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E Quando o Velhinho Mais Esquecido do Natal Resolve Tocar o Terror na Noite de Natal? – Lucas 2.2-35

É claro que o velhinho esquecido não é o Papai Noel. Pelo contrário, seu nome é Simeão. Homem íntegro, que temia a Deus e morava em Jerusalém na plenitude dos tempos. Passou boa parte da vida esperando pelo Messias, pois o Espírito Santo havia revelado que não morreria antes de ver o Filho de Deus.

Segundo o relato de Lucas, o Espírito Santo, que estava sobre Simeão, moveu o velhinho até o templo, ocasião em que José e Maria tinham levado o menino Jesus para cumprir os rituais da lei. Imagine a alegria de Simeão quando viu o menino. Alegria semelhante seria talvez a do patriarca da fé, Abraão, que, de igual modo, não morreu sem antes embalar em seus braços Isaque, o filho da promessa.

Quando Simeão viu o menino, tomou-o nos braços e louvou a Deus, dizendo:

Senhor, agora podes deixar ir em paz o teu servo, segundo a tua palavra; pois os meus olhos já viram a tua salvação, a qual preparaste diante de todos os povos; luz para revelação aos gentios, e para a glória do teu povo Israel.

Enquanto isso, José e Maria se admiravam das coisas ditas sobre Jesus.

Imaginem a alegria do casal. Mas não é essa também a alegria do Natal? Afinal, o Rei está entre nós. É dia de festa, dia de celebração.

Mas eis que o velhinho – como se diz por aí – resolveu tocar o terror. Isso mesmo. Tocar o terror.

Como foi isso?

Ele abençoou a todos e, em seguida, disse a Maria algumas boas verdades que nenhuma festa de Natal deveria esconder:

Este menino está posto para queda e para elevação de muitos em Israel, e como um sinal de contradição. Assim, os pensamentos de muitos corações serão conhecidos. Quanto a ti, uma espada atravessará a tua alma!

O velhinho não poderia celebrar o Natal sem dizer três coisas importantes para a mãe do menino – julgo que, apesar de serem coisas importantes para Maria, são também igualmente importantes para a igreja.

Primeiro. O menino não veio ao mundo para promover um grande churrasco cósmico em que todos os seres humanos serão chamados a participar. Não. Ele veio para dividir. Sua festa não é para todos os homens. O menino veio para separar os filhos da luz dos filhos das trevas. Ele veio para desfazer a ambiguidade, iluminar as diferenças e, por isso, alguns cairão e outros serão erguidos. Assim, é absolutamente previsível que homens rejeitem o menino e queiram até matá-lo, mesmo antes da hora.

Segundo. O menino veio ao mundo para trazer à luz os pensamentos ocultos dos homens, escondidos na mais densa treva de seus corações; ele veio para revelar a idolatria, tanto de religiosos como de não religiosos; veio para explicitar as segundas intenções e desesperar o coração dos homens até se arrependerem e crerem no Filho de Deus.

Terceiro. O menino não veio pra ficar. Sua vinda tinha prazo. E o prazo findou com sua morte tão brutal. Essa morte, como disse Simeão, seria como uma espada atravessando a alma de Maria. Ora, que mãe não protegeria seu filho da morte? Que mãe não faria de tudo para evitar o seu sofrimento? Maria não era diferente das mães que amam seus filhos, mas, por certo, era diferente de muitas mães, pois desde o início sabia que não poderia proteger seu filho da cruz. É nesse sentido que a espada que atravessou o coração de Maria deveria atravessar também o coração da igreja. A igreja não pode proteger seu Senhor da cruz. Ou seja, o Natal não é dia de proteger Jesus da sua morte cruenta, mas de lembrar também da vergonha da cruz e da espada que atravessa a alma.

Hoje, o mais certo a fazer é baixar a guarda e deixar a espada atravessar novamente.

É preciso lembrar, ainda que seja na noite de Natal, que o Messias tem de sangrar e não há o que fazer.

Sua morte é inevitável.

Mas é sua morte que nos salva, colocando-nos, ao mesmo tempo, em desespero, fazendo-nos saber que o Rei deu sua vida por seus súditos e, sobretudo, por causa deles.

Dá pra entender por que esse velhinho é tão esquecido no Natal?

Por não nos deixar à vontade num dia tão especial, ele se torna aparentemente desagradável. E que igreja ficaria tão à vontade diante do verdadeiro Natal? Ninguém que ama pra valer o evangelho se acostumará com o evangelho ao ponto de esquecer das más notícias que tornam tão maravilhosas as boas novas de que o menino Jesus é o Deus encarnado que deu sua vida pelos seus. Celebremos, sim, com alegria a vinda do Messias, mas que o real significado do Natal seja tão grave que os presentes trocados e as canções natalinas não sejam suficientes para ensurdecer nossos ouvidos e nos alienar do verdadeiro Natal.

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