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Tenho notado ao longo dos anos que alguns ministros, no seu esforço para enfatizar a santidade na vida, não colocam muita ênfase na nossa graciosa aceitação por Deus apesar de nossos pecados. E outros ministros, no seu esforço para evitar o legalismo e se alegrar na graça, estão relutantes em chamar as pessoas para um autoexame atento e rigoroso, e para um arrependimento profundo. Mas o pastor do século 18, John Newton, é notável em dar o mesmo peso para o autoexame e para a graça.

Em um artigo anterior, vimos como Newton nos dá algumas maneiras profundamente convincentes para examinar nossos corações. Os cristãos, ele diz, investem muito pouco tempo e esforço para se examinar e buscar crescer na santidade, no fruto do Espírito. Mas será que tal exame atento significa que estamos condenados a sempre nos sentirmos inadequados, envergonhados e culpados? Não, porque Newton enxerga que um conhecimento mais profundo do pecado leva a um alegrar-se mais rico na graça . Não havia ninguém melhor do que Newton em exortar as pessoas a “usar o evangelho da graça” no coração a fim de mudá-lo. Aqui estão duas coisas que eu aprendi com Newton ao longo dos anos a respeito de como fazer isso.

As pessoas constantemente tentam preencher seus corações com o risco daquilo que estão fazendo. Você pode dizer a si mesmo, “Se eu continuar fazendo isso, vai causar problemas para mim.” Isso pode ser verdade e pode ser um bom estimulante para levá-lo a reconhecer o seu problema. Mas se isso é tudo o que você diz ao seu coração, o metal de seu coração até se dobra, mas não é amolecido nem permanentemente remodelado. A motivação é egoísta no final, e só traz mudanças a curto prazo.

Precisamos ir mais a fundo, para a única forma duradoura de mudar nossos corações: levá-los para a radical e valiosa graça de Deus em Cristo na cruz. Você mostra ao seu coração os abismos infinitos aos quais ele foi para que você se livre do pecado e da sua condenação. Isso preenche você com um senso não apenas do perigo ou pecado, mas também de sua gravidade. Pense em como isso é ingrato, pense em como o seu pecado não é contrário apenas à lei de Deus, mas também ao Seu coração. Derreta seu coração ao saber o que ele fez por você. Trema diante de saber do que ele é digno — digno de toda a glória.

Um segundo pensamento poderoso de Newton é o seguinte: nós não pecamos simplesmente por um desejo rebelde de sermos nossos próprios mestres, mas também porque estamos procurando por coisas além de Deus para nos satisfazer e nos preencher. Enquanto Newton era bom em apontar o perigo de se ter uma visão muito rasa ou leve do pecado de cada um, ele também era bom em apontar o problema oposto: uma percepção muito leve do que Jesus fez por nós. Newton escreveu para um homem que estava desanimado:

Você diz, você acha difícil de acreditar ser compatível com a pureza divina abraçar ou empregar tal monstro como você. [Ao pensar isso, você] expressa não só uma fraca opinião de si mesmo, o que é certo, mas uma opinião muito fraca da pessoa, do trabalho e das promessas do Redentor; o que certamente é errado… Satanás se transforma em anjo de luz. Ele às vezes se oferece para nos ensinar a humildade; mas, embora eu queira ser humilde, eu não desejo aprender nesta escola. Suas premissas talvez sejam verdadeiras, de que somos criaturas depravadas, miseráveis; ​​mas ele então tira conclusões abomináveis ​​dessas premissas; e nos ensina que, portanto, devemos questionar o poder, ou a vontade, ou a fidelidade de Cristo. De fato, apesar de nossas queixas serem boas, desde que elas venham de uma antipatia do pecado; ainda assim, quando as examinamos de perto, muitas vezes existe tanta vontade própria, justiça própria, descrença, orgulho e impaciência misturada com as queixas, que elas são pouco melhores do que os piores males dos quais podemos nos queixar… Você não tem, você não pode ter qualquer coisa aos olhos de Deus, mas somente o que deriva da justiça e da expiação de Jesus. Se você pudesse mantê-lo mais constantemente em vista, você se sentiria mais confortável. Ele seria mais honrado… Oremos para que possamos estar prontos a seguir o mandamento do apóstolo, ou melhor, do Senhor através dele: “Alegrai-voz sempre no Senhor. Novamente voz digo: alegrai-vos.” Temos pouco a nos alegrar em nós mesmos, mas temos direito e razão a nos alegrar nele. (“Carta XI, ao Rev. Sr. S.,” Obras de John Newton, Vol. 6, 185-187)

Se vamos crescer na graça, devemos estar cientes de que somos tanto pecadores quanto filhos amados em Cristo. Precisamos de um sentido elevado e adequado do nosso pecado diante de Deus e de um forte e profundo senso de nossa aceitação e união com Cristo.

No fim das contas, são a alegria e a maravilha do evangelho que irão mudá-lo permanentemente.

Este artigo foi publicado originalmente no Relatório mensal da Igreja Presbiteriana Redeemer (Redentor).

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