Sou pastor numa pequena aldeia a cerca de 500 quilômetros a oeste de Nairóbi — na região do cinturão do açúcar no Quênia. Durante a maior parte da minha vida adulta, fui um pregador do movimento pentecostal/carismático/Palavra da Fé. Mas chegou um dia em que minha fé não fazia sentido algum.
Ouvi pela primeira vez o evangelho quando era jovem, apesar da mensagem conter propaganda falsa sobre um Jesus que iria satisfazer todas as minhas necessidades e realizar todos os meus sonhos. Foi-me dito que se eu permanecesse como um não-salvo, isso me levaria a uma vida de miséria, doença e pobreza. Parecia lógico, então, abraçar a Cristo e entrar num mundo de bênçãos ilimitadas.
Eu queria tudo o que Deus tinha para mim, e zelosamente galguei até me tornar um arauto da mensagem que recebi—o que aprendi mais tarde que é o ensino do movimento Palavra de Fé, que alguns chamam de “teologia da prosperidade”. Eu não conhecia nenhum outro evangelho. Acreditava que Deus era bom, e isto significava que nada desconfortável viria dele.
Aprendi a lidar com Satanás por causar qualquer coisa negativa em minha vida. A batalha espiritual estava enraizada em mim. Como fazia parte da “classe de Deus”, como os professores da Palavra de Fé dizem, tinha autoridade absoluta para criar meu próprio mundo através do pensamento positivo e de confissões baseadas na fé.
Eu cria que tinha autoridade absoluta para criar meu próprio mundo através do pensamento positivo e de confissões baseadas na fé.
Cria que a vontade de Deus incluía saúde e riqueza, as quais, pela fé, poderia chamar à existência. Qualquer coisa menos que isto deveria ser repudiado. Se todo o resto falhasse, poderia acionar a língua celestial dos anjos—orar em línguas—para contornar a Satanás e às hostes das trevas.
Iludido pela Falsa Garantia
Em 2003 minha esposa e eu perdemos nossa primeira filha, Whitney. Cri que o “espírito da morte” tinha prevalecido sobre mim. Uma grande instabilidade surgiu em mim e em minha esposa, também seguidora da Palavra de Fé. Como Deus pôde deixar o diabo nos vencer desta forma?
Algumas pessoas bem intencionadas da igreja sugeriram que a nossa calamidade poderia ser devido ao pecado em nossas vidas, ou por uma maldição, ou, como eu cria firmemente, a uma falta de fé. Em luto, minha esposa e eu passamos meses nos arrependendo de possíveis pecados ocultos. Também procuramos respostas em nossas famílias, em caso de uma maldição hereditária—um ensino dominante no movimento da Palavra de Fé.
Durante este período de crise interna, minha esposa ficou grávida novamente. E na tarde ensolarada que levamos para casa nosso filho recém-nascido, Robin, estávamos eufóricos com o triunfo de um bebê saudável. Mas as próximas 24 horas tornaram-se o pior momento de nossas vidas.
Quando Robin desenvolveu complicações, entramos numa batalha espiritual frenética, juntamente com uma ampla rede de amigos que intercediam a Deus em nosso favor. Desta vez não seríamos pegos de surpresa. Nossa fé nos asseguraria que o Diabo não levaria Robin. Chamamos aqueles que nos deram garantias “proféticas”: apenas a vida era permitida; a morte não era a nossa porção. Mas a noite tornou-se mais intensa.
Na época, minha esposa cria que tinha um dom profético. Suas visões naquela noite incluíam Robin brincando alegremente na lama, e um Robin crescido falando a milhares como um pregador internacional. Em lágrimas, ela compartilhou estas imagens comigo na presença de guerreiros de oração reunidos em nossa pequena casa.
Depois da meia-noite, quando a condição de Robin piorou, uma nova palavra profética explicou o erro da Palavra de Fé, indicando que agora a sua cura tinha sido colocada nas mãos de um médico. Saí de casa segurando meu bebê e procurando o hospital. Às 3 da manhã, o médico olhou nos meus olhos determinados para declarar a pior notícia que eu poderia ouvir. Robin estava morto.
Evangelho Inútil
Carreguei o corpo do meu filho de volta para a minha esposa em casa. Apesar de exausta, ela olhou para cima e me chamou de “papai”, um carinho que ela nunca havia usado. “Ele está bem agora”, continuou ela. “Traga-o para mim; Quero alimentá-lo.”
Eu gritei das reentrâncias mais profundas do meu ser, naquela manhã escura, enquanto minha esposa e eu lutávamos sobre o corpo de Robin. Havíamos crido em nosso poder sobre a própria morte. A oração para a ressurreição de nosso filho se tornou um circo que só serviu para fortalecer a nossa dor.
Enquanto meu mundo desabava, sentimentos caóticos me atacavam. Em um certo momento gritei com Deus, decepcionado que ele havia falhado comigo novamente.
Eu havia exercido uma fé tremenda; como Deus pôde deixar isto acontecer?
Em seguida, vieram uma série de abortos precoces. Sem respostas, estávamos consternados com Deus, cujos caminhos não faziam mais sentido para nós. Embora a fé tivesse se tornado uma miragem, mantivemos as aparências, tentando fingir que não estávamos desesperados. No entanto, interiormente, nos sentíamos em dúvida, sem esperança, até mesmo amaldiçoados.
