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A Bíblia Promove a Tolerância ou a Intolerância?

A Bíblia incentiva ou inibe uma sociedade tolerante?

Há um grupo que diz que a Bíblia é um livro sobre o amor, a misericórdia e a bondade. Eles pensam na história do Bom Samaritano (Lucas 10.25-37). De Jesus nos dizendo para virar a outra face (Mt 5.39). De suas conhecidas palavras, “não julgueis” (Mt. 7.1). Face a toda esta ênfase no amor, na bondade, e em colocar Deus e os outros antes de si mesmos, como poderia alguém pensar que a Bíblia inibe uma sociedade tolerante? Certamente ela nos conclama a algo muito além de mera tolerância — de fato, nos conclama ao serviço ativo, ao amor e à compaixão.

Mas para um outro grupo, a Bíblia está longe de ser tolerante. Temos a conquista de Canaã. Temos Elias matando os profetas de Baal com suas próprias mãos( 1 Reis 18.40). E no Novo Testamento, Jesus fala frequentemente sobre o inferno. Estas coisas não refletem tolerância.

O que podemos então dizer em resposta a esse debate?

1. Lembre-se de Como as Escrituras São Coerentes

Se interpretarmos a Bíblia simploriamente, presumindo que ela pretende apresentar modelos ideais a serem seguidos em todos os casos, em todos os momentos, por todas as pessoas, cairemos em todo tipo de erros graves. As pessoas que se opõem a este tipo de resposta imediatamente protestam: “Bem, espere aí, você está apenas tornando tudo uma questão de interpretação, e quem pode dizer que sua interpretação está correta?” Mas peflita comigo por um momento.

Como seria se vivêssemos em um mundo que interpretasse todas as nossas comunicações exatamente da mesma maneira? E se interpretássemos um romance de Charles Dickens como o padrão legalmente obrigatório de comportamento de todos os tempos, ou se um filme de terror de Hollywood fosse uma declaração moral de como os Estados Unidos querem que as pessoas se comportem? Ou se interpretássemos um excerto de poesia da mesma forma que interpretamos as instruções de voo para passageiros de um jato (ou pior, vice-versa)? Teríamos caos e confusão.

A Bíblia inteira é verdadeira e tem autoridade, mas não é tudo a mesma coisa. Toda ela foi escrita para nos ensinar, mas alguns de seus exemplos sāo para serem evitados; outros para serem copiados.

2. Lembre-se de Quem Deus é e de Quem Nós Somos

A Bíblia não ensina que Deus tolera todas as coisas. Você gostaria que Deus tolerasse estupros, incesto, assassinato ou o Holocausto?

Haverá um dia de julgamento (Rm 14.10; 2 Co 5.10). Deus é santo (1 Sm 2.2; Is. 6.3) e digno de ser temido (Dt. 6.24; Sl 31.19). Mas o julgar pertence a ele. Nós não somos os juízes. E seu julgamento é eterno (Mt 25.46; Mc 9.43). É um pensamento assustador— “para sempre” — quando aplicado ao inferno.

Com relação às conquistas e às carnificinas no Antigo Testamento, é vital lembrar duas coisas: quem Deus é e quem somos. Além disso, os israelitas também sofreram invasões e o exílio, como disciplina por sua idolatria. Deuteronômio 28 estabelece as bênçãos da obediência e as maldições da desobediência, sendo as maldições o mesmo julgamento que se abateu sobre o Egito e as nações que Israel havia conquistado. De fato, esta profecia foi cumprida no exílio, como os reis e profetas justos da época compreenderam (2 Reis 22.13; Jr 25).

3. Lembre-se da Diferença Entre a Tolerância e o Relativismo

A ideia de que toda a verdade é relativamente verdadeira — dependendo da perspectiva, da formação e da personalidade — é praticamente uma doutrina universal da nossa era secular. Muitos crêem que o relativismo evita que as pessoas julguem umas às outras e, portanto, previne a intolerância. Isso é irônico, porque poucas doutrinas se mostraram mais intolerantes do que a doutrina de que tudo é relativo.

A verdadeira tolerância depende de uma noção contrária. A tolerância diz: “Não concordo com o que você está dizendo, mas consinto seu direito de dizê-lo”. Mas o relativismo diz: “O que você está defendendo só é verdadeiro relativamente, portanto você e eu já concordamos”. O relativismo é intrinsecamente intolerante porque rejeita o certo e o errado — e, por consequência, qualquer necessidade de tolerância.

4. Lembre-se da Origem da Tolerância

O Império Romano tinha uma versão de tolerância relativista. Somente as religiões que adoravam o imperador e seus deuses eram toleradas. Isso não funcionou muito bem para muitos — incluindo os cristãos que foram torturados e mortos por se recusarem a dizer: “César é o Senhor”. A seguir, a cristandade medieval empregou enormes esforços tentando juntar os cacos depois da queda do Império Romano. A igreja se alinhou de perto com vários poderes militares e líderes para proteger a igreja e a civilização. Essa estratégia maculou a igreja, através de uma associação próxima com ações militares.

Os reformadores protestantes buscaram fazer a igreja retornar às Escrituras. Ao fazê-lo, eles se alinharam com vários reis e príncipes para proteger a igreja contra os ataques do papa e do que havia restado do Sacro Império Romano. A tolerância moderna nasceu na reflexão protestante sobre esta história, através da obra de John Locke e Roger Williams, entre outros. Estas novas circunstâncias levaram as pessoas a se perguntarem se seria possível criar uma sociedade onde a liberdade religiosa fosse tolerada. Este tipo de sociedade foi cada vez mais praticada na Inglaterra — onde os huguenotes e outras minorias religiosas, incluindo os judeus, se refugiaram em Londres e depois na América Britânica em busca de segurança.

A tolerância é um conceito especificamente cristão. Seu alicerce está na crença de que “a verdade revelar-se-á”. Nunca teve a intenção de impedir o exercício público de crenças religiosas, nem de defender uma moralidade cristã na esfera pública.

Naturalmente, a Bíblia nos conclama a fazer muito mais do que simplesmente tolerar o nosso próximo. Somos conclamados a amá-los.

No entanto, é importante entender que a verdadeira tolerância é uma ideia profundamente cristã, derivada de princípios da Palavra de Deus.

Nota do editor: Este artigo é um trecho adaptado do novo livro de Josh Moody, “How the Bible Can Change Your Life: Answers to the Ten Most Common Questions” [Como a Bíblia Pode Mudar sua Vida: Respostas às Dez Perguntas Mais Comuns] (Christian Focus, 2018).

Traduzido por Victor San.

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