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Não há questão mais importante do que a perguntada por Jesus a seus discípulos: “Quem dizeis que eu sou?” (Mt 16.15). Nenhuma pergunta tem sido mais calorosamente debatida, totalmente ou parcialmente mal entendida, perigosamente ignorada, e respondida corretamente com grande proveito. A resposta correta a essa pergunta é, em alguns aspectos, simples o suficiente para uma criança para ser salva, mas também complexa o suficiente para manter teólogos ocupados por toda a eternidade. Se a vida eterna é conhecer a Jesus Cristo (Jo 17.3), não podemos nos dar ao luxo de sermos ignorantes sobre o que é “o primeiro entre dez mil” (Ct 5.10).

Pedro confessou Jesus como o “Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16) João falou de Jesus como “o Verbo” que se fez carne (Jo 1.14). Paulo descreve Jesus não só como “a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (Cl 1:15), mas também como “Cristo Jesus, homem” (1 Tm 2.5). Da mesma forma, o autor de Hebreus identifica Jesus tanto como “o resplendor da glória de Deus” (Hb 1.3) e aquele que participou da carne e do sangue (2.14). Depois de tocar em Cristo, Tomé memoravelmente afirmou Jesus como seu “Senhor” e seu “Deus” (João 20.28). No Antigo Testamento, Isaías teve uma visão de Cristo em que ele o chama de “o Rei, o Senhor dos Exércitos” (Jo 12.41; ver Is 6.5), mas também é chamado de o Rei, o servo do Senhor que tinha “nenhuma beleza havia que nos agradasse” (Is 53.2).

Jesus também tinha muito a dizer sobre si mesmo. No evangelho de João, a casa dos famosos dizeres “Eu sou”, ele se refere a si mesmo como o “pão da vida” (Jo 6.48), “a luz do mundo” (8.12), “a porta” (10.9),” o bom pastor “(10.11), “a ressurreição e a vida” (11.25), “o caminho, e a verdade, e a vida” (14.6), e “a videira verdadeira” (15.1).

Em outro lugar, Jesus é chamado de Mestre (Mc 1.27), Profeta (Mt 21.11), Filho de Davi (9.27), Servo (12.18), Filho do Homem (12.8), Senhor (14.30), o Cordeiro de Deus (Jo 1.36), Santo de Deus (6.69), o Princípio (Cl 1.18), Sumo Sacerdote (Hb 5.1-10), Aquele que Vive (Ap 1:18), Libertador (Rm 11.26), e a brilhante estrela da manhã (Ap 22.16).

Com esta impressionante variedade de nomes e descrições bíblicas poderíamos adicionar muito mais; na verdade, muito mais do que podemos pensar ou imaginar. No entanto, essas declarações múltiplas da pessoa de Cristo nem sempre são fáceis entender. Na verdade, a igreja primitiva lutou longa e arduamente antes de chegar a uma descrição concisa e precisa da pessoa de Cristo, no Concílio de Calcedônia (451 d.C.).

História: Heróis e Hereges

Cada século desde o tempo de Cristo e os Apóstolos tem testemunhado uma ou mais visões deturpadas. Sem pretender ser exaustivo, no final do primeiro século o erro do docetismo deixou a sua marca. Serapião, bispo de Antioquia (190-203), expôs a visão de que a carne de Jesus era “espiritual”. Jesus não tinha uma verdadeira natureza humana, mas apenas aparentava (do grego dokeo, “parecer”) ser humano. Esta falsa visão foi defendida por alguns, mesmo enquanto os apóstolos ainda estavam vivos (2 Jo 7).

No segundo século, os ebionitas (“os pobres”) rejeitaram a concepção virginal de Jesus. Recebiam-no como o Messias, mas não aceitavam que Ele era divino.

O início do terceiro século viu o surgimento de Paulo de Samósata, que foi bispo da igreja de Antioquia (c. 260). Ele tinha uma visão peculiar de Cristo que incorporou várias heresias. Para ele, Jesus era um homem comum que se tornou habitado pelo Logos (a Palavra) e, assim, tornou-se o Filho de Deus. O Logos que habitava Jesus não era uma pessoa divina distinta do Pai e do Espírito, mas sim o atributo divino do Pai que habitava Jesus.

