×
Procurar

Na lógica das Escrituras, a repreensão é uma dádiva. Na lógica de certas mentalidades seculares, a repreensão é um ato de opressão. Para certos tipos de secularistas, até mesmo a palavra “pecado” é intrinsecamente opressiva. Os secularistas suspeitam que isto implica em você conhecer os padrões e eu não. Portanto, você pretende usar estes padrões para me dominar. Você deseja controlar meu comportamento. Esta visão faz sentido em uma perspectiva de um mundo plano e bidimensional, no qual as disputas por poder temperam cada interação humana.

Por outro lado, as Escrituras pressupõem que Deus existe e que falou a nômades rebeldes que tendiam a seguir o caminho errado prejudicando a si mesmos. Ele ordenou que suas palavras fossem escritas e estudadas, para que sua sabedoria pudesse ser amplamente disseminada, tanto por pessoas comuns quanto por seus agentes. Neste contexto, a repreensão é uma dádiva:

Não repreendas o escarnecedor, para que te não aborreça; repreende o sábio, e ele te amará. Dá instrução ao sábio, e ele se fará mais sábio ainda; ensina ao justo, e ele crescerá em prudência… repreende ao sábio, e crescerá em conhecimento. (Pv 9.8–9; 19.25b)

O Amor Aceita e Transforma

Os pregadores fiéis entendem que, a não ser pelo Espírito, as pessoas seculares têm pouco interesse na correção das Escrituras. Mas os visitantes da igreja e até mesmo membros fiéis podem perceber a repreensão, de maneiras que tem origem no pensamento secular. Como sabemos, há um interesse crescente em “lugares seguros”, livres de ideias discrepantes que poderiam ser interpretadas como micro-agressões. Crentes que adotaram esta perspectiva podem ter a expectativa de que a igreja seja um destes “lugares seguros” onde as pessoas desfrutam de aceitação incondicional, onde possam ser elas mesmas sem medo de julgamento. Bob Yarbrough observa, com razão, que em “culturas baseadas na auto-estima, a repreensão pastoral pode ser uma noção paradoxal e indesejável”. No entanto, visto que Deus é santo e as pessoas não sāo santas, alguém necessita abordar esta disparidade.

O ensino das Escrituras diz o seguinte: Deus aceita as pessoas como elas são por causa da união delas com Cristo, mas ele não as deixa no ponto onde elas estão — pastores ou amigos também não o devem fazer. Se um novo convertido é viciado em drogas, nós o (a) amamos incondicionalmente, bem como o Senhor o (a) ama. no entanto, não é nada amoroso ignorar seu vício ou abandoná-lo (a) a hábitos autodestrutivos. O amor genuíno tanto aceita quanto transforma. Jesus aceitava os pecadores, depois os transformava. O amor transformador deseja que as pessoas se tornem as melhores versões de si mesmas. O amor transformador é necessário porque as pessoas ofendem a Deus, ferem os outros e a si mesmas. Todo mundo fica melhor se a impiedade e a injustiça cessarem.

No entanto, o amor que transforma e o amor que aceita necessitam um do outro. Sem o amor que aceita, o amor transformador critica e incomoda e nunca fica satisfeito. Mas, sem o amor transformador, o amor que aceita se deteriora em indulgência e até mesmo em abandono.

Suponha que um homem esteja prestes a colocar um prato em um forno, o que vai acabar danificando ou o prato, ou o forno, ou ambos. É vital que sua esposa o “repreenda e corrija” imediatamente. Por outro lado, se ele for uma pessoa que come desleixadamente, que tende a ficar com mostarda no queixo e espinafre nos dentes, sua esposa fica em uma posição mais delicada. Se ela ressaltar de forma curta e grossa cada gota de molho derrubada, o amor que aceita desaparece. Mas se ela jamais comentar nada, ele sujará suas roupas e, nem que seja só um pouco, prejudicará sua reputação social. Nem sempre é fácil decidir quando corrigir e quando calar. Esta é uma questão de sabedoria e oração, no entanto, os Provérbios acima nos dão algumas pistas. Antes de falarmos algo, seria bom perguntar: É provável que um homem sábio me ame depois de ouvir minha correção? Ele “crescerá em conhecimento” através de mim? Uma mulher sábia “se fará mais sábia ainda” depois que eu falar, ou ela provavelmente ficará ferida ou irritada?

As Escrituras São Sempre Uteis

Aquilo que as Escrituras dizem, é o próprio Deus que o diz, e por este motivo é útil — proveitoso ou benéfico — para seus propósitos divinamente ordenados. Elas revelam o caminho da salvação e ensinam, repreendem, corrigem e instruem na justiça (2Tm 3.16-17). Para Paulo, “ensino” geralmente se refere à doutrina (1Tm 2.12; 4.11; 1Co 4.17; Gl 1.12; 2Te 2.15). Os ensinamentos são a mensagem apostólica, preservada em discurso e em forma escrita (Gl 1.6–12). Os termos “repreensão” e “correção” são semelhantes, mas não idênticos. Repreender é mostrar uma falha, refutar, censurar ou revelar erro. Repreender é também um ato de amor (Lv 19.17), uma vez que aponta erros de doutrina e de prática.

Em 1 Samuel 25, Abigail, uma mulher que as Escrituras chamam de sábia, corrige Davi ao ele descer da montanha, respirando ameaças de morte contra seu marido insensato Nabal, após este ter insultado Davi. Ela certamente repreende Davi e o faz com tanta perspicácia e gentileza que ele louva a Deus por ela. Ela assume a culpa pelos insultos de Nabal, e depois lembra a Davi que o Senhor travou suas batalhas por ele e o preservou (com alusões aos eventos com Golias). Ela realça a promessa de Deus de que um dia ele governaria Israel e diz que Davi não iria querer tomar o trono com mãos ensanguentadas (1Sm 25.28–31).

Davi ouve, se arrepende e louva ao Senhor pela correção dela:

Bendito o Senhor, Deus de Israel, que, hoje, te enviou ao meu encontro. Bendita seja a tua prudência, e bendita sejas tu mesma, que hoje me tolheste de derramar sangue. (1Sm 25.32–33)

Ao argumentar com base na lei, na natureza, nos atos e nas promessas de Deus, Abigail amenizou a raiva imprudente de Davi, e ele louvou a Deus por isto.

Nunca é Errado

Nunca é errado oferecer repreensão e correção, mas se temos a esperança de receber uma resposta ideal, é necessário lembrar as ocasiões e as formas usadas por aqueles que se destacaram em repreender de forma eficaz. Afinal, vivemos em uma cultura baseada em auto-estima na qual a repreensão pastoral é considerada como “paradoxal e indesejável”.

Portanto, o que fazer? Que o pregador, o professor e o amigo cerquem o amor que transforma com o amor que aceita, tal como Jesus o fez. E que tenhamos a prudência de Abigail, apelando gentilmente às leis e promessas de Deus, para trazer os rebeldes de volta ao caminho do Senhor.

Traduzido por David Bello

 

CARREGAR MAIS
Loading