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A Lei de Deus é para o Amor, Não para o Autoaperfeiçoamento

Nos últimos anos, tornou-se comum que os empregadores coloquem funcionários com baixo desempenho em um plano de melhoria de desempenho (PMD). Embora muitas vezes sejam interpretados pelos funcionários como um sinal de que a demissão é inevitável, os PMDs cristalizam as expectativas de trabalho e destacam as maneiras pelas quais o empregado está ficando aquém. Isso protege o empregador em caso de rescisão, e afasta possíveis causas de acusação por parte do empregado.

Pensei sobre essa prática moderna quando li a observação do estudioso do Antigo Testamento, Stephen Dempster, sobre a lei de Deus em seu livro Dominion and Dynasty [Domínio e Dinastia ]: “Israel é tratado de forma diferente depois de [receber os Dez Mandamentos] no Sinai. As transgressões que ocorreram antes do Sinai levam à repreensão; as transgressões pós-Sinai levam à morte”.

Dempster não chamaria a lei de PMD, mas ressalta um sentido em que ela funciona de forma semelhante: ela revela claramente onde Israel ficou aquém do padrão de Deus; mostra-lhes onde não fizeram jus ao desempenho que Deus exige. Se essa for toda a nossa perspectiva sobre a lei de Deus estamos em apuros. No entanto, ao olharmos para o texto, encontramos um quadro mais amplo.

Nosso Fraco Desempenho

A lei de Deus é um modelo perfeito para o desenvolvimento humano (Sl 19.7). Nesse sentido, a lei de Deus é um incentivo a uma maior obediência. No entanto, também revela um problema enorme: não conseguimos obedecê-la.

Antes de receberem a lei, os israelitas murmuravam e reclamavam (Ex 16). Depois que os mandamentos foram dados, essa atitude não melhorou. O que mudou, no entanto, foi a severidade da resposta de Deus. Deus os castigou com a morte (Nm 14).

O que está acontecendo aqui? Deus de repente se tornou mais rigoroso? O desempenho do povo de Deus diante da lei não foi melhor depois que eles a receberam. O que mudou? Antes do Sinai, as expectativas de Deus ainda não haviam sido escritas em pedra. Mas depois que o povo recebeu o seu PMD, depois que as expectativas ficaram claras, eles tragicamente acreditaram que possuíam a força interior para obedecer às exigências de Deus (Ex 24.3). Dessa maneira, quando a murmuração e a ingratidão voltaram, alguns foram literalmente eliminados.

Em Romanos, Paulo nos ajuda a entender:

“Eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei . . . Outrora, sem a lei, eu vivia; mas, sobrevindo o preceito, reviveu o pecado, e eu morri. E o mandamento que me fora para vida, verifiquei que este mesmo se me tornou para morte. Porque o pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo mesmo mandamento, me enganou e me matou.” (Rm. 7.7, 9–11)

Assim como o pecado de Paulo, o pecado dos israelitas estava adormecido. Mas depois que a lei foi dada e o padrão de Deus ficou claro, também ficou claro o quão terrível era o desempenho deles. O resultado é a morte. Embora os mandamentos fossem bons (v. 12) e prometessem vida e florescimento se obedecidos, a incapacidade dos israelitas de obedecer à lei resultou em seu fracasso e na ira de Deus.

A Fidelidade de Deus à Sua Noiva

Felizmente, esse aspecto de “aliança das obras” da lei de Deus não é o quadro completo. Não importa quão escuras as coisas ficassem para o povo de Deus, fragmentos de luz penetravam em inúmeros lugares. Enxergar a relação entre Deus e seu povo como uma relação de um empregador com seus empregados é insuficiente.

Para termos uma visão mais completa, precisamos de mais contexto. Observe as primeiras palavras dos Dez Mandamentos: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (Ex. 20.2). Aqui, a linguagem do Decálogo é mais como um voto de casamento do que um contrato de trabalho. Deus entregou-se ao seu povo tal como quando um noivo e noiva se casam.

Além disso, Deus deu a Israel sua aliança imediatamente após havê-los libertado. Antes de explicitar suas expectativas, ele livrou Israel de sua prisão no Egito. Antes que os mandamentos fossem dados, os primeiros capítulos do livro de Êxodo expõem sua graça e poder.

Deus resgatou seu povo antes de dar regras. Ele entregou antes de exigir. Ele salvou antes que eles tentassem se comportar. Ele redimiu antes de dar regulamentos. Antes de dar os mandamentos a Israel, Deus os reivindicou como seus. Eram o seu povo, que ele resgatou com a própria mão. Apesar de todas as deficiências de Israel, ele ainda desejava habitar entre eles (33.14).

Como Israel sob Moisés (e os fariseus mais tarde), muitas vezes nos enganamos a nós mesmos. Nos esforçamos para obedecer a lei de Deus com nossas próprias forças, como um caminho para o autoaperfeiçoamento ou para sermos superiores aos outros. Mas quando nos apresentamos diante da lei boa e perfeita de Deus, ela nos expõe continuamente. Ela desperta o pecado em nós, matando-nos ao expor o abismo “vasto além de toda medida” que existe entre nós e o que o amor perfeito de Deus exige.

Glória do Noivo

No entanto, Deus, nosso amado Noivo, nos deu sua lei para expor esse abismo. E ele continuamente nos busca, embora nós, como a adúltera Gomer (Os 1), tenhamos nos afastado dele repetidas vezes. Apesar de nossa incapacidade de cumprir a aliança com Ele, Cristo continuou a cumprir os seus votos. Deus não abandonou seus votos de casamento.

Quando Jesus realizou seu primeiro milagre nas bodas de Caná (João 2), isso teve um significado notável. Ele transformou água em vinho para sinalizar que um dia restauraria a alegria ao povo de Deus. Os seis potes de pedra que continham a água eram usados para lavagem cerimonial. Mas nenhuma higienização poderia limpar seu povo de sua habitual infidelidade.

Com esse milagre, Jesus insinua que estava chegando a hora (João 2.4) em que ele pagaria as exigências da lei com sua própria morte (Rm 6.23). Ele se submeteu ao PMD da lei e cumpriu perfeitamente suas exigências para que sua aliança conosco se tornasse de amor e graça. Jesus pagou o preço total que infratores reincidentes mereciam pagar. Ele abriu um caminho para que o povo de Deus se reunisse com seu cônjuge do qual estavam apartados. Em sua morte, as exigências da lei foram atendidas para libertar aqueles de nós que sabem que a lei é boa (Rm 2.15), mas continuamente ficam aquém.

Então, o que nos resta fazer agora? Um cristão é compelido a fazer boas obras não para ganhar o favor de Deus, mas em resposta por haver recebido o favor de Deus como um dom divino. Ele coloca esse amor em evidência amando a Deus e ao próximo. Apesar de nossa incapacidade de obedecê-la, a lei de Deus continua sendo um modelo perfeito para amar a Deus e ao próximo.

Quando ficarmos aquém, e sem dúvida ficaremos, podemos correr de volta para Cristo (em vez de fugir dele com medo). Encontraremos misericórdia e graça para ajudar em nosso momento de necessidade. Ele cumpriu as exigências da lei para que possamos descansar com segurança nele.

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