Um dos dois antagonistas principais em seus pontos de vista sobre Cristo no século IV foi Apolinário de Laodicéia (c. 315-92). Apolinário estava reagindo, em parte, a outros movimentos heréticos. Em sua reação contra uma visão como a de Paulo de Samósata, Apolinário sustentou que o Logos assumiu um corpo humano, mas não uma mente humana. Seus adversários corretamente responderam que essa teoria significava que a encarnação foi simplesmente a divindade habitando uma carne sem mente e sem alma. Muitos cristãos hoje caem em um erro semelhante, pensando que a mente e a alma de Cristo são Sua natureza divina. Mas isso é falso. O outro herege desses tempos foi Ário de Alexandria (c. 250-336). Ele negou que o Logos era co-igual ao Pai, e sustentou que houve um tempo em que o Filho de Deus não era.

No século V, uma cristologia mais precisa surgiu, mas só depois de muita luta política e teológica. Na verdade, mesmo antes de Calcedônia ocorreram conselhos que procuravam entender os dados bíblicos sobre a pessoa de Cristo. Durante este século, o mais significativo na igreja primitiva em matéria de desenvolvimento cristológico, os teólogos de Antioquia, onde Nestório recebeu a sua formação, tentaram bastante fazer justiça à plena humanidade de Jesus. Cirilo de Alexandria (c. 376-444), talvez o teólogo mais importante que escreveu sobre a pessoa de Cristo na igreja primitiva, apreciou esta preocupação, mesmo que às vezes dissesse coisas que pareciam contradizer esta crença. Na verdade, Cirilo e os teólogos antioquenses tiveram, durante algum tempo, certo acordo. Naturalmente, o acordo não era completo. E os seguidores mais extremos de Cirilo, como Eutíquio, tendiam a “deificar” Sua humanidade.

Tudo isso aponta para o fato de que os teólogos até este ponto todos tinham uma crença comum nas duas naturezas de Cristo. Mas suas diferenças focavam na qualidade ou a integridade das duas naturezas enquanto elas se relacionavam entre si, na pessoa de Cristo. Alguns enfatizaram tanto a natureza divina que muito pouco, se algo, restava da natureza humana de Cristo; outros fizeram o oposto. Calcedônia parece, com grande sucesso, ter resolvido os problemas que atormentavam a igreja pelos cinco primeiros séculos.

O Credo da Calcedônia (451)

À medida que as crises cristológicas do século V continuavam a se intensificar, a Imperatriz Pulquéria e o Imperador Marciano solicitaram um conselho em Calcedônia. O conselho foi rigorosamente monitorado. Não só alguns bispos foram permitidos enquanto outros não, mas também certos documentos foram admitidos e outros proibidos. No Concílio de Éfeso (431), o Tomo de Leão, bispo de Roma, não foi admitido. Mas em Calcedônia, permitiu-se combinar o Tomo de Leão com as ênfases de Cirilo de Alexandria para chegar a alguma espécie de declaração de compromisso. Cirilo, que morreu anos antes de Calcedônia, enfatizou fortemente a união das duas naturezas em uma infalível “unidade” (do grego henosis). A ênfase nas duas naturezas, um produto da cristologia ocidental da dupla natureza (típica de Agostinho e outros ocidentais), refletiu-se numa ênfase de Leão, que também traçou o seu caminho até o credo. Lê-se no parágrafo central de Calcedônia:

“Fiéis aos santos Pais, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade, e perfeito quanto à humanidade; verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, constando de alma racional e de corpo, consubstancial com o Pai, segundo a divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade; em tudo semelhante a nós, excetuando o pecado; gerado segundo a divindade pelo Pai antes de todos os séculos, e nestes últimos dias, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação, nascido da Virgem Maria, mãe de Deus [Theotókos]; um e só mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis, inseparáveis; a distinção de naturezas de modo algum é anulada pela união, antes é preservada a propriedade de cada natureza, concorrendo para formar uma só pessoa e em uma subsistência; não separado nem dividido em duas pessoas, mas um só e o mesmo Filho, o Unigênito, Verbo de Deus, o Senhor Jesus Cristo, conforme os profetas desde o princípio acerca dele testemunharam, e o mesmo Senhor Jesus nos ensinou, e o Credo dos santos Pais nos transmitiu.”

