×
Procurar

Um missionário sábio sabe que a pregação do evangelho para uma cultura diferente requer uma contextualização da sua mensagem. As palavras que usamos não se traduzem automaticamente para uma nova cultura que não possui as associações e experiências com as quais estamos familiarizados. Precisamos encontrar novas formas de comunicar a velha história, formas que possam ser compreendidas, formas que “falem a língua” daqueles aos quais estamos ministrando.

Mesmo em nível local, temos que lidar com a contextualização. Isso porque a música e liturgia são uma linguagem. Elas podem significar coisas diferentes para pessoas diferentes. Nos últimos anos, muito tem sido escrito, pleiteado, e desenvolvido para nos ajudar a entender por que devemos estar preocupados em dirigir os cultos de forma que as pessoas realmente compreendam o que estamos fazendo e dizendo, para que elas sejam impactadas da forma correta (Rhythms of Grace [Ritmos da Graça] de Mike Cosper é um exemplo). Isto pode significar mudar o seu acompanhamento musical, a liturgia, a comunicação e muito mais.

Mas já vi contextualização mal aplicada às vezes. Aqui estão algumas coisas que achei útil para se ter em mente, quando pensamos sobre formas de nos conectar com as pessoas.

1. Tentativas de contextualização sem uma liderança clara e teologicamente informada tenderá a produzir desordem, discórdia, e distanciamento.

Às vezes, os líderes recebem a revelação de que devem começar a fazer mais para alcançar a comunidade em torno deles. Assim, a música torna-se muito mais descolada, ou mais alta, ou “jazzística”, ou mais tradicional. Práticas litúrgicas centenárias são subitamente adicionadas ou abandonadas. Mas fazer mudanças drásticas na metodologia ou no foco sem considerar aqueles que já estão em sua igreja irá revelar-se desastroso. Comunicar uma visão clara e informada do evangelho vai ajudar as pessoas a se envolverem com as mudanças.

2. Se a maior parte da congregação não está cantando, você não está contextualizando, você está representando. 

Contextualização deve resultar num maior engajamento e não menor. Estive em cultos onde os músicos eram culturalmente bastante relevantes, mas pelo menos metade das pessoas estavam lá para observar, não participar. As exortações de Deus para que seu povo cante (1Cr 16:8-9; Sl 5:11; Sl 30:4; Sl 47:6) superam em muito o incentivo para o uso de instrumentos. Na verdade, é uma boa ideia, ensinar sua congregação através de suas palavras e exemplo, que as suas vozes cheias de fé são o som mais importante quando a música está acontecendo.

3. A contextualização que tira todas as suas referências da cultura dominante corre o risco de tornar-se indistinguível da cultura.

Se um descrente sente-se completamente confortável em nossas reuniões, temos um problema. O evangelho é uma afronta ao nosso orgulho e à nossa perdição. Estar no mundo não é o mesmo que pertencer ao mundo. Se as nossas músicas, vídeos, valores e conversas parecem e soam exatamente como o mundo que nos rodeia, pode ser difícil para um descrente entender como o evangelho nos mudou.

4. Alguns aspectos de nossas reuniões são opostos à cultura dominante e não devem ser contextualizados.

Os cristãos são pessoas da Palavra. A primeira e a última autoridade sobre o que fazemos quando nos reunimos são as Escrituras. É por isso que celebramos a Ceia do Senhor e o batismo. É por isso que os pastores pregam e não meramente se limitam a se envolver em conversas interativas amistosas (2 Tm 4:1-2). A reunião do povo de Deus é seu próprio contexto, que se destina a dar forma e transformar nosso pensamento, perspectivas e escolhas.

5. A contextualização que ignora ou minimiza a história e outros contextos culturais tende a criar esnobismo cultural, produz alienação e prejudica o amplo alcance do evangelho.

Quando a contextualização é definida de forma restrita, as pessoas são inevitavelmente deixadas de fora. Você está contextualizando para pessoas de 20-30 anos? E aqueles com 60 anos? Você está contextualizando para famílias que educam os filhos em casa? E os pais que enviam seus filhos para escola públicas? Você está contextualizando para a classe artística? E os pedreiros, donas de casa, e contadores? Na recente conferência de pastores Sovereign Grace, Kevin DeYoung disse: “Aquela que se casa com o espírito desta época vai se tornar uma viúva na próxima.” Amém. Quando interagimos com os aspectos culturais mais significativos de nossa igreja e comunidade, é prudente fazer com que nosso povo fique consciente da realidade mundial e celeste da igreja, o corpo de Cristo.

6. Contextualizar práticas de evangelismo é diferente de contextualizar reuniões congregacionais.

As palavras de Paulo em 1 Co 9:22-23 são muitas vezes usadas como uma justificativa para alterar o formato dos cultos de domingo para fazer com que os incrédulos se sintam mais bem recebidos. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. Ora, tudo faço por causa do evangelho, para dele tornar-me co-participante.Mas Paulo está falando sobre evangelizar os não-cristãos, não sobre a reunião com a igreja nas manhãs de domingo. O propósito destas reuniões é edificar o corpo de Cristo por meio dos dons espirituais para a glória de Deus (1 Co 12:4-7; 1 Co 14:12). Se um descrente é afetado, será porque ele ou ela percebe que o que acontece quando a igreja se reúne é diferente do que acontece em qualquer outro tipo de reunião (1 Co 14:24-25).

7. Contextualização é um meio e não um fim.

Há um tempo atrás eu estava conversando com alguém no Twitter, que disse que é “confuso quando a ‘adoração congregacional’ é utilizada globalmente. O que é congregacional para um não o é para outro.” Entendo o ponto. Mas passagens como 1 Co 12 e 14, Cl 3:16-17, e Ef 5:18-20 nos dão alguns elementos básicos que devem caracterizar toda reunião de cristãos. Igrejas em Moscou, Beijing, Mumbai, Nairobi, Londres, Sydney, Santo Domingo, e Boise, todas devem se reunir para ouvir a Palavra de Deus fielmente exposta por um pregador. Congregações em todo o mundo devem cantar e orar. Todas as reuniões e seus membros devem refletir a realidade da nova vida que partilhamos através do evangelho de Cristo, enquanto aguardamos o seu retorno.

Conduzir as reuniões de uma forma que as pessoas compreendam deve ser uma prioridade para pastores e líderes. Mas vamos nos certificar de que a contextualização nunca nos faça parecer e agir como algo diferente do que Cristo nos resgatou para sermos – irrepreensíveis e sinceros, resplandecentes como luminares no mundo; retendo a palavra da vida. (Fp 2:15-16).

Este post foi publicado originalmente em worshipmatters.com.

Traduzido por Claudio L. Chagas.

CARREGAR MAIS
Loading