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Nos últimos anos, acompanhamos um renovado interesse pela Teologia Reformada. Muitas pessoas têm conhecido as doutrinas da graça, a pregação expositiva e o evangelho genuíno — o que é uma bênção. Um dos fatores que contribuiu para esse movimento foi a popularização da internet e o avanço das mídias sociais, que tornaram acessíveis pregações de notáveis pastores como Paul Washer, John Piper, Augustus Nicodemus, entre outros. Pela providência divina, muitos acabaram revendo seus conceitos e, ao compararem sua antiga vivência no movimento neopentecostal, passaram a adotar uma teologia mais sólida e reformada.

Vale lembrar, no entanto, que esse despertar, embora recente para muitos, está enraizado em uma tradição antiga e robusta, expressa em confissões históricas como a Confissão Batista de 1689. A teologia reformada não é uma moda nova, mas uma herança bíblica e confessional que atravessa os séculos.

Contudo, apesar dos benefícios desse “novo movimento reformado”, é preciso estar atento a alguns perigos. Ao perceberem que foram ensinados de forma errada, alguns correm o risco de abandonar práticas legítimas e bíblicas, ou de cair em extremos, generalizando erros e tomando atitudes radicais. Por isso, aqui vão três conselhos para os que estão iniciando sua caminhada na fé reformada:

  1. NÃO DESPREZE A ORAÇÃO

Alguns, antes de conhecerem a Teologia Reformada, vieram de contextos onde a oração era supervalorizada em detrimento do estudo bíblico. Agora, correm o risco de cometer o erro oposto: encantar-se tanto com a doutrina e o estudo das Escrituras a ponto de negligenciar a vida de oração. Isso é um grande equívoco.

Alguém já disse que a oração e a meditação na Palavra são como as duas asas de um avião — qual delas é a mais importante? Ambas são indispensáveis. O ensino reformado, longe de diminuir a oração, deve estimular ainda mais uma vida de comunhão com Deus. É atribuída a Charles Haddon Spurgeon a frase:

“Em geral, jamais veremos muita melhoria em nossas igrejas, enquanto a reunião de oração não ocupar o lugar mais elevado na estima dos crentes.”

Portanto, não despreze a reunião de oração da sua igreja local, nem a sua prática diária, como nos exorta o apóstolo Paulo:

“Orai sem cessar” (1 Ts 5.17).

Este conselho também se aplica à prática do jejum, muitas vezes esquecida.

  1. TENHA COMPROMISSO COM A IGREJA LOCAL

Muitos que descobrem os grandes pregadores pela internet acabam, com razão, afastando-se de igrejas que pregam heresias ou um “outro evangelho”. No entanto, alguns passam a viver como “cristãos independentes”, achando que podem alimentar sua fé apenas com vídeos e livros, sem se envolver de fato com uma comunidade local. Esse é outro grande erro.

Mesmo quando encontram uma igreja saudável, alguns se recusam a se comprometer, talvez por trauma ou frustração com líderes anteriores. Mas o modelo “desigrejado” não é bíblico. A vida cristã genuína é vivida em comunhão com outros crentes, sob a liderança pastoral e em serviço mútuo. Torne-se membro de uma igreja local que leve o Senhor e Sua Palavra a sério. Envolva-se, sirva com os dons que Deus lhe deu e seja um crente fiel na comunidade.

Lembre-se da exortação de Hebreus:

“Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns…” (Hb 10.24–25).

  1. EVITE VÃS DISCUSSÕES

Alguns falam em tom de brincadeira sobre a “fase da jaula”, em que o novo calvinista deveria ser “enjaulado” para não ferir ninguém. Embora seja uma hipérbole, há verdade nisso. Ao descobrir as doutrinas da graça, alguns se tornam militantes arrogantes, zombando de irmãos mais fracos na fé ou entrando em debates desnecessários, muitas vezes de forma hostil e sem discernimento.

Essa postura geralmente se vê nas redes sociais, especialmente entre os mais jovens. O problema é que a doutrina que deveria gerar humildade acaba promovendo orgulho. A pessoa se torna uma contradição ambulante.

Lembre-se: a Teologia Reformada vai muito além dos cinco pontos do calvinismo ou dos cinco solas. Ela envolve uma visão de mundo piedosa, enraizada na Escritura, que deve ser vivida com humildade, sabedoria e amor. Estude com profundidade, conheça a Teologia Bíblica, e aprenda a discernir quais discussões valem a pena. Nem todo embate precisa ser enfrentado.

Considere o conselho de Paulo a Timóteo:

“Dá testemunho solene a todos perante Deus, para que evitem contendas de palavras, que para nada aproveitam, exceto para a subversão dos ouvintes. Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. Evita, igualmente, os falatórios inúteis e profanos…” (2 Tm 2.14–16).

CONCLUSÃO

O maior cuidado que você deve ter é não ser reformado apenas na teoria. Não basta conhecer Spurgeon, Calvino ou as grandes confissões de fé se você não viver aquilo que aprendeu. As doutrinas não foram dadas para vencer debates na internet, mas para moldar uma vida santa, piedosa e dedicada à glória de Deus.

Tenha uma vida de oração, comprometa-se com a igreja local, viva com sabedoria e humildade. Dê bom testemunho em casa, no trabalho e online. Lembre-se: ortodoxia (doutrina correta) deve sempre gerar ortopraxia (prática correta).

Soli Deo Gloria.

 

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