Esta declaração sobre a pessoa de Cristo continua a ser uma bela demonstração de ortodoxia que deve ser respeitada caso a pessoa deseje permanecer ortodoxa e fiel à totalidade do testemunho bíblico. Ele tem resistido ao teste do tempo. É certo que a definição presta-se a interpretações divergentes. Por exemplo, teólogo católicos romanos, luteranos e reformados têm desenvolvido cristologias que não podem ser harmonizadas em alguns pontos. Novamente, se a relação entre as duas naturezas provou ser a fonte de muitos conflitos pré-calcedônicos, não se pode negar que alguns conflitos permanecem até hoje, mesmo se eles não têm a ferocidade política da igreja primitiva. Agora, construindo a partir das declarações do Credo da Calcedônia, vamos procurar dar uma resposta abrangente à pergunta feita por Cristo: “Quem dizem os homens que eu sou?”

Perfeito em Divindade

A evidência de que Jesus de Nazaré é plenamente divino – homoousios (uma substância) com Deus – é tão avassaladora que é muito difícil de simpatizar com aqueles que lutam com esta verdade. Se Jesus não é completamente Deus, os escritores do Novo Testamento foram a extremos para confundir e mentir para a igreja (por exemplo, ver Fp 2.5-11; Cl 1; Hb 1).

O prólogo do Evangelho de João fornece evidências suficientemente explícitas pelas quais a igreja pode descansar seu caso que Jesus é “verdadeiramente Deus.” Considere as palavras de abertura: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” Mais tarde, no prólogo, João faz uma constatação surpreendente, talvez o verso mais inacreditável surpreendente para qualquer judeu do primeiro século acreditar: que “o Verbo se fez carne”. A palavra “era” no versículo 1 deve ser contrastado com “se fez” no versículo 14. O Verbo (Logos) não “se fez” no sentido de vir a existir. Em vez disso, o Verbo simplesmente “era”. Outras passagens do Evangelho de João só servem para confirmar e reforçar esta verdade (3.13; 6.62; 8.57-58; 17.5; 20.28). Além disso, quando Isaías viu “o Rei, o Senhor dos Exércitos” (Is 6.5), João cita uma grande parte de Isaías 6, e, em seguida, afirma que Isaías “disse isto quando viu a sua [de Jesus] glória e falou dele” (João 12:41). Em Isaías, somos informados que Deus não dividi a Sua glória com ninguém além de si mesmo, no entanto, em João 17.5 Jesus pede ao Pai para glorificá-lo na presença de Seu Pai “com aquela glória que [Jesus] tinha contigo [com Deus Pai] antes que o mundo existisse.” Se Jesus não é Deus, então Ele não está apenas iludido, mas seu pedido é uma abominação.

No livro de Apocalipse, há igualmente muitos lugares que demonstram a divindade de Cristo. Ao descrever Jesus no livro de Apocalipse, João faz claramente uma ligação entre Jesus e Yahweh (o Senhor):

“eu, o SENHOR, o primeiro, e com os últimos eu mesmo.” (Is 41.4). “Não temas; eu sou o primeiro e o último, e aquele que vive” (Ap 1:17).

“Eu sou o primeiro e eu sou o último, e além de mim não há Deus.”(Is 44.6). “Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: Estas coisas diz o primeiro e o último, que esteve morto e tornou a viver” (Ap 2.8).

“eu sou o mesmo, sou o primeiro e também o último.” (Is 48.12). “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim.” (Ap 22:13).

Estes paralelos marcantes nos deixam pouca dúvida a respeito de quem Jesus acreditava ser: ninguém menos que o próprio Yahweh.

