A vida cristã é tecida por hábitos espirituais que conformam uma rotina bela e santa. Cristãos oram, leem a Palavra, congregam-se como corpo de Cristo. Casam-se, acolhem filhos para serem educados no temor do Senhor e sustentam valores baseados na cosmovisão das Escrituras. Eles trabalham: homens batalham para prover o lar, enquanto mulheres sonham com a maternidade e dedicam-se à criação dos filhos, cuidando do lar com alegria. Não é uma vida perfeita, mas, por séculos, esta tem sido a teologia pública de cristãos que vivem e cantam o Salmo 128.
Essa simplicidade da vida cristã sempre enfrentou oposição. Em determinados momentos da história, mentiras foram propagadas contra ela. Uma das mais antigas foi a acusação de que, na Ceia do Senhor, crianças eram sacrificadas. Pagãos disseminaram a ideia de que a fé cristã abrigava crimes terríveis contra a humanidade em sua liturgia e doutrina. Este tipo de ataque não é coisa do passado. A mesma estratégia está viva hoje, não apenas fora, mas também dentro da igreja.
Talvez você esteja muito ocupado com tarefas boas e necessárias. Quem sabe você é daqueles que dizem: “Tenho tantas coisas para fazer que não sobra tempo para lidar com assuntos da internet ou influenciadores.” Certamente, focar no essencial e usar as mídias de forma responsável é sábio, mas não negligencie certos temas, especialmente se seus filhos consomem conteúdos virtuais. Há uma raposa no galinheiro, e muitos ainda não acordaram para essa realidade.
Enquanto pastores ensinam nos púlpitos, nas visitas e reuniões de doutrina; enquanto pais realizam o culto doméstico e instruem seus filhos nos mandamentos de Deus e nos catecismos da piedade e ortodoxia, uma agenda avança silenciosamente entre os jovens, especialmente os da geração Z. Refiro-me ao movimento Woke. Muitos já ouviram falar dele, mas outros ainda não. Em termos simples, Woke significa “despertar” para questões de justiça social, como racismo, defesa das mulheres e das minorias. Helen Pluckrose e James Lindsay observam:
Esses ativistas são obcecados por poder, linguagem, conhecimento e pelas relações entre eles. Interpretam o mundo através de uma lente que detecta a dinâmica de poder em cada interação, elocução e artefato cultural, mesmo quando não são óbvios ou reais. É uma visão de mundo que centraliza ressentimentos sociais e culturais e visa converter tudo em uma luta política de soma zero, girando em torno de marcadores de identidade como raça, sexo, gênero, sexualidade e muitos outros. [2]
O que haveria de errado em engajar-se na defesa do próximo? Esta pergunta precisa ser respondida com cuidado.
A fé cristã, corretamente compreendida, ensina que todos os seres humanos são criados à imagem de Deus e, portanto, merecem respeito, independentemente de cor, credo ou estilo de vida. Homens não têm direito de agir de forma abusiva para com suas esposas ou filhos, seja física ou psicologicamente. Cristãos trabalham, desfrutam do fruto do seu labor e voluntariamente compartilham com aqueles em necessidade, sustentando missões e obras sociais. No entanto, esta vida simples e piedosa é vista por alguns como um grande inimigo.
Sob o pretexto de despertar para questões sociais, cujos pressupostos são estranhos às Escrituras, muitos promovem a cultura Woke. Este movimento afirma que liderança masculina e fragilidade feminina, temas claramente ensinados na Bíblia, são combustíveis para o abuso. Caso você discorde, será rotulado como supremacista branco. Se você defende o casamento conforme a Palavra de Deus, dizem que você está empunhando uma “arma psicológica” contra minorias. Trabalha honestamente e sustenta sua casa? Prepare-se: afirmam que você faz parte de um sistema opressor. E se ousar defender-se, será atacado e cancelado virtualmente.
Para compreender a profundidade do impacto do pensamento Woke na percepção cultural contemporânea, é necessário observar como essa ideologia redefine conceitos básicos de identidade e moralidade. A lógica desse movimento frequentemente ultrapassa o escopo de ações individuais, responsabilizando pessoas por características inerentes, como cor de pele ou participação em sistemas sociais históricos, independentemente de intenções ou comportamentos pessoais. Owen Strachan exemplifica isso com notável precisão ao descrever como a ideologia Woke trata até mesmo as expressões mais simples de uma vida cotidiana comum, demonstrando a radicalidade dessa visão de mundo:
De acordo com o pensamento Woke, a pessoa “branca” média participa da cultura majoritária americana, uma cultura que está irrevogavelmente manchada de racismo. A dona de casa “branca” bem-intencionada do meu estado atual, Missouri, que cuida de seus afazeres diários, tenta ser uma boa vizinha e vive uma vida tranquila, não é fundamentalmente considerada uma cidadã decente em virtude da graça comum de Deus. Não há graça comum no mundo do trabalho; há apenas os justos (os despertados) e os culpados (pessoas brancas comuns). No entanto, essa dona de casa não é apenas uma parte da estrutura injusta mais ampla; de acordo com Kendi e outros, ela é o cerne do problema. Mesmo publicando fotos de seus filhos no Instagram, fazendo bolos de abóbora no outono e trabalhando como voluntária no abrigo local para sem-teto, ela é, na verdade, uma “supremacista branca”. Ela não apenas participa do problema coletivo; em um sentido real, ela é o problema. [3]
Você sabia disso? Talvez você estivesse dormindo enquanto esta onda Woke invade a igreja. Mas lembre-se das palavras de Paulo:
“Assim, pois, não durmamos como os demais, mas estejamos alertas e sejamos sóbrios. Pois os que dormem, dormem de noite, e os que se embriagam, embriagam-se de noite. Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo a couraça da fé e do amor e o capacete da esperança da salvação” (1Ts 5:6-8).
Pais, pastores, conselheiros, jovens e adolescentes, acordem! Não precisamos de ideologias materialistas para defender o que é bom e belo. A dignidade humana é sustentada pelos cristãos por motivos bíblicos. Não estamos em pecado por nossa cor de pele ou pelas estruturas da sociedade. Somos pecadores porque quebramos a lei de Deus – herdamos a maldição do pecado original. E a conversão não virá por levantar bandeiras Woke , mas por meio do arrependimento e da fé em Cristo.
Despertem! Sejam pais e mães mais consagrados ao lar. Filhos, honrem seus pais e não sigam o exemplo do filho tolo que não tema o Senhor (Pv 19.13). Trabalhem com afinco, sustentem a si mesmos e ajudem os necessitados (Ef 4.28). Honrem o casamento, como Cristo afirmou que foi ordenado desde o princípio (Mt 19:4-6). Tratem todos com honra e busquem a paz com todos os homens (Rm 12:18). Não se conformem às ideologias deste século, mas mantenham a comunhão dos santos forte e livre das raposas. E se seus filhos ou irmãos foram laçados pelo mundo, sigam em oração e perseverem na proclamação do Evangelho (Ef 6:18). Estejam vigilantes e firmes, pois o mundo que Deus criou e governa é o único que verdadeiramente funciona – um Reino eterno, que jamais poderá ser abalado ou cancelado. Acordem!
[1] Francisco Macena da Costa é Doutorando em Ministério (D.Min.) e Mestre em Teologia Sistemática pelo CPAJ, com bacharelado em Teologia pelo Seminário Teológico de Fortaleza. Pastor presbiteriano desde 2008, é professor de Teologia Sistemática, Teologia Histórica e História da Igreja no Seminário Presbiteriano do Norte (SPN) e colaborador na educação cristã da Igreja Presbiteriana de Boa Viagem, em Recife.