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4 Razões do Porquê Sobreviventes de Abuso Permanecem em Silêncio

Eu não fiz nada em relação àquilo por anos. Anos em que sofri com as lembranças traumáticas. Anos em que sabia que aquilo era errado. Anos nos quais eu sabia que meu silêncio estava permitindo que o pecado prosperasse. Eu estava infeliz em cada circunstância. Tomada pelo desespero quando criança, imaginei maneiras de me matar. Décadas depois, novamente encurralada, criei um arquivo em meu computador com cartas de suicídio prontas para ser enviadas.

Eu sofri abuso e agressão sexual quando criança e como adulta. Através de décadas e me deixando confusa e danificada, as experiências de abuso moldaram minha vida. É somente pela mão de Deus e anos de orientação por um conselheiro talentoso, qualificado e piedoso que consigo falar sobre este assunto. Não falei sobre isto por anos.

Minha situação pode ser única, mas não é diferente das outras. Existem centenas de milhares de pessoas que foram feridas pelo horrível pecado da perversão sexual, abuso e violência. Meses atrás, alguns anos após ter conseguido escapar de minha situação de abuso, finalmente comuniquei àqueles em funções de liderança que necessitavam saber sobre o meu abuso.

Pareceu-me miraculoso que após anos presumindo que ninguém acreditaria em mim, eles acreditaram imediatamente. Agiram completa e biblicamente de imediato. Imediatamente se importaram comigo. Eles me protegeram.

Perguntas e Confusão

Fiz-me repetidamente as seguintes perguntas:
Por que não falei antes?
Por que não contei na primeira vez que algo aconteceu?
Por que eu não recorri a alguém em posição de autoridade sobre os vários indivíduos que me maltrataram, me abusaram e me agrediram?

Ou uma pergunta ainda mais básica: Quando eu fui abusada com pessoas ao alcance de minha voz, por que não gritei? Esta pergunta ainda zomba de mim nas noites escuras da minha alma.

Não sou só eu, como sobrevivente que se faz estas perguntas. Da mesma forma, aqueles que não sofreram o confuso labirinto do abuso, certamente devem se perguntar as mesmas coisas ao ouvirem as histórias que vêm à tona. Alguém me disse uma vez: “A confusão é o abuso”, o que significa que, ao cultivar a confusão sobre o que aconteceu, os agressores cultivam e perpetuam o abuso.

A confusão não termina com a vítima; estende-se até àqueles que ficam sabendo do abuso. Eles se perguntam como isso poderia ser possível. É extraordinariamente raro um agressor ter uma cara de agressor na vida normal. Inúmeras pessoas, incluindo as mais próximas do indivíduo, recordam-se de tantos momentos em que o agressor acusado foi compassivo, completamente cortês e até sensível a outros casos de abuso.

Quando o abuso vem à tona, as perguntas se multiplicam na mente de todos. Como esta pessoa poderia ter feito o que está sendo alegado? E, em caso afirmativo, como poderia o sobrevivente não ter denunciado isto antes?

Por muitos anos, não falei sobre como fui abusada. No entanto, agora quero afastar a confusão e desmascarar o autor das mentiras. Desejo que outros sobreviventes sejam libertados pela mesma verdade que me libertou.

Razões Comuns

Ao considerar minha própria situação e conversar com outros sobreviventes, aqui estão alguns dos pensamentos mais comuns de quem está sendo abusado ou agredido; não apenas ferindo o sobrevivente, mas também prolongando o silêncio sobre o abuso:

“Irão pensar que eu queria que isto acontecesse” ou “Ninguém vai acreditar em mim”.

Os abusadores são manipuladores. Eles habilmente identificam quem é vulnerável, abusam deles e depois redefinem a verdade para eles. Mesmo quando o coração da sobrevivente grita a verdade, a voz do agressor em seus ouvidos é alta. Isto a convence de que ninguém jamais acreditará que ela não é imoral, pecadora e que participou voluntariamente — isto se alguém acreditar que alguma coisa de fato aconteceu.

“Na realidade, a culpa é minha”.

Os abusadores muitas vezes se fazem de vítimas após o abuso ter ocorrido. Eles não queriam fazer aquilo, mas algo no sobrevivente os forçou. Não tinham como evitar. Para pessoas vulneráveis — e especialmente para aqueles que sofreram qualquer outra forma de abuso — isto é particularmente plausível. Isso também é extremamente desconcertante, quando o sobrevivente sabe que disse “não”, ou demonstrou não querer participar, e mesmo assim se convence de que ele ou ela realmente foi a causa do abuso.

“Mas ele não é tão ruim assim”.

Os agressores às vezes são tanto o vilão quanto o herói. É possível que alguém que esteja abusando sexualmente de outra pessoa demonstre um enorme cuidado por ela em outros aspectos do relacionamento. Isso não diminui nem minimiza de maneira alguma o horror, o pecado e as questões legais associadas ao abuso e agressão, mas contribui para o fato de um sobrevivente confuso não vir a denunciar o abuso. As ações destoantes do agressor levam o sobrevivente a questionar se a situação é realmente tão ruim quanto parece.

“Não quero ferir sua família”.

Os abusadores geralmente não vivem isolados. Eles têm uma família. Muitas vezes, um cônjuge e filhos. Talvez netos. Como o abuso ocorre com mais frequência no contexto de um relacionamento, não é incomum que o sobrevivente conheça — e até tenha carinho— pela família do agressor. Não há maneira possível de denunciar o abuso ou agressão sexual sem arrasar a família do agressor. Para mim, este foi o fator mais importante para ter demorado tanto para fazer a denúncia e é também o motivo deste artigo estar sendo escrito anonimamente. Não quero trazer nem um pouco de dor adicional àqueles que também foram vítimas desta situação — vítimas cujos mundos também foram virados de cabeça para baixo. Eles merecem compaixão, espaço e graça.

Amando com a Verdade

Sabendo disso, como devem os amigos, familiares e líderes cristãos agir quando um sobrevivente relata abuso? O que me tem sido mais útil é também muito simples: “Sinto muito” e “Eu acredito em você”. Essas frases, ditas com convicção e carinho, corrigiram para mim as mentiras mais fortes e me colocaram em um caminho para a plenitude que Cristo sempre pretendeu.

Se você sofreu abuso no passado, encorajo-o a entrar em contato com um conselheiro ou amigo de confiança e compartilhar sua experiência. Se você está atualmente sofrendo abuso, eu o encorajo a não apenas compartilhar com um conselheiro ou amigo, mas também a ir imediatamente à polícia.

Se você é amigo de alguém que se apresentou como sobrevivente de abuso, ore por esta pessoa, deixe-a saber o quanto você está sentido e que acredita nela, e então deixe-a decidir o que irá compartilhar e como vai fazê-lo. E ao orar, ore também pelo abusador e por sua família, para que eles também sintam a plenitude de Cristo em meio a suas circunstâncias. O abuso sexual é naturalmente destrutivo, mas servimos a um Deus sobrenatural que pode resgatar das mais desoladoras circunstâncias todos aqueles que foram danificados.

Traduzido por Vittor Rocha

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