Perfeito em Humanidade

Jesus não é apenas divino, mas também verdadeiramente humano. Como Calcedônia afirma: “verdadeiramente homem, constando de alma racional e de corpo… e consubstancial a nós, segundo a humanidade; em tudo semelhante a nós, excetuando o pecado.” Por isso, Ele é chamado de “Cristo Jesus, homem” (1 Tm. 2.5), que dividiu em “carne e sangue”, a fim de derrotar o diabo através da morte (Hb 2.14). Ele é como nós “em todos as coisas” (2.17), até o ponto que ele foi tentado em todas as coisas como nós somos, mas sem pecado (4:15).

A evidência para a verdadeira humanidade de Cristo é tão conclusiva quanto a evidência de sua verdadeira divindade. Sendo verdadeiramente humano, Jesus experimentou reações físicas, como fome (Mt 4.2), sede (Jo 19.28) e fadiga (4.6). Ele chorou (11.35), lamentou (Lc 19.41), suspirou (Mc 7.34), e gemeu (8.12). Como disse B.B. Warfield, “Nada falta para dar a forte impressão de que temos diante de nós, em Jesus, um ser humano como nós.”

Mas porque Ele era sem pecado, todas as Suas paixões foram mantidas em perfeita proporção e equilíbrio. Ele esteve adequadamente irritado quando estava irritado, bem como completamente feliz quando estava feliz. Na verdade, ele experimentou “não mera alegria, mas exultação, não mero aborrecimento irritado, mas furiosa indignação, e não mera pena de passagem, mas os movimentos mais profundos de compaixão e amor, e não mera angústia superficial, mas uma profunda tristeza até a morte, [e ainda assim] elas nunca o dominarão”(Warfield). Todas as Suas afeições eram mantidas em total submissão à vontade de Seu Pai.

Nascido da Virgem Maria [Theotokos]

Como podemos dar sentido ao fato de que Jesus é totalmente Deus e totalmente homem? Uma palavra: encarnação (Lucas 1.26-38). A maior maravilha de Deus é a encarnação do seu Filho. O Céu beijou a Terra. Consequentemente, o Criador está para sempre identificado com a criatura. Na união das duas naturezas na pessoa de Cristo, vemos temporalidade e eternidade, bem-aventurança eterna e tristeza temporal, onipotência e fraqueza, onisciência e ignorância, imutabilidade e mutabilidade, o infinito e a finitude. Ou, como Stephen Charnock coloca: “Que o Deus entronizado seja uma criança em um berço; que o estrondoso Criador seja um bebê chorando e um homem sofrido, são tais expressões de grande poder, assim como o amor condescendente, que surpreendem os homens sobre a terra, e os anjos no céu.”

Mas o que dizer da linguagem que Maria é Theotokos (a portadora de Deus)? A verdade dessa afirmação não deve ser rejeitada porque ela tem sido mal interpretado pelos católicos romanos e usada para venerar Maria como “Mãe de Deus”. O título ‘portadora de Deus’ diz algo sobre Jesus, não Maria.

Quando o Filho se fez carne (Jo 1.14), Ele assumiu a natureza humana, não uma pessoa humana. A natureza humana subsiste na personalidade do Filho de Deus: “não separado nem dividido em duas pessoas, mas um só e o mesmo Filho, o Unigênito, Verbo de Deus, o Senhor Jesus Cristo” Teólogos têm chamado a encarnação do Filho de Deus de “união hipostática.” A união das duas naturezas em uma pessoa significa que, quando falamos de Jesus, não dizemos que Sua natureza humana fez isso ou Sua natureza divina fez aquilo. Em vez disso, dizemos que Jesus fez isso ou aquilo, de acordo com sua natureza humana ou divina. Paulo constata isso no início de Romanos: “com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi” (Rm 1.3-7).

Aquele a quem Maria deu à luz não era meramente humano, nem possuía uma natureza humana. Aquele que nasceu de Maria era uma pessoa divina que possuía tanto uma natureza humana quanto uma natureza divina. Essa pessoa é o Filho de Deus, o que significa que Maria pode ser chamado de “portadora de Deus” conquanto que estejamos claros o que isso significa. O título theotókos afirma que Jesus permaneceu completamente divino quando assumiu a natureza humana. Ele não diz que Maria é digna de veneração como “Rainha do Céu” ou como “co-mediadora” com Cristo, como a doutrina católica romana ensina.

