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Se você acha que nossos tempos são perigosos, você está certo. A cosmovisão do momento é chamada de “interseccionalidade” — a crença de que quem você realmente é, se mede pelo número de status de vítima que você pode reivindicar, com a dignidade humana apenas resultando da intolerância a respeito de qualquer tipo de discordância.

Isto colocou os cristãos diretamente em um mundo pós-cristão, onde a mais alta conquista da personalidade é esta: o indivíduo autônomo e independente que encontra significado em nada além de si mesmo. Cristãos ponderados sabem que a constante erosão da tradição cristã no tecido cotidiano da vida significará, mais cedo ou mais tarde, que os cristãos se encontrarão vivendo tal como a igreja primitiva na Roma hostil.

Quão tentador é desistir. Como é fácil deixar o medo dominar nossos corações ao mesmo tempo em que nos resguardamos e a nossos filhos do mal. Como ficamos temerosos em falar quando nossas palavras, apesar das boas intenções e da integridade bíblica, são declaradas como discurso de ódio. Como devemos viver? Sua melhor arma é uma porta aberta.

Mas como? Especialmente se já tivemos experiências ruins antes, como abrimos nossas portas para o mundo?

1. Aprenda a Ouvir

Tradicionalmente, os cristãos foram ensinados a compartilhar o Evangelho começando com as boas novas de que Jesus nos salva de nossos pecados. Mas nós vivemos em um mundo que não crê que necessita ser salvo do pecado. O mundo crê que necessita se salvar dos seus vizinhos cristãos.

Ao invés de começar falando, necessitamos começar ouvindo e ouvindo bem. Nas comunidades pós-cristãs, suas palavras só serão tão fortes quanto forem os seus relacionamentos. Então, aprenda a conhecer o seu público e tente ser algo de bom para ele. Sua melhor arma espiritual é uma porta aberta, uma mesa posta, um café quentinho e uma caixa de lenços de papel para as lágrimas que forem derramadas. Porque lágrimas serão derramadas.

Deus pôs a eternidade nos corações de cada um de nós, e parte dessa eternidade é um anseio por dignidade. A vida sem o Senhor é difícil. Tem beiradas afiadas e descidas íngremes. Em suas traições não há esperança, em seus sofrimentos não há perspectiva alguma de redenção. Somente a vida em Cristo oferece um sofrimento redentor. Conheça seus vizinhos bem o suficiente para saber onde dói e depois acompanhe-os em seu sofrimento. Demonstre — e fale — que Jesus conforta os que sofrem. Carregue consigo as palavras que Jesus oferece a todos que lhe derem ouvido,

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” (Mateus 11.28-30)

Estar disponível para os vizinhos significa reduzir seus gastos com entretenimento, reservar um tempo no seu dia e gastar dinheiro para alimentar muito mais pessoas do que aquelas que compartilham seu sobrenome. Faça sacrifícios por seus vizinhos não salvos que lhe custe algo. Saia da sua rotina por eles.

2. Prepare Seu Coração e Seu Lar

Ser hospitaleiro em um mundo pós-cristão significa se encontrar com desconhecidos e torná-los vizinhos e, pela graça de Deus, acolher vizinhos na família de Deus. Nossos lares são cruciais para isto. Nossos lares são a ponte entre a igreja e o mundo.

O primeiro desafio é como se encontrar com desconhecidos. Barreiras de classe social e de tempo obstruem esta obra cristã vital. Mas há programas com detentos, com refugiados e de acolhimento de menores sem lar, disponíveis para que você entre em parceria com eles. O “Safe Families” [Famílias Seguras] é uma alternativa cristã aos programas de acolhimento de menores sem lar, do qual muitas famílias da igreja podem participar juntas. Os cristãos devem ser intencionais na busca por pessoas desconhecidas. É necessário pensar em nossos lares como hospitais, embaixadas e incubadoras, não como castelos, fortalezas ou museus.

O segundo desafio é como direcionar a conversa para Cristo. Para a família Butterfield, a prática noturna do culto doméstico ajudou nossa família a administrar essa transição, às vezes desajeitada, do divertimento do jantar para valores eternos. Como? Toda noite é a mesma rotina. Jantamos e depois meu marido dirige um breve estudo bíblico, seguido por oração, e às vezes entoamos um salmo para finalizar. Visto que fazemos isto todas as noites, é normal incorporar outros na prática da comunhão cristã à mesa. Sem que ninguém peça, quando os pratos do jantar são passados para a cabeceira da mesa para serem levados para a pia, as Bíblias são distribuídas junto com as canecas de café.

E a hospitalidade quase diária é muito mais fácil de realizar do que aqueles eventos detalhadamente gerenciados e bem planejados. Aqui está como isto ocorre. Pessoas solteiras da igreja e do bairro vêm depois do trabalho e ajudam a preparar o jantar. Nós nos divertimos fazendo isso. Às vezes há roupa lavada na minha mesa que necessita ser dobrada e guardada (ou colocada de volta na secadora). Às vezes há uma criança ainda tendo dificuldades com uma lição de matemática. E todos nós agimos melhor quando não somos apenas nós que lidamos com a bagunça da roupa a ser dobrada e com exercícios de matemática não finalizados.

