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Como Extraí Esperança do Salmo mais Escuro

Após uma palestra que dei recentemente, uma participante compartilhou que o Salmo 88 era seu salmo favorito. Para aqueles de nós já familiarizados com este salmo, ao ouvirmos tal comentário poderíamos levantar as sobrancelhas, demonstrando confusão.

O Salmo 88? Sério?

O Salmo 88 não é um tipo de salmo que afirma que tudo está ótimo, e que tudo vai ficar bem. Na verdade, é o salmo mais escuro. Se fizéssemos uma trilha sonora para ele, esta seria uma música country triste – caso nāo fosse um canto fúnebre. Sinta o desalento das palavras do salmista:

Ó Senhor, Deus da minha salvação, dia e noite clamo diante de ti. Chegue à tua presença a minha oração, inclina os teus ouvidos ao meu clamor; porque a minha alma está cheia de angústias, e a minha vida se aproxima do Seol. (vv. 1-3)

Sobre mim pesa a tua cólera; tu me esmagaste com todas as tuas ondas. (v. 7)

Senhor, por que me rejeitas? por que escondes de mim a tua face? (v. 14)

Enquanto outros lamentos bíblicos terminam com uma nota de confiança e de adoração, este aqui termina sem qualquer luz ou esperança. Ele simplesmente conclui: “os meus conhecidos se acham nas trevas.” Fim.

Apesar do tom escuro, no entanto, há esperança a ser encontrada no Salmo 88. Aqui estão quatro razões.

1. Podemos clamar a Deus.

O salmista persistentemente direciona suas emoções e tristezas a seu Pai Celeste. Ele reconhece que Deus é aquele que salva e reina sobre todas as coisas (vv. 1, 6-8). Sua angústia é o clamor fiel de um crente que entende sua necessidade da libertação e da ajuda de Deus.

Quando estivermos nas profundezas do sofrimento, as palavras do salmista darão voz à nossa dor. Podemos trazer nossas emoções de forma desinibida diante de Deus ao derramarmos nosso coração perante ele. Em nossa angústia, ele ouve nossos clamores.

2. Podemos compartilhar nossa dor mais profunda.

Tal como os hinos de hoje, os salmos eram usados ​​na adoração – sim, até mesmo o Salmo 88. O fato de que esta canção era proclamada pelo povo de Deus nos diz muita coisa. Ela também nos oferece esperança, uma vez que é claro que Deus não espera que encubramos o que realmente está acontecendo. Podemos nos aproximar de nosso Pai com honestidade crua. Não necessitamos fingir que está tudo bem. Não temos que esconder a dor, as emoções, a angústia.

Ao mesmo tempo, o Salmo 88 nos lembra a quem estamos orando: ao nosso Criador e Rei. Em sua humildade, a tristeza honesta do salmista é muito diferente das murmurações sem fé dos israelitas no deserto. Ele lembra a si mesmo – e a nós – que Deus salva (v. 1), e que as suas obras são justas (v. 11). Ele nos mostra que podemos expressar a nossa mágoa mais profunda de uma maneira que honre a Deus, ao invés de murmurarmos contra ele.

3. Podemos lamentar a escuridão.

O Salmo 88 é brutalmente honesto sobre a vida em um mundo caído. Enquanto muitos de nós saem de nevoeiros de depressão e de temporadas espiritualmente escuras, há outros que lutam perpetuamente com isto. Alguns pregam uma falsa teologia, que diz que se simplesmente orarmos o suficiente, crermos o suficiente e fizermos todas as coisas certas, Deus fará de nossas vidas tudo aquilo que desejamos. Mas a vida real indica o contrário. E este salmo também.

O sol nem sempre sairá amanhã. Nem sempre obtemos o emprego que queríamos. Casamentos se desfazem. Pessoas ficam doentes e morrem. Este é o efeito de longo alcance do pecado neste mundo. O Salmo 88 reflete a nossa dor e nos dá permissão para lamentarmos tudo o que não está certo.

4. Podemos confiar em nosso Salvador.

Toda a Escritura aponta para Cristo, e o Salmo 88 não é exceção. Pois o que o salmista buscava em seu lamento foi respondido em Jesus, que veio para resgatar e restaurar o que está rompido. Ele veio para realizar os clamores mais profundos de nossos corações. Ele veio para que um dia todas as nossas lágrimas possam ser enxugadas.

O Salmo 88 nos recorda de que precisamos de um intercessor. Nem sempre sabemos o que é melhor. Muitas vezes, nāo sabemos nem sequer como orar. Jesus intercede por nós, reorganizando nossas orações para a glória de Deus. Não só isto, mas o Espírito também ora por nós. Quando não conseguimos encontrar as palavras para exprimir o que nossos corações anseiam dizer, ele clama por nós (Rm 8.26) Quão maravilhosa graça e quão maravilhoso amor! Que conforto! Mesmo quando as dores da vida nos silenciam, o Espírito fala por nós.

Sou muito grata pelo Salmo 88 estar incluído nas Escrituras. Ele me faz recordar que posso clamar a Deus com o coração quebrantado e que ele me ouve – não importa quão fracas sejam minhas orações. Ele me leva a me concentrar na verdade de quem Deus é, pois mesmo na noite mais escura, a sua graça ainda brilha. E quando parece que as trevas sāo minhas únicas companheiras, posso me recordar de Jesus Cristo, que enfrentou a escuridão da sepultura para que eu pudesse ser chamado de amiga de Deus.

Traduzido por Joāo Pedro Cavani.

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