A primeira missionária estrangeira que me lembro de ter conhecido foi uma mulher solteira que vivia na África. Ela ficou em nossa casa por uma semana e me deu um lindo colar de sementes polidas cinzas que havia trazido de sua amada Angola. À noite, ela contava histórias que faziam minha imaginação jovem dançar — imagens de animais africanos, aldeias, hospitais empoeirados e cultos de adoração exuberantes. Ela foi a primeira de muitos missionários que se tornaram nossas amigos, pois meus pais demonstravam a alegria de dar generosamente, orar consistentemente e juntar-se à obra do evangelho ainda que longe.
Portanto, anos depois, quando buscava apoio para meu sustento, quando fui trabalhar com a Cru, a comunhão com a minha equipe de apoio não deveria ter vindo como uma grande surpresa. Mas repetidamente fiquei maravilhada com ela.
As amizades que florescem entre uma missionária de carreira e os apoiadores radicalmente generosos que mantêm os braços dela erguidos é algo notável. Tais amizades não só dão uma força aos missionários em situações difíceis; elas literalmente mudam o mundo.
E assim tem sido desde o começo do movimento missionário.
Teófilo, Excelentíssimo Amigo
Considere: Se não fosse por Teófilo, nossas Bíblias talvez não incluiriam Lucas ou Atos.
Devemos quase um terço do Novo Testamento a uma amizade que se espalhou de Deus para Teófilo (“um amigo de Deus”), de Teófilo para Lucas e finalmente até nós.
Não sabemos muito sobre o homem misterioso, para quem Lucas e Atos foram escritos. Mas alguns estudiosos especulam que a escrita de Lucas (e talvez as viagens missionárias de Paulo) tenham sido financiadas por ele. O Evangelho de Lucas pode ter sido semelhante a uma carta de oração missionária moderna, apresentando “por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem, para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído” (Lucas 1.3–4).
Tal como aponta John Rinehart, Lucas salpicou seus relatos com histórias inéditas sobre Jesus e o dinheiro, de parábolas sobre a generosidade pródiga a histórias de mulheres que financiaram o ministério itinerante de Jesus. É como se o bom médico quisesse se conectar com seu benfeitor mostrando como o próprio investimento de Teófilo resultava e colheita de recompensas eternas.
E tal como Lucas dedicou sua obra ao “excelentíssimo Teófilo”, nós missionários e pastores por todo o mundo temos uma dívida de gratidão com nossos excelentíssimos amigos, os apoiadores e colegas de equipe que são patronos do evangelho.
O Poder Amparador da Amizade
O privilégio de buscar apoio financeiro nem sempre é considerado um grande prêmio. As aparentemente infinitas ligações telefônicas, cartas, encontros e pedidos (“pode considerar em oração se deve apoiar nosso ministério?”) são tão assustadores para missionários em potencial que muitos desistem antes de começar ou partem em busca de um cargo de ministério remunerado.
Mas a transição de uma apresentação de apoio inicialmente estranha para uma amizade robusta de décadas é extraordinária. Quando a maioria dos missionários consegue reunir sustento suficiente para sair ao campo missionário, uma alta porcentagem de seus parceiros são pessoas que recentemente eram desconhecidas e agora são amigas.
Com o passar dos anos, meu marido e eu passamos por profundos vales de desânimo e temporadas de prolongado ataque espiritual. Ao longo do caminho, nossos apoiadores ofereceram inúmeras palavras e ações de carinho. Como diz Provérbios 17.17, “Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão”.
Este é o tipo de amor que me permite chamar uma amiga distante para orarmos juntas e então cair no choro durante o telefonema. Nossos apoiadores compartilharam milhares de refeições com meu marido e eu e ficamos hospedados em uma dúzia de casas. Em três ocasiões, nosso carro pifou e generosos sustentadores o substituíram. Uma vez um grupo de apoiadores vieram de avião para fazer uma reforma total em nossa casa (antes do programa de TV “Reconstrução Total” existir). Recebemos dádivas anônimas com exatamente a quantidade necessária de dinheiro no momento exato, evidência tangível do poder da oração.
Êxodo 17 oferece uma grande imagem do poder de sustentação da amizade, quando Moisés envia Josué para combater os amalequitas:
Quando Moisés levantava a mão, Israel prevalecia; quando, porém, ele abaixava a mão, prevalecia Amaleque. Ora, as mãos de Moisés eram pesadas; por isso, tomaram uma pedra e a puseram por baixo dele, e ele nela se assentou; Arão e Hur sustentavam-lhe as mãos, um, de um lado, e o outro, do outro; assim lhe ficaram as mãos firmes até ao pôr-do-sol. E Josué desbaratou a Amaleque e a seu povo a fio de espada. (Ex 17.11–13)
A perseverança de um missionário é uma resposta às orações de seus amigos.
E esta amizade é uma bela rua de mão dupla. Ao longo dos anos, tivemos a honra de orar por nossos apoiadores que tiveram câncer, sofreram a morte de um cônjuge, tiveram mudanças de carreira e crises de fé. Ficamos emocionados quando o marido incrédulo de uma apoiadora confiou em Cristo, ou quando outro vendeu sua impressionante casa para entrar no ministério em tempo integral. Nós nos unimos aos nossos apoiadores em seus próprios esforços evangelísticos e tivemos o prazer de compartilhar partes de nossa história em seus estudos e aulas bíblicas.
Poder de Mudar o Mundo
Muitos dos momentos incríveis da história da igreja foram possíveis graças a amigos generosos nos bastidores. A tradução da Bíblia de William Tyndale, as viagens missionárias de William Carey, os orfanatos de George Müller, o contrabando de Bíblias pelo irmão Andrew — todos eles foram possibilitados por uma amizade concentrada nascida da generosidade e da fé franca e de mãos abertas..
Tal é o Deus a quem servimos que quando ele deseja construir um templo, ele não agita uma varinha de condão, mas desperta o coração de seus filhos para doarem generosa e alegremente. Quando ele quer alcançar uma nação, raramente envia uma companhia de anjos gloriosos. Em vez disso, ele envia uma equipe de pessoas falíveis. E quando ele quer usar um indivíduo, ele raramente escolhe o mais talentoso, mas o mais comum — sustentado pelas orações silenciosas e pelo amor tangível de seus amigos.
Traduzido por Pedro Henrique Aquino
