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Na Páscoa, Esqueça o Barulho e Pregue a Ressurreição

Lembro-me do meu primeiro sermão de Páscoa, assim que me tornei pastor. Eu mal havia completado dez meses na função em nossa pequena igreja. Pra ser sincero, não sabia muito bem o que estava fazendo, e as pessoas foram muito gentis suportando minha inexperiência.

Mas eu mal podia esperar pela Páscoa. Sabia que nosso auditório estaria mais cheio do que o normal e estava ligado e cheio de energia. Um doador generoso financiou o café da manhã servido antes do culto. Nossos voluntários haviam dado duro nas atividades para as crianças. Mas ao subir ao púlpito, orei a Deus para que eliminasse todo o barulho e me ajudasse a focar na mensagem central do motivo para nos reunirmos naquela manhã.

Nesta Páscoa, haverá uma série de coisas pesando em seu coração. Os pastores têm enfrentado pressões que nunca enfrentaram antes. A pandemia criou profundas fendas expostas no que diz respeito à segurança, ao medo, ao uso de máscaras e até mesmo ao ato de se reunir. Tensões políticas e raciais têm pressionado e colocado os pastores em posições difíceis. E muitas famílias, isoladas há tantos meses, vem apresentando problemas de saúde mental, disfunção nos relacionamentos e um senso de desânimo. Pastorear atualmente é algo extremamente difícil.

No entanto, a mensagem da Páscoa é, em primeiro lugar, o motivo de termos entrado nessa profissão. Passamos pelos anos de seminário, entregamos nossas vidas a este chamado misterioso, pregamos sermões, visitamos pessoas em hospitais, suportamos os caprichos inconstantes de membros da congregação, tudo por causa de um único fato: Jesus Cristo ressuscitou dos mortos.

Paulo baseia todo o seu ministério neste fato quando escreve à igreja em Corinto que lhe dera tanta dor de cabeça. Escândalo sexual, divisões, glutonaria, ganância, auto exaltação, arrogância e muitos outros problemas (soa familiar?) assolavam aquela igreja do Novo Testamento. Contudo, Paulo suportou traições, naufrágios, apedrejamento, abandono, exclusão de sua família, e diversos outros pontos de sofrimento porque sabia e cria que Jesus venceu o pecado, a morte e o túmulo. Se Jesus não ressuscitou, diz Paulo, os cristãos seriam “os mais infelizes de todos os homens” (1Co 15.19). Nós, ministros do evangelho, seríamos especialmente dignos de pena se não crermos, até os ossos, na veracidade da ressurreição. Isto também significa que crer nesta verdade nos ajuda a enxergar além do alvoroço e proclamar poderosamente as boas novas na manhã de Páscoa.

Após ler os posts de cristãos cínicos nas mídias sociais, pode ser que você se sinta tentado a pensar que está tudo perdido no mundo, que a igreja fracassou terrivelmente, que levantar, abrir a Palavra e pregar o evangelho no domingo não funciona mais. Pode se sentir tentado a pensar que a ideia de que Jesus salva é uma realidade para outra época, uma era de ouro em que pregar era muito mais fácil. Mas você estaria enganado. Cristo está vivo hoje, assim como estava ontem, e o Espírito está, agora mesmo, atraindo o coração de homens e mulheres rumo à salvação. Inclusive em sua comunidade. Mesmo com sua pregação e seus débeis esforços. Mesmo dentre pessoas aparentemente intratáveis que se chegarão por acaso à sua igreja ou ouvirão sua pregação online.

Vamos nos lembrar que a igreja cristã foi edificada por pessoas que não necessariamente, seriam indicadas por recrutadores de talento como catalisadores de um grande movimento. Jesus chamou homens e mulheres completamente comuns para segui-lo, tal como pescadores iletrados da Galileia, uma mulher atormentada chamada Maria Madalena, e um perseguidor obstinado chamado Saulo. Não havia uma infraestrutura evangélica para apoiar a igreja primitiva, apenas o Espírito de Deus e a disposição daqueles que testemunharam o milagre da Ressurreição.

O Pedro que pregou no dia de Pentecostes e viu milhares de pessoas serem convertidas, apenas alguns meses antes estava se esgueirando com medo. O Tomé que deu sua vida para evangelizar a Índia teve de ser arrastado até Jesus por seus companheiros após a crucificação. O João que escreveria muito do Novo Testamento não era um apóstolo do amor quando Jesus o escolheu, mas um filho do trovão, que queria chamar fogo do céu sobre seus oponentes.

Isto deve nos encorajar quanto às falhas do movimento cristão e às falhas de seus mensageiros. Desde o século I até o século XXI, a igreja tem sido caracterizada por uma mistura de fidelidade e falta de fé, pecado e salvação, santos e safados. Mesmo em seus melhores momentos, não foi a igreja que deu poder ao seu próprio testemunho, mas o Espírito de Deus. Em outras palavras, você, pastor, pode encontrar esperança nesta Páscoa para pregar o evangelho porque Cristo está edificando sua igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.

Portanto, ao finalizar seu sermão para esta Páscoa, quando as dúvidas do inimigo enchem sua mente e suas próprias inseguranças e preocupações do pastoreio da congregação pesam em seu coração, anime-se em saber que você não é o primeiro a se levantar e declarar que Cristo ressuscitou, e não será o último. Você não está apenas nos ombros daqueles que vieram antes de você, está apoiado na verdade central que tem dado poder a missionários e mártires há 2.000 anos, e apoiado no poder do Espírito de Deus, que está tão ativo nesta Páscoa como tem estado durante toda a história da igreja.

Deus pode usar sua débil obediência. Portanto, esqueça o barulho e pregue a ressurreição do Filho de Deus.

Traduzido por Caroline Ferraz.

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