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Duas Perguntas sobre Visão de Mundo

Considere o seguinte: neste exato momento, enquanto você lê esta frase, pessoas nos EUA (e, em certa medida, no Reino Unido e no Canadá) estão em meio a um grande debate sobre visão de mundo quanto a duas questões fundamentais que afetarão você, seus filhos e até seus netos por décadas. Como respondemos a essas duas perguntas determinará nada menos do que o futuro de seres humanos.

Primeiro, estamos discutindo sobre verdade. Será que a verdade moral é real e cognoscível, ou é apenas uma questão de preferência, como escolher um sorvete de chocolate em vez de baunilha?

Segundo, estamos discutindo sobre valor humano. Será que você e eu temos valor intrinsecamente, pelo que somos, ou apenas funcionalmente, pelo que podemos fazer?

A questão da verdade e a questão do valor humano estão impulsionando nossos debates nacionais sobre aborto, clonagem e pesquisa com células-tronco embrionárias. Os debates são disputados porque envolvem compromissos profundos de visão de mundo que chegam ao cerne de quem e do quê somos como pessoas. Mas o debate em si não é complexo, ou você acredita que cada ser humano tem o mesmo direito à vida ou não.

Os cristãos pró-vida fornecem uma resposta: embora os seres humanos tenham diferenças em seus respectivos graus de desenvolvimento, eles têm o mesmo valor porque compartilham uma natureza humana comum que porta a imagem do seu Criador. Todos os humanos têm valor simplesmente por serem humanos.

Alguns defensores proeminentes do aborto fornecem uma perspectiva radicalmente diferente. Eles dizem que, embora você seja idêntico ao embrião que você uma vez foi—o mesmo ser agora como era então—isso não significa que você tinha o mesmo direito à vida naquela época como o tem agora. Ser humano não tem nada de especial. O seu direito à vida é estritamente acidental, você goza desse direito apenas por causa de alguma característica adquirida que os embriões não possuem.

Mas aqui está o problema com esse pensamento: se os humanos têm um valor fundamental apenas por causa de alguma característica que possuem em graus variados, então aqueles que possuem um grau maior dessa característica têm um valor maior do que aqueles com um grau menos. A famigerada igualdade humana seria apenas um mito.

Engaje-se com robustez e graça

Minha tese é dupla: (1) uma visão pró-vida biblicamente informada é capaz de explicar melhor a igualdade humana, os direitos humanos e as obrigações morais do que visões rivais seculares; e (2) cristãos pró-vida comuns podem ter uma influência mais imediata, desde que estejam equipados para se engajar com a cultura usando argumentos robustos em defesa da vida que são expostos com graça.

Devemos esclarecer o debate sobre o aborto e estabelecer as regras básicas para o engajamento. Em uma cultura cada vez mais subjetiva, muitas coisas que antes eram pressupostos óbvios—as regras da lógica, a natureza dos argumentos e até o que significa ser pró-vida—agora estão em aberto. A falta de definição de termos e a eliminação de distrações podem acabar com uma argumentação pró-vida antes que ela seja sequer ouvida.

Os debates sobre aborto e pesquisas com células-tronco embrionárias não são moralmente complexos, ainda que muitas vezes eles sejam apresentados assim. Podemos matar os nascituros? Sim, eu acho que podemos, se… Se o quê? Se os nascituros não forem seres humanos.

Quais visões de mundo estão por trás do debate sobre o aborto? Já se sentiu como se estivesse falando com um amigo ou colega sobre aborto e suas palavras não o alcançassem, como se você estivesse vindo de um mundo radicalmente diferente? Muito provavelmente, você está. Depois de perceber isso, prepare-se para ser interrogado incessantemente sobre cada um de seus pontos de partida e pressupostos. Você será pressionado a explicar como o direito à vida pode existir independentemente de bases religiosas fundamentais, por que usar esses fundamentos para informar políticas públicas deveria ser permitido e por que alguém deve supor que eu tenho um direito à vida que outros são obrigados a respeitar só pelo fato de existir como ser humano.

Ambos os lados trazem compromissos metafísicos anteriores para o debate e estão fazendo a mesma pergunta: O que dá valor aos seres humanos em primeiro lugar? A questão do aborto—agora mais do que nunca—está se tornando uma batalha de visão de mundo. Você precisa estar ciente das grandes ideias que estão latentes sob a superfície.

Nota do editor: 

Este artigo foi publicado em parceria com a Crossway, adaptado do livro de Scott Klusendorf  Em Defesa da Vida: Como Argumentar Contra o Aborto (1a ed., Pilgrim, Julho 2021).

Traduzido por David Bello Bondarenco

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