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Solidamente Reformada, Surpreendentemente Pequena

Aqui no Brasil, a maioria dos pastores reformados e conservadores têm pequenas congregações, de 80 a 120 membros. Este fato é bem conhecido e tem sido muitas vezes usado como crítica contra a doutrina reformada. ‘Se a teologia reformada é tão bíblica e boa’, eles dizem, ‘por que seus pregadores e defensores não conseguem convencer as pessoas?’ Por que tão poucos frequentam suas igrejas? E por que estas igrejas não conseguem crescer ou levar jovens a frequentar os seus cultos?

Conheço igrejas reformadas no Brasil que estão crescendo, que são dinâmicas, evangelísticas, focadas em missões e relativamente grandes. Mas são exceções. Por “pequenas igrejas” estou me referindo não só à dimensão, mas também à visão e ao envolvimento em evangelismo e missões. Tenho em mente igrejas que tem sido pequenas por muito tempo. Em alguns casos, elas estão até mesmo perdendo membros. Fico incomodado porque isso está acontecendo em um país onde milhões de pessoas estão se tornando “evangélicas”, onde há significativa liberdade de expressão e religião, e onde o solo é fértil e as portas estão abertas para a proclamação do evangelho.

Apesar de eu ser um pastor reformado, gostaria de fazer seis breves observações sobre esta tendência preocupante.

1. Ao rejeitar a ideia de que, em termos de crescimento da igreja, os números não dizem tudo, muitos de nós esquecemos que eles dizem alguma coisa. Será que podemos realmente dizer que não tem problema uma congregação reformada crescer apenas 1 por cento nos últimos 20 anos (taxa de crescimento muito menor do que a população do Brasil e até mesmo de suas igrejas evangélicas)? Em um país onde os evangélicos não são perseguidos pelo Estado e as oportunidades estão abertas diante de nós?

2. Igualmente lamentável é a atitude que justifica um tamanho minúsculo com o argumento da soberania de Deus. Claramente, como cristão reformado, eu entendo que é Deus quem dá o crescimento (1 Co 3:6,7). Mas também acredito que, antes de colocar qualquer “culpa respeitosa” sobre Ele, devemos nos fazer algumas perguntas:

  • Nossa igreja está bem localizada?
  • Nosso culto é acolhedor e convidativo?
  • A igreja tem desenvolvido esforços consistentes e frequentes para ganhar novos membros?
  • Nossa pregação é direcionada para a conversão de pecadores?
  • Nossa pregação é inteligível para qualquer descrente que aparecer por lá?
  • Os membros de nossa igreja estão atentos e prontos para usar todas as oportunidades para testemunhar para os descrentes, e até mesmo criá-las?
  • Existe oração vigorosa para conversão de pecadores e crescimento da igreja?

Temo que muitos pastores reformados culpam a soberania de Deus antes de fazer sua lição de casa.

Por que Deus desejaria que as congregações reformadas fossem excepcionalmente pequenas e falhassem em prosperar em um país livre, onde outras igrejas evangélicas estão crescendo dramaticamente? Será que Deus predestina tais igrejas a serem doutrinariamente corretas, mas pequenas em tamanho, e as outras a crescerem, apesar de teologia e metodologia infiéis? Será que Ele não predestinou pastores reformados para serem ganhadores de almas, evangelistas, plantadores de igrejas e arautos do reino?

3. Talvez o problema de muitos de nós, pastores conservadores, é que não estamos abertos a mudanças (não importa o quão pequenas) em nossos cultos, atitudes e posturas, a fim de nos mostrarmos mais amigáveis para as pessoas. Ser uma igreja acolhedora, convidativa, atraente e interessante não é pecado, e não contradiz as confissões reformadas. Pastores reformados precisam pensar em maneiras de fazer sua igreja crescer ao invés de simplesmente racionalizar que “é bonito ser pequena”.

É verdade que muitas igrejas evangélicas crescem através do uso de estratégias questionáveis ​​e de metodologias que atraem pessoas com promessas de bênçãos materiais e curas que não podem ser cumpridas. No entanto, criticar o tamanho dessas igrejas e apontar seus erros teológicos e metodológicos não justifica nossas igrejas reformadas nanicas. O que nos impede de trabalhar, com métodos fiéis, para sermos igrejas grandes?

4. O que mais me assusta é a maneira orgulhosa pela qual alguns pastores de congregações pequenas citam o ensinamento de Jesus, de que “muitos são chamados, mas poucos escolhidos”. “Os verdadeiros crentes são poucos”, dizem eles. “Eu prefiro ter uma igreja pequena com membros fortes do que uma congregação enorme, cheia, superficial e egoísta.” Bem, se eu tivesse que escolher entre as duas, eu preferiria a pequena também. Mas por que deve haver uma escolha entre as duas? Será possível ter igrejas reformadas cheias de pessoas que estão lá pelas razões certas?

5. Pastores reformados, em geral, tendem a considerar a sã doutrina o aspecto mais importante da vida da igreja. Mas, em nossa busca para reforçar certas verdades, receio que estejamos dando atenção indevida a outras, como espiritualidade bíblica, oração e evangelismo planejado. Acredito que a doutrina deve ser sempre evangelística, e que o evangelismo deve ser sempre doutrinário. “Pregação”, como disse Charles Spurgeon, “é teologia que sai de lábios quentes.”

Alguns pastores reformados sentem-se tão paralisados pela doutrina da depravação total que não sabem como convidar pecadores a confiar em Cristo. O fantasma de Charles Finney, divulgador do apelo no culto, os assombra e atormenta; eles chegam ao final de sua mensagem sem a menor ideia de como aplicá-la aos perdidos, a fim de não darem a impressão de que estão fazendo um apelo. Eles também temem ser animados demais, a ponto de se parecerem com os pentecostais. No entanto, acredito que se os pregadores reformados parecessem mais humanos, naturais e confortáveis no púlpito, eles provocariam maior interesse.

6. Por fim, penso que ao reagir contra os excessos do Pentecostalismo, muitos pastores reformados tenham medo de orar demais e buscar grande avivamento espiritual em suas igrejas.

Não tenho soluções fáceis para o nanismo eclesiástico das congregações reformadas. No entanto, acredito que precisamos de um quebrantamento espiritual genuíno entre os pastores: Nos humilhar diante de Deus, sondar nossas vidas e ministérios, buscar a plenitude do Espírito Santo, e buscar a glória de Deus, acima de tudo.

Traduzido por Lindsei Lansky.

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