O Carácter Distintivo de Cada Natureza a Ser Preservada

A maioria dos teólogos cristãos afirma a distinção entre as duas naturezas de Cristo. Mas como essas duas naturezas se relacionam uma a outra tem sido uma fonte de grande disputa entre várias tradições teológicas. Neste ponto, o Credo de Calcedônia permite uma variedade de interpretações.

Teólogos reformados mantém uma máxima teológica que o finito (humanidade) não pode conter o infinito (divindade). Esta máxima é verdadeira sobre as duas naturezas de Cristo, mesmo agora no céu. Por essa razão, Cristo tem limitações de acordo com a sua natureza humana. Ele se desenvolveu desde a infância até a idade adulta, e experimentou um crescimento em conhecimento que era adequado a cada etapa de sua vida (Lc 2.52). Ele teve de ser ensinado por Seu Pai (Is 50.4-6). De acordo com a Sua humanidade, Ele teve de se contentar em tudo ser revelado a ele durante seu tempo na terra: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai” (Mt 24.36). Ele “aprendeu a obediência” através do sofrimento (Hb 5.8).

Uma vez que a relação entre as duas naturezas de Cristo tem sido muito debatida desde Calcedônia, a Confissão de Fé de Westminster (8.7) fornece uma explicação da “comunicação de propriedades” que esclarece o ponto acima: “Cristo, na obra da mediação, age de conformidade com as suas duas naturezas, fazendo cada natureza o que lhe é próprio: contudo, em razão da unidade da pessoa, o que é próprio de uma natureza é às vezes, na Escritura, atribuído à pessoa denominada pela outra natureza.” Uma advertência está em ordem aqui, no entanto. Embora os atributos de qualquer natureza podem ser e são característicos da pessoa, os atributos de cada natureza não devem ser predicados de outra natureza. Por exemplo, Jesus não morreu de acordo com a sua natureza divina, porque você não pode causar morte, algo que só a natureza humana pode sofrer, na natureza divina. Jesus morreu de acordo com a sua natureza humana, e não sua natureza divina.

Para se ter uma ideia do que a confissão significa aqui, vamos considerar Atos 20:28: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue.” Neste verso, a única pessoa de Cristo é denominada pela natureza divina. Em outras palavras, Ele é chamado de “Deus” mesmo que Ele seja Deus e homem, divino e humano. No entanto, sendo um Espírito, Deus não tem sangue. O sangue é adequado apenas para a natureza humana, e não à natureza divina. O que a confissão está dizendo é que, porque as duas naturezas estão unidas em uma só pessoa, o sangue (que é próprio apenas à natureza humana) é atribuído à pessoa de Cristo (que neste versículo está sendo chamada ou denominada “Deus”, embora o nome de Deus seja adequado apenas para a natureza divina). Porque Cristo possui duas naturezas unidas, podemos falar do “sangue de Deus”, já que “o que é próprio de uma natureza é às vezes, na Escritura, atribuído à pessoa denominada pela outra natureza.” Os atributos de qualquer natureza podem ser característicos da pessoa de Cristo, mesmo quando Jesus é referido com um nome ou de uma maneira que seja verdadeiro apenas de uma dessas naturezas.

Perguntas Especiais

Subordinação:

Jesus submeteu-se voluntariamente à vontade do Pai. No movimento alto-baixo-alto de Filipenses 2.6-11, o Filho de Deus, “subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus (alto); antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz (baixo). Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome (alto).” Todas as declarações no Novo Testamento a respeito de “subordinação” de Cristo (Jo 14:28) precisa ser entendida à luz do acordo entre as pessoas da Trindade que o Filho tomaria forma humana e subordinar-se-ia à vontade do Pai.

