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Provações Comuns Ainda São Provações

Ano passado, eu estava contando a uma amiga como me sentia cansada e desmotivada. Por estar fisicamente incapacitada, queria pelo menos conseguir ler um pouco e orar. No entanto, minhas tentativas frustradas me fizeram lembrar que meu sofrimento estava me afetando completamente — corpo, mente e espírito. Eu não produzia e me sentia culpada por isso. Estava cansada e irritada.

Pior, meus dias improdutivos tinham uma explicação comum: um saudável primeiro semestre de gravidez. Eu não podia afirmar que algo incomum havia solapado minhas forças e embaçado meu cérebro. Eu simplesmente estava vivenciando aquilo que milhares de mulheres enfrentam.

À isso, minha amiga disse: “Só porque é comum, não quer dizer que é fácil.”

Suas palavras me ajudaram a dar nome a um tipo de sofrimento com o qual eu, e outros como eu, geralmente temos dificuldade em lidar: provações comuns e penosas — situações que são difíceis, mas parecem ser de menor importância. Enjôos matinais, provas da faculdade, estresse nos relacionamentos, incertezas financeiras, ansiedades leves. Estas, e muitas outras provações, parecem mundanas, problemas corriqueiros. E, embora algumas pessoas sejam tentadas a fazer demasiado caso dos seus problemas, outros de nós temos dificuldade até de chamarmos estas dificuldades de “provações”.

Como devemos considerar as provações comuns? E o que pensa Deus sobre elas?

Deus se Importa com Provações “Comuns”

Parte da razão pela qual os cristãos não sabem como lidar com provações penosas comuns é que desejamos ter uma perspectiva apropriada sobre nossas provações. Escutamos sobre guerras distantes, vemos injustiças em nosso país e observamos pessoas sofrendo de doenças terminais em nossas igrejas. Em face de tão grande sofrimento, temos dificuldade em ver como Deus pode compadecer-se de nossos fardos diários relativamente insignificantes.

As boas novas para nós sāo que Jesus se importa com provações penosas comuns e ele nos mostrou isso quando andou sobre a terra. Depois de dias ministrando a multidões—curando os coxos, os cegos, os aleijados e os mudos —Jesus propôs a seus discípulos que conseguissem comida para aquela multidāo. Os discípulos protestaram da impossível tarefa, mas Jesus fez um milagre, e alimentou mais de 4.000 pessoas, com sete cestos de sobras.

Eu já havia escutado esta história inúmeras vezes até que uma vez, ao enfrentar um desgosto comum, mas penoso, entendi a motivação de Jesus para multiplicar os pães e o peixes: “Tenho compaixão desta gente, porque há três dias que permanece comigo e não tem o que comer; e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça pelo caminho” (Mt 15.32)

Jesus, que havia jejuado por 40 dias mais cedo em seu ministério, estava preocupado com a multidão que não comia há três dias. Ele não comparou sua própria provação com a da multidão. Ele sabia que alguns deles não aguentariam a jornada para casa e, em sua bondade, não estava disposto a mandá-los embora de barriga vazia. Note que Jesus não disse: “Eu estou fazendo coisas importantes tais como curar doenças e trazer o reino de Deus. Procurem sua própria comida.” Ele não os repreendeu: “Eu não comi por 40 dias; vocês conseguem sobreviver três.” Ele teve compaixão deles. E, da mesma maneira, ele tem compaixão de nós.

Deus Usa as Provações “Comuns”

Deus não apenas se importa profundamente com nossas provações; Ele as usa para nos trazer para mais perto dEle e nos tornar mais como Ele é. Aqui estão três maneiras que Ele usa as provações comuns em nossa vidas.

1. Elas nos fazem lembrar da infinita misericórdia e poder de Deus.

Se Deus fosse finito, ele necessitaria dividir sua atenção entre crises globais e pedidos pessoais. Como criaturas finitas, nós sentimos esta tensão. O ciclo de notícias e consequentemente, nosso “esgotamento de compaixão” revelam nossa capacidade humana limitada de nos importarmos, muito menos agirmos, em resposta ao sofrimento que observamos no mundo.

Frequentemente presumimos erroneamente que Deus é como nós, fazendo uma triagem das necessidades de bilhões de pessoas e priorizando as mais urgentes. No entanto, nosso Pai celestial é grande o suficiente para cuidar tanto das solicitações para que o seu reino venha quanto para que o pāo nosso de cada dia nos seja dado. Ele é poderoso o suficiente para carregar em seus ombros os nossos problemas e também os fardos do mundo.

