[Nota do Tradutor: Este artigo utiliza ilustrações vindas do jogo de beisebol, esporte muito popular nos EUA.]
Meu irmão rebate como canhoto. É a coisa mais estranha, porque ele faz todo o resto (escreve, arremessa, acena, troca cartão de visita) com a mão direita.
Uma vez, pedi que ele explicasse a anomalia do seu hábito de rebatedor canhoto. “É simples”, ele me disse. “Comecei a fazer errado e depois continuei”. Isso me fez pensar sobre pregadores. Mais especificamente sobre pregadores novos, os novatos que criaram hábitos de púlpito precocemente, caras forjados no seminário que ocupam novos púlpitos e os indivíduos afiando as suas ferramentas no aço do plantio de igrejas. Talvez você tenha sido assim, ou talvez ainda seja. Se assim for, então aprenda com a rebatida do meu irmão: não comece com o pé errado. E se começou assim, misericórdia, não continue a fazê-lo!
Em três décadas de ministério, presenciei algumas pregações que necessitam de um reinício. Infelizmente, muitas delas saíram dos meus próprios lábios. Tal como meu irmão, comecei errado em várias áreas, até que a minha rebatida no púlpito fosse corrigida ou por frutos ruins ou por bons conselhos. Alguns dos meus erros são comuns aos pregadores novos. Outros erros de novato, felizmente, eu evitei.
Aqui estão sete dos mais comuns. Se você estiver nas primeiras entradas de um ministério de pregação, talvez esta lista o ajude a começar bem, rebater certo e continuar assim.
1. Introduções Redundantes
Uma boa introdução tem dois objetivos simples: (1) Prender a curiosidade dos ouvintes e (2) levá-los ao caminho da proposição ou da passagem bíblica. A menos que você seja o Matt Chandler, você necessita de uma introdução. A palavra-chave aqui é “uma”. Muitos novatos contam várias histórias, falam sobre eventos atuais, juntam alguns comentários inteligentes ou ficam sobrevoando o texto, esquecendo-se da pista de pouso. Não faça isto. Responda à pergunta: “Por que este texto deve fasciná-lo?”; e depois volte para a Bíblia. Ah, e misture um pouco suas introduções. Comece com uma citação, faça uma pergunta, recrie o contexto, pense muito sobre como tornar sua introdução interessante, diversa e breve.
2. Ilustrações Preguiçosas
Boas ilustrações convencem o ouvinte de que a Bíblia é relevante; que a verdade de Deus caminha habilmente no mundo real. Tais ilustrações dão muito trabalho. Necessitamos desenvolver um bom faro por ilustrações, desenvolver um sistema para arquivá-las e recuperá-las, e dedicar tempo na preparação do sermão para apresentar e aplicar habilmente a ilustração. Ilustrações preguiçosas são as que se tornam previsíveis. O pregador vai demasiadamente ao mesmo poço raso: esportes, filmes, política ou (e essa vai doer) sua família.
No pomar das ilustrações, as histórias da família podem facilmente se tornar as frutas baixas, que são rapidamente colhidas e que apodrecem rapidamente. Às vezes, pregadores jovens simplesmente não permitem que sua imaginação se expanda além de seu lar, seja para a natureza, a história da igreja, um conjunto mais amplo de autoridades culturais e, o mais importante, a Bíblia. Ilustrar pontos através da Palavra de Deus dobra o efeito da Palavra e gera uma congregação mais familiarizada com a Bíblia.
3. O Fator-Herói
Quando contamos histórias sobre nós mesmos, ou sobre nossa igreja, quem é o herói? É Deus? É o poder extraordinário do evangelho irrefreável? Ou nossas histórias são como cavalos de Tróia que introduzem clandestinamente o “eu” em nossos sermões?
O púlpito é como um volante para a igreja. Felizmente, muitos pastores dirigem suas igrejas em direção ao Deus triúno. Mas, às vezes, nossa mensagem vai a caminho da montanha do “eu”.
Pode acontecer através de frases ou contexto, mas o efeito é sempre o mesmo: as pessoas saem pensando tão bem do pregador quanto pensam do texto pregado. Falar constantemente sobre nossas famílias, utilizar uma pilha bem selecionada de histórias de sucesso de nosso ministério, golpear do púlpito alguma pessoa crítica, e utilizar um vocabulário selecionado voltado mais para mostrar perspicácia do que ser claro, podem fazer com que as pessoas confiem no pregador de Deus mais do que nas promessas de Deus.
Bryan Chapell escreveu:
Embora relatos de experiências pessoais geralmente tenham características mais poderosas para que a plateia se identifique, tais ilustrações devem ser equilibradas com material de outras fontes para evitar acusações de preocupação pessoal.
Ao invés de aumentar sua estima aos olhos das pessoas, faça de Deus o herói.
4. Utilização Demasiada da Palavra Evangelho
Pregadores jovens usam a palavra “evangelho” com muita frequência. Esta pode parecer uma crítica estranha ou mesquinha, mas, por favor, ouça. O uso liberal da palavra “evangelho” em um sermão não o torna mais centrado no evangelho do que o uso liberal da palavra “‘América” o torna americano. Há centenas de maneiras de descrever o que significa ser americano sem repetir a palavra.
Anos atrás, um líder na nossa igreja, bondoso e biblicamente astuto, sugeriu que minha pregação poderia melhorar se eu pudesse pensar em outras formas de celebrar a centralização no evangelho sem usar a palavra “evangelho”. Inicialmente, tive dificuldade em entender a ideia, o que me fez pensar se ele realmente entendia a minha pregação. Ele a entendia até bem demais. Este homem fiel não estava sugerindo sinônimos de “evangelho”. Estava sugerindo que existem centenas de maneiras de explicar e exaltar as boas novas extraordinárias de um Salvador cheio de amor que se sacrificou para salvar os pecadores.