Impecabilidade:

Poderia Jesus, porque Ele foi tentado, possivelmente ter pecado? Teólogos têm discordado sobre esta questão, mas a resposta deve ser “não”. Há duas razões pelas quais Jesus não podia pecar. Em primeiro lugar, se Cristo pudesse pecar, então surge aqui um problema com respeito à relação entre a vontade humana e a vontade divina de Cristo. A definição de fé do Sexto Concílio Ecumênico de Constantinopla (680-681) afirma: “E estas duas vontades naturais não se opõem um ao outro como os hereges ímpios afirmar, mas sua vontade humana se segue e que não como resistindo e relutante , mas sim como sujeitos à sua vontade divina e onipotente “. A vontade humana não pode ser contrária à vontade divina em Cristo, mas apenas sujeita a ela. Em segundo lugar, por causa da unidade da pessoa, Cristo não poderia pecar sem implicar Deus. A natureza humana de Cristo pode ser “pecável” (capaz de pecar); mas uma vez que em sua constituição Ele é o Deus-homem, Ele é, portanto, uma pessoa impecável.

O Espírito Santo:

Se Cristo era completamente divino, por que lemos tantas referências a obra do Espírito Santo sobre Cristo durante sua vida terrena? A partir do momento da encarnação (Lc 1.31,35), ao seu batismo (Mc 1.10), à sua tentação (Mc 1:12; Lc 4:14), a Sua pregação (Lc 4:18), à realização de milagres (Mt 12.28), à Sua morte (Hb 9.14), a Sua ressurreição (Rm 1.4; 8.11), e sua ascensão e entronização (Sl 45.1-7; At 2.33), descobrimos que o Espírito Santo era companheiro constante e inseparável de Cristo.

Cristo escolheu não considerar sua igualdade com Deus como algo a explorar ou tirar proveito de (Fp 2.6). Por isso, em completa dependência do Espírito Santo, Cristo obedeceu ao Pai perfeitamente, sem apego a Sua própria natureza divina. Como John Owen argumentou, “qualquer coisa que o Filho de Deus tenha efetuado em, por ou sobre a natureza humana, ele fez isso pelo Espírito Santo.” O Espírito Santo produz em Cristo o fruto do Espírito (Gl 5.18). Assim, os crentes podem esperar não apenas um Salvador formidável que derrotou os poderes das trevas, mas também um Salvador misericordioso, paciente, bondoso e amoroso, porque Ele é preenchido com as graças do Espírito Santo. Devido a esta verdade, Thomas Goodwin afirmou que os pecados do povo de Deus movem Cristo mais a pena do que a raiva. Na verdade, Goodwin acrescenta: “Se houvesse infinitos mundos feitos de criaturas amorosas, eles não teriam tanto amor neles quanto havia no coração do homem Cristo Jesus.”

Conclusão

Por causa da entrada do pecado no mundo através do homem, o homem deve satisfação a Deus. Mas o homem pecador não pode satisfazer pelo seu pecado. Um homem sem pecado poderia apenas, potencialmente, fazer a restituição de um homem pecador. Satisfazer as condições de Deus para muitos homens ( “como a areia do mar”) só pode ocorrer através do Deus-homem, Jesus Cristo, por causa do valor infinito de Sua pessoa. Ele é o Messias escolhido de Deus, o único que pode trazer a salvação para os pecadores por meio de Sua morte e ressurreição. Pedro reconheceu esta grande verdade para seu ganho maior. Pela fé, Pedro confessou Jesus como o Cristo, o Filho de Deus (Mt 16.16) Pela visão, Pedro agora contempla a glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Aqueles que contemplam a glória de Deus na face de Jesus Cristo nesta vida pela fé (2 Co 3.18) podem confiantemente esperar fazer o mesmo por vista na vida por vir (2 Co 5.7). Esta é a nossa esperança, esta é a nossa alegria. É por isso que a única esperança para a igreja hoje não é um mero homem, mas o homem-Deus, que lhe pergunta: “Quem dizeis que eu sou?”

Este artigo foi publicado originalmente pelo Ligonier Ministries.

De Ligonier Ministries e R.C. Sproul © 2016 Ligonier Ministries. Usado com permissão.

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