Já ouvi pessoas dizerem que não oram porque há tantos outros problemas importantes no mundo para Deus cuidar. Eu sei como é isso. Muitas vezes após ele prover de pequenas maneiras que sāo importantes para mim, ao agradecer a ele, me sinto um pouco envergonhada. Em minha mente, até chamei tais pedidos de “ínfimos”. Recentemente, porém, tenho tentado parar de pensar nestes pedidos como ínfimos e, em vez disso, como pedidos sobre “pardais”, concedidos pelo Pai que cuida dos humildes pardais e conta todos os cabelos da minha cabeça (Mt 10.29-31).

Por Deus ser infinitamente poderoso, nenhum fardo é demasiado pesado. Por ele ser infinitamente misericordioso, nenhum fardo é insignificante. Ele conhece nosso ser, sabe quando há coisas que nos deixarão desnorteados demais para andar até nossa casa e está disposto e tem a capacidade para prover o pão e o peixe que necessitamos.

Aprender a levar nossas provações comuns a Ele nos faz lembrar a grandeza de sua compaixão e a infinitude de seu poder.

2. Elas aprofundam nossa compaixāo pelos outros.

O problema de usarmos uma escala que relativiza nosso próprio sofrimento é que isto dificulta o ministrar a outros, cujas provações consideramos menos difíceis. Há provações que todos reconhecemos como legítimas: doenças graves, a morte de um ente querido, perseguições e coisas similares. Mas às vezes pode ser mais difícil ministrar às pessoas quando elas não são tão fortes quanto nós, quando não estāo superando as coisas tão rápido quanto nós, ou não adotando a atitude que achamos que deveriam ter.

Ficamos impacientes com tais pessoas. Podemos até mesmo ficar tentados a revirar os olhos frente a um namoro desfeito de uma adolescente ou a minimizar a luta de uma mãe mais jovem com a privação de sono. Felizmente, Jesus não é como nós.

Jesus suportou tudo aquilo que enfrentamos: a solidão, a rejeição, a tentação, a dor, perdas, o cansaço e muito mais. Ele conhece tudo, desde sofrimentos do tamanho do Everest até pequenas provações de pedra no sapato. No entanto, ele não rejeita nossos problemas relativamente pequenos. Pelo contrário, por ter sido tentado em todos os sentidos como nós somos, nosso Sumo Sacerdote se compadece de nós em nossas fraquezas (Hb 4.15).

3. Elas nos tornam humildes para que possamos receber graça e dar glórias a Deus.

As provações comuns de ser māe mostraram-me como posso ser impaciente, impiedosa, cruel e desagradável. Mas a coisa mais humilhante não foi enxergar o meu pecado; foi perceber como orgulhosamente julguei outros pais por parecerem impacientes, impiedosos, cruéis e desagradáveis.

Se minhas provações fossem incomuns e meu sofrimento extremo, eu poderia encontrar uma maneira de desculpar meu comportamento. Mas passar por tentações diárias e comuns que outros enfrentam — e fracassar repetidamente — me humilhou.

Provações comuns e penosas expuseram meu orgulho na minha capacidade de resistir à tentação. Jamais achava que eu seria a mãe com o garoto gritando na loja, me importando mais com minha imagem do que com meu filho. Até passar por enjôos matinais durante minha quinta gravidez, nāo havia sentido a tentação de me distrair com uma tela. Não achava que minha capacidade de ser razoável e paciente estava enraizada na minha boa saúde. E não achava que houvesse tanto orgulho e condenaçāo a outros à espreita em meu coração.

“Deus resiste aos soberbos”, escreveu Pedro, “mas concede sua graça aos humildes” (1Pe 5.5). É assustador pensar em ser resistida por Deus. Mas, como filhos de Deus, podemos nos confortar em saber que nosso Pai nos ama o suficiente para nos humilhar. Ele nos disciplina não só para nos colocar no nosso lugar, mas também para nos dar graça: graça de depender Dele, graça de buscar o seu perdão, graça de crescer em santidade. E ao recebermos sua graça, Ele recebe toda a glória.

Quando consideramos que não necessitamos de Deus no nosso dia-a-dia, nas coisas comuns e penosas, abrimos māo da dádiva de Sua proximidade, de Seu cuidado e perdão. Quando levamos a vida com nossas próprias forças, perdemos oportunidades de receber sua graça e de revelar seu poder (2Co 12.9). Perdemos a oportunidade de mostrar àqueles que nos rodeiam que qualquer coisa de bom em nós não vem de nós, mas de Cristo.

Você está enfrentando alguma provação comum e penosa hoje? Traga seus fardos a Deus e testemunhe a compaixão sem limites e o poder infinito de um Pai celestial. Ouça a voz compassiva de Jesus. Ele não está disposto a mandá-lo embora com fome.

 

Traduzido por Felipe Barnabé

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