade traz o que há de pior em um coração rebelde, lutando para encontrar sua suficiência em Cristo. Esta explicação, é claro, faz sentido para todos os seres humanos, independentemente do local onde vivem, mas a próxima explicação é peculiar aos Estados Unidos.
Ela apela para os americanos porque os ajuda a realizar o Sonho Americano. Ter sua casa própria, dois carros na garagem, segurança financeira e uma família feliz. Impulsionar o Sonho Americano faz parte de uma cultura de consumo em que os anunciantes tentam deixá-lo insatisfeito com a sua saúde, sua aparência, suas finanças, ou suas posses atuais, para que você compre seus produtos. “Você merece mais, e você pode melhorar sua vida e ser mais feliz com o nosso produto”, diz sua mensagem. Além disso, há um forte conceito de realização pessoal, e talvez até de prerrogativas, na cultura americana, e a mensagem de prosperidade promete exatamente isso: realização pessoal através de confissões positivas e palavras de fé. Em última análise, realizar o Sonho Americano é sinal de sucesso, ao invés de fidelidade a Deus, e sua fé invisível em Deus resultará em riquezas visíveis. A teologia da prosperidade ensina que você não precisa desistir do Sonho Americano; em vez disso, você deve vê-lo como plano de Deus e bênção para sua vida.
Ela apela para certos aspectos da cultura americana. Otimismo e individualismo transbordam nos Estados Unidos. Você já ouviu mantras como “Erga-se pelo seu próprio esforço” e “Seja tudo que você pode ser”? Responsabilidade pessoal e uma atitude positiva são características desejáveis, mas com esse otimismo e individualismo os norte-americanos tendem a ter uma perspectiva elevada da natureza humana e seu potencial. A teologia da prosperidade diz que somos bons e que temos a capacidade de submeter as circunstâncias ao nosso querer. Basta mudar o pensamento e as palavras, crer e então Deus (nosso serviçal cósmico) nos dará um empurrão no caminho para o sucesso.
Há oportunidades de criar riqueza e aumentá-la na estrutura do capitalismo, e também numa forte ética de trabalho. Os Estados Unidos são um país rico, em parte, devido a estes fatores. O sistema capitalista tem suas vantagens, e a criação de riqueza através do trabalho honesto é bom para a sociedade; dessa forma, fica claro como a teologia da prosperidade é sedutora. Quando se vive em um país onde há um sistema econômico próspero e é possível crescer financeiramente, ter Deus por perto, abençoando o sistema econômico, é um bônus adicional. Você só precisa ter fé suficiente e bênçãos divinas fluirão de Deus. Afinal, é seu direito e privilégio por ser filho do Rei.
Muita gente na igreja é mais influenciada pela cultura do que pelas Escrituras. Os cristãos geralmente definem felicidade, alegria e sucesso pelos padrões do mundo, ao invés dos padrões de Deus. Nós, muitas vezes, vemos o sucesso em termos de status, riqueza e posição, ao invés de santidade, fidelidade e obediência a Deus.
Infelizmente, a teologia da prosperidade foi difundida em outros países através de livros, conferências, meios de comunicação e da televisão, inclusive em lugares improváveis. Ano passado dei uma palestra na Armênia. Qual foi o tema solicitado? A verdade sobre a teologia da prosperidade. Ela continua a se espalhar globalmente, a partir de seu berço, os Estados Unidos da América.
Traduzido por Alessa Mesquita do Couto.