Netflix é um gigante no mundo do entretenimento. São a maior rede de televisão da internet no mundo, com 100 milhões de membros em mais de 190 países.
E eu sou um desses membros.
Ultimamente, entretanto, estive pensando na minha membresia. Não, não é por causa dos comentários recentes de Ricky Gervais no globo de ouro sobre a Netflix substituir Hollywood. Tem uma outra razão pela qual estou preocupada com a Netflix.
Veja bem, há um tempo atrás o CEO da Netflix, Reed Hastings, tuitou o seguinte: Sono é meu maior inimigo.
Agora, vou admitir que houve tempos em que eu sucumbi à ‘Maratona Netflix’ e sofri por isso no dia seguinte. No passado, eu teria dito para mim mesma ‘isso foi estúpido’, e deixado passar como autoflagelo.
Mas na sequência do tweet do Reed Hastings, encontrei-me a preparar um caldo de raiva. Uma coisa é sabotar meus próprios padrões de sono. Mas para uma empresa projetar deliberadamente um produto para privação de sono, e pior, patinar sobre isso–bem, isso é um jogo totalmente novo. Seu desrespeito flagrante por seus clientes e seu objetivo de privação global de sono me faz repensar meu uso da Netflix.
Sono e Saúde Mental
No meu trabalho diário, sou psicóloga. Quando aconselho um novo cliente, é rotina perguntar como estão dormindo. Por quê? Porque muito pouco sono (ou muito!) correlaciona-se com a má saúde mental.
E então o fato da Netflix apontar o sono como sua maior competição é um problema em potencial para a saúde mental do espectador.
Mas espere, não é só isso …
Projetada Para O Vício
Como se o tweet anterior do CEO Reed Hastings não fosse controverso o suficiente, aqui está outra declaração controversa que ele fez:
Quando você assiste um show pela Netflix e fica viciado nele, você fica acordado até tarde da noite. Você está realmente–estamos competindo com o sono … [página 10, ênfase acrescentada]
A Netflix realmente quer você viciado–e nem estão tentando esconder. Os programas que eles produzem (que parecem estar sempre aumentando) são projetados para o vício. O diretor de conteúdo [CCO] da Netflix, Ted Sarandos, disse:
Nossas próprias séries originais são criadas para visualização multi-episódica, alinhando o conteúdo com novas normas de controle de espectador pela primeira vez.
Eles estão vendendo como ‘controle de espectador’, mas o objetivo de seu jogo é o vício. E nesse caso, deixe-me sugerir que eles são os únicos que querem controle—controle sobre você.
A Tecnologia Nunca É ‘Neutra de Valor’
Eu sou toda a favor da recreação. E sou uma das primeiras a admitir que numa sexta à noite meu marido Akos e eu vamos sentar com uma boa taça de vinho e assistir um episódio (ou dois!). Não sou contra a Netflix–ou contra qualquer tecnologia–por assim dizer.
Mas penso que precisamos estar atentos a um importante fato: A tecnologia nunca é ‘neutra de valor’.
Toda a tecnologia tem um designer, e esses designers têm objetivos ou valores que eles “incorporam” na tecnologia. Esses objetivos e valores influenciam a forma como a tecnologia é usada, o que, por sua vez, molda o comportamento do usuário.
Então, o que os designers da Netflix valorizam? Quais objetivos eles querem que sua tecnologia atinja? Aqui está uma lista que eu pensei:
- Acesso instantâneo ao seu conteúdo 24/7;
- Entrega rápida de conteúdo (interessante).
E então como os valores acima moldam o comportamento dos usuários da Netflix? Bem, não há surpresas aqui.
- Os utilizadores vão querer continuar a assistir Netflix durante toda a noite, colocando a Netflix antes do sono;
- Os usuários podem se tornar espectadores compulsivos, viciados em um dos programas de TV.
Então, o que fazemos sobre tudo isso? Como os cristãos devem responder à Netflix?
De Consumidores Inconscientes a Usuários Conscientes
Poucas pessoas acordam de manhã e pensam: “Hoje à noite vou maratonar na Netflix, e ser uma mãe cansativa amanhã por causa da falta de sono!” Não é assim que funciona, é? Não tomamos conscientemente a decisão de priorizar a Netflix em vez do sono. Mas acho que esse é o ponto, e é onde está o perigo.
Muitas vezes somos consumidores inconscientes. Nós apenas usamos a tecnologia—e não pensamos em como ela está nos influenciando. Então, meu propósito é impulsioná-lo para o uso consciente de tecnologias como a Netflix.
Para contrariar os valores das tecnologias que usamos—inclusive a Netflix—precisamos ser guiados pelos valores imutáveis de Deus. Caso contrário, as tecnologias que usamos irão (sutilmente!) moldar e influenciar nosso comportamento—e nem sempre para o melhor.
Agora, deixe-me ser clara. Não estou dizendo que não devemos usar tecnologias como a Netflix.
Certamente, use a Netflix, mas com os olhos bem abertos. Use-a sabendo muito bem o objetivo dela para você —tornar-se um viciado sem sono— e como isso difere do plano melhor de Deus para você: um plano resumido lindamente em passagens como Tito 2:11 -12:
Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente…
Agora a psicóloga em mim não pode terminar esta publicação sem dar algum conselho prático específico.
Defina Um Horário de Sono Regular
A Netflix não quer que você durma. Então, se você vai assistir, ache um tempo de sono regular e mantenha-o, porque eu posso garantir que, quando o próximo episódio de “Crown” disser que tem 3 segundos para carregar antes de continuar, você ficará tentado.
Se estiver assistindo a Netflix à noite, instale programas como “f.lux” no computador. Filtra a luz azul da tela do seu computador à noite, o que te ajudará a dormir melhor.
Também é uma boa prática ir dormir em torno da mesma hora todos os dias (uma hora a mais ou a menos). Tente manter essa rotina.
Quem Está No Controle?
Vimos que Titus nos exorta a viver vidas auto-controladas. Isso significa exercer escolha e dizer não quando necessário.
Mas percebo que para alguns leitores auto-controle em torno da Netflix será difícil, e você pode até estar lendo este artigo perguntando: Sou viciado em Netflix? Aqui estão algumas perguntas para você pensar sobre sua relação com a Netflix:
- Você cancelou outros planos em favor de assistir à Netflix?
- Você está preocupado com pensamentos sobre uma série, antecipando sua próxima oportunidade de visualização?
- Você fica irritado se não conseguir assistir à Netflix?
- Você sente uma necessidade crescente de assistir mais para se sentir satisfeito?
- Seus períodos de maratona (assistindo a mais de um episódio em uma sessão) estão aumentando?
- Mente ou mantém em segredo o tempo que gasta assistindo à Netflix?
Agora, as perguntas acima não são de modo algum um diagnóstico de qualquer tipo (para isso, você precisará consultar um profissional), mas a resposta a essas perguntas pode revelar quanto controle a Netflix tem sobre seu funcionamento diário. Se você achar que o uso da Netflix é excessivo e afeta significativamente sua vida, reserve um tempo para ver um médico ou psicólogo local.
E, finalmente, por favor, busque o conselho divino de um cristão maduro, que pode encorajá-lo a viver para Cristo em vez do próximo episódio.
Originalmente publicado em akosbalogh.com
Recursos:
Para uma leitura mais aprofundada sobre este tema a partir de uma perspectiva cristã, eu recomendo o livro de Tim Challies The Next Story: Life and Faith The Digital Explosion.
Para mais informações em inglês sobre o vício da Internet em si, visite netaddiction.com
Traduzido por Marq.