Como poderíamos conciliar estas coisas ruins com um Deus bom? O ensinamento da Palavra de Fé nos instruía a interpretar o sofrimento de Jó como uma consequência de sua confissão negativa: “O SENHOR deu, e o SENHOR tirou” (Jó 1.21). Mas como deveríamos interpretar o fato do próprio Paulo adoecer (Gl 4.13) e ainda assim regozijar-se em suas aflições (2 Co 12.10)? Como poderíamos continuar conciliando este retrato com os modernos “super-apóstolos” que comercializam saúde e riqueza em seus livros, DVDs, e mega-reuniões?
Na minha crise de fé e raiva com Deus, jurei sair do ministério. Sentia-me como uma fraude por pregar um “evangelho” que não funcionava. Deus tornou-se um enigma, e a fé um labirinto. No entanto, o passar do tempo e as atividades rotineiras do igrejismo acalmaram nossas mentes inquietas—por um tempo.
Reviravolta
Em 2006, minha igreja me enviou da grande cidade costeira de Mombaça para a cidade de Mumias, para dedicar-me ao trabalho pastoral. Permanecendo no meu erro da Palavra da Fé, continuei propagando um sistema falido da crença que havia se tornado para mim uma forma de ganhar a vida. Eu ainda esperava me tornar rico através da fé, confessando e visualizando—mas, enquanto isso, ia fingindo até que isto chegasse.
O Senhor me derrubou do cavalo em agosto de 2008. Depois de 17 anos na escuridão de um vão e falso sistema religioso de obras, ganância e nenhum credo, eu vim a entender a graça salvadora de Jesus Cristo, que colocou todas as minhas pretensões no lixo.
A hora da verdade veio quando um casal australiano visitou um amigo que é pastor.
Papa Billy e Mama Tessa seriam mensageiros de Deus que me arrancariam das chamas do inferno.
Meu amigo me pediu para traduzir para suaíli enquanto Billy pregava uma mensagem em inglês. O tema, “justificação somente pela fé através da justiça imputada de Cristo,” soava ridículo para mim. No palco, durante uma desconfortável hora, me forcei para entregar palavras que acreditava serem antibíblicas e heréticas. Mas o Senhor soberano trabalhou em meu coração, suscitando razão através de um testemunho interior das verdades proclamadas. O Espírito Santo plantou dúvida suficiente sobre o sistema que eu estava defendendo.
Ao longo das três semanas seguintes, me senti torturado por Deus pelos meus erros, que se tornaram evidentes em cada texto bíblico que no passado eu pensava que apoiavam minhas crenças. Os mesmos versos agora pareciam diferentes, afirmando a mensagem de Billy.
Como um pregador de cruzadas, eu imprimia nas pessoas tanto o imenso valor de sua contribuição para a salvação, quanto o seu esforço contínuo para manter a salvação. Eu insistia que uma vida justa, crer corretamente, e confessar da forma correta, obrigaria Deus a fazer aquilo que desejávamos. Esse edifício de areia agora desmoronava à luz das Escrituras: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; “(Ef 2.8).
Novos Desejos, Novos Olhos
Nos meses seguintes ao meu confronto com o evangelho bíblico, eu conversei com Billy e Tessa através de uma constante troca de emails. Deus os usou para responder às minhas perguntas e para me enviar materiais que me ajudaram a nutrir minha nova fé em Cristo. O reino de Deus se desenvolvia em meu coração, enquanto eu colocava minha fé na obra consumada do Salvador, que se tornou mais bonito e mais valioso para mim do que qualquer coisa na terra. Meu desejo por saúde e riquezas perdeu sua influência. Eu desejava a Jesus.
Embora eu não entendesse os pontos mais detalhados de teologia, minha conversão foi decisiva. Encantado por Cristo, que ordena que os seus “tomem a sua cruz e sigam-me” (Lucas 9:23), agora eu sentia que “as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada.”(Rm. 8.18).
Meu novo nascimento me deu novos olhos para ver as Escrituras. O estudo cuidadoso limpou o veneno da Palavra de Fé de minha vida. Eu vi o sofrimento como um dom de Deus para direcionar nossos olhos no infinito tesouro que temos em Cristo.
Em 2010, o Senhor abriu uma porta para que eu estudasse num seminário bíblico de tradição reformada em Nairóbi, onde passei três anos. A Palavra de Deus se tornou rica, viçosa e emocionante. Depois o Senhor me enviou de volta para Mumias e Mombaça para pregar o evangelho genuíno e combater a epidêmia do ensino da Palavra de Fé.
Meu novo ministério incluiu a realização de conferências reformadas e a fundação do Wisdom Training Center (um instituto bíblico de ensino básico, em seu quarto ano) para trazer a verdade bíblica para grande parte dos líderes pentecostais, carismáticos e da Palavra de Fé. O Senhor abençoou esta abordagem com o estabelecimento de igrejas saudáveis. Esta é a missão da minha vida e ao meu povo.
Que Deus possa salvar muitos e enviá-los para confrontar o erro dominante em nossa terra.
Traduzido por Kellvyn Mendes.