Outros vizinhos começam a aparecer. Pessoas com vidas secretas — pessoas com vícios secretos de drogas ou relacionamentos perigosos — não podem fazer planos facilmente. Os cristãos precisam ser sensíveis a isso. Eles não sabem se estarão sóbrios ou a salvo com três semanas de antecedência. Mas se o convite for aberto e regular, eles podem chegar à sua mesa a qualquer momento. Todas as pessoas — crentes e não-crentes — necessitam observar vidas cristãs transparentes reais sendo vividas em tempos de lágrimas e de bagunça.

E na mesa, a paz reina. Nós abrimos espaço para todos. Puxamos cadeiras extras ou bancos de piano, ou alguns de nós nos sentamos no chão. Compartilhamos o que temos. Deixamos de lado nossos celulares. Trazemos nossos problemas e nossas perguntas. Não precisamos nos preocupar com o que nossos vizinhos incrédulos pensam de nós, porque eles estão aqui também, e eles ficam mais do que felizes em nos dizer o que pensam. E depois do jantar, abrimos nossas Bíblias com nossos corações. E então oramos. Pedimos a Jesus para entrar em nossas vidas, não a fim de interromper as conversas, mas para aprofundá-las e nos dar esperança.

3. Compartilhe a Chave da Sua Casa

Vivemos em um mundo que normalizou a solidão devastadora. Mas a Bíblia não o faz. Biblicamente falando, a conversão a Cristo transforma órfãos em filhos e filhas, trazendo intimidade e o sentido de pertencer.

Os cristãos permitiram que os ídolos (as realizações, a aquisição, a ambição egoísta) desfigurassem o Evangelho. Trocamos a prioridade bíblica de que a igreja é a família de Deus por uma falsificação que diz que o sangue familiar está acima do sangue de Cristo. E quando fazemos isso, puxamos o tapete de irmãos e irmãs mais vulneráveis. A vida cristã vem em troca da vida (e às vezes da família) que uma vez tivemos, não em adição a ela.

Mas a perda se torna ganho na comunidade — ou se tornaria, caso fôssemos obedientes aos mandamentos de hospitalidade dados por nosso Senhor. Marcos 10:28-30 diz:

Então, Pedro começou a dizer-lhe: Eis que nós tudo deixamos e te seguimos. Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo por vir, a vida eterna.””

Por favor, observe o que Jesus diz sobre aqueles que desistem de tudo para seguirem a Cristo. Deixarāo tudo para trás. Mesmo tal perda necessária causará luto, tristeza, memórias corporais e terrores noturnos — tudo parte das complexas emoções que compõem os custos de viver o Evangelho. Mas este versículo também promete que, na família de Deus, eles receberão cem vezes ainda nesta vida.

Este “cem vezes” não cairá do céu. Ou virá de mim e de você, ou não virá de lugar algum. Este “cem vezes” inclui abraços calorosos, jantares regulares, oração, suportar as cargas uns dos outros e viver a vida juntos como família de Deus. É orgânico, confuso e vivificante. Isto inclui casados e solteiros, jovens e idosos, pessoas sās e enfermas, e todos os demais. Significa que, em Cristo, pertencemos uns ao outros, e este pertencimento tem uma dimensão física e material, além de uma dimensão espiritual.

Este versículo está prometendo algo vital: você, cristão, tem uma família de Deus. Você, cristão, tem um lugar na mesa. E como você atravessa da porta da frente para a mesa? Você, cristão, tem a chave. O evangelho vem com uma chave de casa para aqueles que deixaram tudo por Jesus.

O Que O Está Impedindo?

Se o mundo visse cristãos vivendo em comunidades vitais e vivificantes, com famílias, solteiros e crianças compartilhando um ritmo de vida, com tempo, mãos extras e energia sobrando para ajudar aqueles que ainda não conhecem o Senhor, talvez eles também pudessem “provar e ver que o Senhor é bom” (Salmo 34.8).

Talvez nossos filhos não vivessem, falassem e pensassem de uma maneira na igreja e de outra maneira no Facebook ou na escola — tratando Jesus como um adereço removível para ir a igreja ou ao grupo de jovens. Talvez os nossos vizinhos não salvos nos considerassem como as pessoas a quem se dirigir quando os problemas acontecem — pessoas a quem eles podem contar seus segredos mais profundos, que se esforçam para ajudar pessoas em situações difíceis, e que sabem lidar sobriamente com o problema do mal no mundo. Talvez a transparência de nossas vidas ajudasse as pessoas a ver como, mesmo quando os cristãos perdem, o evangelho cura, ajuda e progride. Talvez nossa vida cotidiana revelasse que a mão de Deus alcança as situações mais difíceis que se pode imaginar ​​e que nada é impossível para Deus.

A hospitalidade é o marco zero da vida cristã. O que o está impedindo?

Publicado originalmente em DesiringGod.org.

Traduzido por Bruno Nunes.

 

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