5. Exposição Desorientada
Todos nós já vimos isto. Abre-se a Bíblia, lê-se o texto, oferece-se alguns comentários cerimoniais sobre o texto e, em seguida, deixa-se a órbita do texto e vai-se para os planetas “Meu fardo”, “Minhas ideias” e “Coisas interessantes que pensei sobre este tópico”.
A verdadeira exposição faz do texto o leme do sermão. O texto guia o sermão para fora do cais, aos mares abertos do público original, da exegese e da contextualização. Ele determina a direção, a organização, até mesmo como a mensagem é aplicada. Um pregador desacoplado do texto é um navio sem leme, um barco que procura desesperadamente a direção e o destino.
Eis uma observação sobre pregadores: quanto mais inteligentes são, mais tentados serão a seguirem sem leme. Em outras palavras, as mentes que são mais férteis e absorventes muitas vezes têm mais ideias que competem com o texto durante a preparação e a apresentação. É desta maneira que explico o Spurgeon, cujos sermões, que eram baseados no texto, centrados em Cristo, e corajosamente apresentados, não são necessariamente grandes exemplos de pregação expositiva. Mas ele foi o Príncipe dos Pregadores, e eu não sou. Você também não é. Portanto, agarre-se a seu leme e não solte até que tenha terminado de pregar.
6. Oportunidades de Humor
Aqui me refiro a um comentário cômico aleatório que parece estar fora do contexto, fora do caráter ou fora dos limites. Isso acontece quando nossas tentativas de sermos espertos ou espirituosos se tornam uma distração. Sacrificamos a mentalidade sóbria para conseguir uma risada. Preparamos nossos sermões presumindo que necessitam dos aprimoramentos da nossa espiritualidade. John Piper observou que “A risada parece ter substituído o arrependimento como objetivo de muitos pregadores”. Não se engane: é um hábito perigoso, e novos pregadores são particularmente vulneráveis a ele.
Um pregador novato frequentemente seleciona um pregador-Jedi, um pregador popularizado por conferências, tamanho da igreja ou histórico, e procura imitar seu estilo. Embora esta seja uma fase comum para a maioria dos pregadores emergentes, é importante que ele tenha consciência da marca que deixa e esteja ciente de que, ao imitar o estilo de humor, é provável que este pareça artificial.
Poucas coisas desabonam um pregador tão rapidamente quanto a impressão de que ele não está sendo ele mesmo. A imitação cômica tem um cheiro de insinceridade. Isso não quer dizer que não há lugar para o humor em uma mensagem; pelo contrário, existem pregadores cujas mensagens poderiam ser um pouco humanizadas através de uma dose de imaginação cômica. Tenho recordação de pregações em que estava rindo à solta, mas que logo mais me abriram cirurgicamente, pelos comentários incriminadores que se seguiram. Quando implantado bem e sabiamente, o humor é um presente para a congregação.
Se você está se perguntando se seu humor é um presente para sua congregação, comece com estas perguntas: sou engraçado na vida privada? Alguém além de mim, minha esposa e minha mãe acha que sou engraçado? Seu humor público deve ser consistente com sua personalidade privada. Meu estilo e o uso do humor melhoram a mensagem ou retiram algo dela? O meu uso do humor condiz com a minha idade ou prejudica minha postura?
7. Fobia de Avaliação
A chave para o crescimento como pregador é a avaliação. No entanto, é desconcertante a frequência com que novos pregadores ficam relutantes em estabelecer laços de avaliação para melhorar seus sermões e a apresentação destes. Talvez não seja desconcertante. Quero dizer, quem quer ouvir que aquelas 12 a 20 horas de preparação, aquelas palavras que batalhamos para selecionar, as ideias que consumiram nosso coração e alma não foram, na hora da pregação, nem inspiradas nem inspiradoras?
A avaliação pode ser dolorosa, mas é uma dor boa, do tipo que sentimos no dia seguinte após começarmos a nos exercitar novamente. Poucas coisas nos ajudarão a crescer mais rapidamente como pregadores do que selecionar um pequeno grupo de pessoas qualificadas (do clero ou leigos) para fazer uma avaliação honesta. Não tenha medo disso, encare. Uma área importante para avaliação deve ser a duração do sermão. Não comece com o tempo que sua tradição particular lhe concede (“Sou carismático e pregamos por uma hora!”). Comece com a sua experiência e seus dons, conforme definido pela liderança da sua igreja. Se for como a maioria das pessoas, poderá achar que o tempo atribuído para seus sermões é menor que o que desejaria. Use-o. O pregador sábio deixa as pessoas querendo mais e dormindo menos.
Rebata de Forma Diferente?
O hábito de rebatedor canhoto do meu irmão nasceu de começar errado e continuar assim. Se este artigo revelou áreas para melhoria, agora é o momento de passar para o outro lado do home plate; agora é a hora de começar a rebater de forma diferente. Não fique desmotivado. Esses erros são comuns aos pregadores emergentes, e muitos expositores talentosos tropeçaram neles no passado.
Deus é fiel e dedicado a ajudar aqueles que desejam sinceramente proclamar seu evangelho. Pregar, afinal de contas, é ideia dele (I Co 1.21). Chamá-lo para o ministério, com todos os seus pontos fortes e fracos, também foi ideia dele. Portanto, confie nele. Aquele que o chamou para pregar é competente o suficiente para torná-lo eficaz.
Traduzido por Mariana Alves Passos.