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Iain Murray aos 90 anos: Um Tributo de Aniversário

Iain H. Murray, um dos historiadores mais amados do mundo evangélico, completou 90 anos em 19 de abril.

Com uma carreira de escritor que remonta a mais de seis décadas e meia, sua contribuição para o movimento evangélico, especialmente como biógrafo popular, tem sido fenomenal.

Por Que Necessitamos de História?

O objetivo principal de Iain Murray como autor é sempre edificar e fortalecer os leitores cristãos com lições do passado. Em seu livro Heroes {Heróis], ele explicou: “O estudo da história é vital para a saúde da igreja”. Murray então cita o grande historiador do século XVII Thomas Fuller, que escreveu no prefácio de sua História da Guerra Santa (1639): “A história faz com que um jovem seja velho, sem rugas ou cabelos grisalhos; privilegiando-o com a experiência da idade, sem as fraquezas ou inconvenientes”.

Em The Holy State [O Estado Santo] (1642), Fuller faz alusão ao velho rei Nestor, que de acordo com a Ilíada de Homero governou por três vidas e portanto era conhecido por sua grande sabedoria. “No entanto o historiador pode se tornar sábio vivendo tantas idades quanto se passaram desde o início do mundo”, observou Fuller. “Sem história a alma de um homem é míope, vendo apenas as coisas que quase tocam seus olhos.”

A história fornece não apenas lições do passado, mas também padrões plausíveis para o futuro. Novamente, como Fuller escreveu, a história “não só torna as coisas passadas, presentes; mas permite que alguém faça uma conjectura racional das coisas que estão por vir”. Onde outros se assustam com a estranheza dos eventos modernos, o historiador já viu precedentes. Onde outros naufragam por navegarem sem mapa ou bússola e portanto repetindo perpetuamente os erros de seus antepassados, o historiador “faz dos naufrágios de outros, boias de marcação para si mesmo”.

Murray é um brilhante expoente dessa filosofia da história. Por ser um exitoso guia dos anais do mundo evangélico, destila muitas lições vitais que a igreja contemporânea precisa urgentemente ouvir e agir. “Confinar nossa visão de igreja a alguns anos curtos e efêmeros”, argumenta Murray, seria “um erro grave. Necessitamos ver e nos lembrar do quadro geral.”

Rastreando a Mão de Deus

Os livros de Iain Murray são numerosos, fruto da leitura voraz e de energia aparentemente ilimitada, cobrindo o mundo de língua inglesa, a Grã-Bretanha, os Estados Unidos e a Austrália. Ao contrário dos historiadores que escrevem para uma audiência secular, ele não tem vergonha de escrever diretamente sobre as ações de Deus, traçando a mão da providência e da intervenção divina ao longo dos séculos.

No intenso debate entre historiadores evangélicos sobre as melhores maneiras de combinar a fé e a erudição, Murray tem sido um crítico firme da história de acadêmicos que deixa Deus fora de cena. Suas deleitáveis biografias não são apenas relatos sobre antigos luminares, mas contêm muita aplicação, oferecendo modelos piedosos para imitarmos e nos apontar através desses santos evangélicos, para Jesus Cristo. É o tipo de história projetada para edificar a igreja, estreitamente alinhada aos deveres de um pastor.

Começando aos 20 e poucos anos, como editor da revista The Banner of Truth (a partir de 1955) e co-fundador e diretor do Banner of Truth Trust (1957), o amor contagioso de Murray por desenterrar as jóias do evangelho de eras passadas sempre foi aparente. Sua visão teológica é explicitamente reformada, e ele gravita para personagens calvinistas de todo o espectro denominacional como Jonathan Edwards, Charles Haddon Spurgeon e J. C. Ryle. Seu magnum opus de dois volumes sobre Martyn Lloyd-Jones, totalizando quase 1.200 páginas, continua sendo uma das biografias evangélicas mais significativas da última geração. Apesar de tudo o que foi escrito sobre Lloyd-Jones desde então, Murray ainda domina o campo. Mas ele também demonstra uma capacidade notável de escrever positivamente sobre evangélicos de fora do mundo Reformado, tal como John Wesley e Amy Carmichael. Seu estilo é cativante e reconfortante.

Minha dívida para com Iain Murray

Muitos dos leitores de Murray podem testemunhar como seus livros têm sido importantes em nossas histórias cristãs. É impossível ler suas biografias e histórias sem ser revigorado espiritualmente e ser levado à ação ou de joelhos à oração.

Tenho uma grande dívida de gratidão a Murray pelas formas como seus livros moldaram fundamentalmente a minha perspectiva ministerial desde que eu tinha 20 anos de idade. Por exemplo, como estudante universitário sem um tostão em meados da década de 1990, fiquei emocionado ao encontrar seus dois volumes sobre Lloyd-Jones na prateleira de segunda mão na parte de trás de um sebo em Sussex. Foi como como descobrir um tesouro por acaso.

Especialmente o primeiro volume, foi fundamental no meu chamado para o ministério ordenado (embora na Igreja Anglicana), quando meu espírito saltou ao ler o relato de Murray sobre o chamado de Deus sobre a vida de Lloyd-Jones e seus primeiros tempos como pregador e pastor no sul do País de Gales.

Alguns anos depois, devorei o Evangelicalism Divided (Mundo Evangélico Dividido) recém-publicado, que reformulou radicalmente minha compreensão do mundo evangélico britânico. Eu havia herdado uma narrativa estreita (muito popular entre evangélicos anglicanos) de fazer parte de um movimento bíblico dinâmico e ressurgente—uma narrativa de sucessos contínuos, vibração e crescimento da igreja, como os evangélicos pertencentes à escola dos meus heróis John Stott e Jim Packer criam que dominavam a Igreja Anglicana.

As faculdades evangélicas estavam cheias, o número de bispos evangélicos era cada vez maior, a derrota do catolicismo liberal era inevitável. O volume de Murray derrubou esses mitos de uma vez e reconstruiu inteiramente minha visão de mundo eclesial. Ler Evangelicalism Divided às vésperas de minha ordenação anglicana provocou uma crise existencial, mas tem sido crucial para minhas pesquisas e interpretações subsequentes sobre a história evangélica britânica. Outros volumes de Murray também são meus favoritos. Quando minha esposa e eu fizemos nossa primeira visita aos Estados Unidos como um jovem casal, viajando pela extensão da Nova Inglaterra seguindo os passos de Jonathan Edwards, de Yale via Northampton a Princeton, levamos a biografia de Murray como nosso companheiro e guia.

Serviço à Igreja

A obra de Murray, vigorosamente evangélica e praticamente aplicada, nunca decepciona. Não se trata de história para seu próprio bem, mas de história a serviço da igreja, repleta de sabedoria bíblica.

Assim como suas biografias oferecem muitos exemplares piedosos para imitarmos, Iain Murray também se tornou um modelo acessível de erudição centrada em Cristo, e um estímulo muito necessário para uma geração mais jovem de historiadores em ascensão para pegarem suas canetas e escrever.

Traduzido por: Luiz Santana.

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