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O Livro de Jó tem tanto me sacudido quanto me moldado.

Quando o li pela primeira vez, pareceu-me preocupante. Não parecia justo. Jó era um homem justo. Mas ao longo dos anos, esta história tem ajudado a forjar a minha compreensão de Deus e a minha teologia do sofrimento. Ela me ensinou que o próprio Deus — não qualquer coisa que ele me dá — é o meu maior tesouro.

Anos atrás, um colega mencionou o que ele tinha aprendido com Jó. Fiquei surpresa ao ouvir que seu estudo tinha produzido uma conclusão significativamente diferente da minha. Em suas palavras: “Jó recuperou tudo de novo e muito mais pelo sofrimento dele. Ele foi abençoado com mais filhos e mais dinheiro do que jamais tivera antes. Isto é o que a história nos mostra: fazer a coisa certa sempre traz bênção e prosperidade.”

Enquanto a primeira parte era verdade, eu discordei de sua conclusão. Ele sutilmente estava ecoando a mensagem do chamado “evangelho da saúde, riqueza e prosperidade” — que o objetivo de Deus para nós nesta vida é saúde perfeita, felicidade total e ganho financeiro. Nesta vida. “Nós simplesmente precisamos nomear o que queremos”, dizia, “viver da maneira certa, e depois reivindicar a nossa vitória. Isso é o que deveria ser viver para Deus”.

Eu afirmo que esta abordagem não é viver para Deus. Tal pensamento é idolatria. Isto significa elevar os dons de Deus acima dele, o doador. E isto é um grande assalto ao valor de Deus.

A Verdadeira Vida Abundante

Os defensores do evangelho da prosperidade veem as coisas de forma diferente. Eles acreditam que a posição deles é bíblica, citando as Escrituras para apoiar suas reivindicações. Um destes versos é João 10:10: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.”.

Jesus realmente nos dá vida em abundância, mas a vida abundante dele é independente das circunstâncias.

Um diagnóstico de câncer, uma queda do mercado de ações e a rebelião de um filho não podem diminuir a vida abundante que temos em Cristo. E uma cura milagrosa, uma bonança financeira e o retorno de um filho pródigo não a transformam. Vida abundante verdadeira repousa em Deus, que é Senhor sobre as coisas boas e as coisas terríveis em nossa vida. Como diz Jó: “Temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal?” (Jó 2:10).

Quando afirmamos que vidas sem dor são a recompensa de Deus para os justos, nós insinuamos aos feridos que os problemas deles são criados por eles mesmos. Como Randy Alcorn diz:

“Tragicamente, o evangelho da prosperidade tem envenenado a igreja e minado a nossa capacidade de lidar com o mal e com o sofrimento. Algumas igrejas hoje não têm nenhum lugar para a dor. Aqueles que dizem que Deus os curou recebem o microfone, enquanto que aqueles que continuam a sofrer estão envergonhados em silêncio ou conduzidos para fora pela porta dos fundos.”

Eu pessoalmente fui conduzido para fora pela porta dos fundos em serviços de cura, depois de ter sido castigada publicamente. Muitas outras pessoas com necessidades especiais têm experimentado um tratamento semelhante sob o pressuposto de que se você não está curado, a culpa é sua. “Porque a vontade de Deus é que todos sejam curados. Sempre. O fiel nunca vai sofrer.”.

Esta crença é contrária à Bíblia. Jesus diz que teremos tribulações (João 16:33). Pedro diz que não devemos ser surpreendidos pelo sofrimento (1 Pedro 4:12). Tiago nos ensina a esperar tribulações e contá-las como motivo de toda alegria (Tiago 1:2). E Paulo diz que aflições trazem perseverança e glória (Romanos 5:3–5; 2 Coríntios 4:17).

Claro, cura nesta vida pode trazer glória a Deus também. Às vezes, Deus intervém em nossas vidas de maneiras sobrenaturais e milagrosamente as cura de doença. E Deus é glorificado quando isto acontece.

Mas tenho visto Deus ser ainda mais glorificado quando as pessoas ainda não estão curadas, mas continuam a louvá-lo no meio de profundo sofrimento — quando tudo o que têm é arrancado e tudo o que resta é somente Deus. E ele é descoberto como suficiente.

Deus é mais glorificado quando nós o declaramos como suficiente em meio a uma grande perda. Assim como declarou Jó.

Doador Mais do Que Dádivas

O evangelho da prosperidade ensina que nós vivemos para as bênçãos materiais de Deus agora. Jó ensina que devemos viver para a glória eterna de Deus. No coração do evangelho da prosperidade está o nosso valor. No coração de Jó, e toda a Bíblia, está o valor de Deus.

Satanás é um defensor do evangelho da prosperidade, quando ele diz a Deus que a fidelidade de Jó é baseada nas bênçãos de Deus. E se estas bênçãos são levadas embora, ele acredita que Jó amaldiçoará a Deus. Satanás está dando a entender que Deus é valioso apenas pelo que ele dá a Jó.

Mas Deus afirma exatamente o oposto. Deus afirma que Jó o ama por quem ele é, não pelo que ele dá.

E quando Jó é capaz de dizer, depois de perder tudo, “O SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR” (Jó 1:21), ele declara o valor incomparável de Deus. O próprio Deus, não suas dádivas, é o verdadeiro tesouro de Jó.

Como o salmista declara:

Quem mais tenho eu no céu?
Não há outro em quem eu me compraza na terra.
Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam,
Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre. (Salmos 73:25–26)

Que todos nós, como Jó, encontremos o nosso tesouro em Deus, que é a nossa herança para sempre.

Publicado originalmente em Desiring God.

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