Quando Você se Sente Como um (Cristão) Impostor

Chama-se a Síndrome do Impostor e, embora o nome possa não lhe ser familiar, o conceito por trás dele certamente será. Síndrome do Impostor é a sensação assustadora de realmente não ser capaz de fazer o que todos esperam que você seja capaz de fazer. Presume que qualquer sucesso que possa ter tido tenha sido um acaso irrepetível. Você é uma fraude e, a qualquer momento, todos vão se dar conta disso.

É comum sentir isso em nossos contextos de trabalho. Na realidade, é como estou me sentindo agora mesmo. Acabei de fazer uma palestra numa conferência onde todos os outros palestrantes são pessoas que admiro profundamente, pessoas extraordinariamente talentosas e capazes. Portanto, o que estou fazendo aqui? Certamente deve ter havido algum erro.

Há um sentimento semelhante que também se insinua facilmente em nossas vidas cristãs. Entramos na igreja no domingo e olhamos ao redor. Todos parecem pertencerem àquele lugar, parecem que têm a vida cristã resolvida (ou pensamos quem têm). No entanto, o cristianismo não parece ser tão natural para nós. Não nos parece como nossa segunda natureza.

Santo é Quem Você é

Talvez isso se aplique mais ao pensarmos sobre a santidade. Ouvimos o mandamento “sede santos porque eu sou santo”. Sabemos que devemos viver de uma maneira que seja digna do Evangelho. No entanto, parece tão estranho fazê-lo. Todas as nossas configurações padrão parecem alinhadas na outra direção e, no cansaço, podemos começar a pensar: “Não faz sentido. Isto não é quem eu sou. Simplesmente estou tentando ser alguém que não sou.”

Mas, por mais natural que pareça pensar assim, isto é completamente falso. A Bíblia é, naturalmente, profundamente realista sobre a presença contínua de tendências pecaminosas em nossas vidas. Ainda não estamos livres da nossa natureza pecaminosa. Mas isso não é tudo o que há para ser dito a este respeito. Sim, a natureza pecaminosa ainda continua incomodando, porém ela não é quem realmente somos agora.

A chave para tudo isso é entender nossa união com Cristo. Ser cristão não significa apenas que decidimos “votar em Jesus” ou que o admiramos de longe. A maneira mais comum que o Novo Testamento descreve os crentes é como aqueles que estão “em Cristo”. Estamos unidos a Ele, como um ramo tronco (Jo 15.1), como um corpo à cabeça (Ef 4) ou como um marido à esposa (1 Co 6)

Uma das implicações gloriosas é que quem somos agora, é quem somos em Jesus. Ouça estas palavras surpreendentes de Paulo:

“[…]logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim,” (Gl 2.20)

“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura.” (2 Co 5.17).

Isto significa que nosso relacionamento com nosso antigo eu, com nossa natureza pecaminosa, mudou decisiva e dramaticamente — para sempre. Portanto Paulo pôde escrever:

“Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus.” (Rm 6.11)

O pecado não é mais nosso senhor. Isso não significa que não exerça influência sobre nós, significa que ele não tem mais autoridade sobre nós. Nunca temos que fazer o que ele diz. Isso não significa que nunca vamos pecar, mas significa que toda vez que o fazemos, não tínhamos obrigação de o fazer.

O Pecado Não é Quem Você é

Compreender este ponto causará uma mudança na vida. A maioria de nós tem pecados específicos constantes que parecem tão estabelecidos que não podemos imaginar que desapareçam. Portanto, quando a tentação vem, ele nos diz: “Isto é quem você é. É assim que caminhamos. Pare de fingir ser alguém que você não é.” E isto soa tão convincente que podemos facilmente desistir.

Porém, nesta situação, a mensagem do Evangelho é maravilhosamente libertadora. Este ou aquele pecado pode bem ter definido nossas vidas. Talvez fosse quem nós éramos. Contudo não é mais quem somos.

Paulo indica isto para os cristãos em Corinto:

“Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.” (1 Co 6.9-11, ênfase adicionada)

Quando o Novo Testamento nos conclama à santidade, está nos conclamando a ser quem nós somos agora. Se sou quem sou em Cristo, então a santidade — e não a pecaminosidade — é quem sou mais verdadeiramente no núcleo mais profundo do meu ser. Por mais profundos que sejam os sentimentos pecaminosos, o novo amor e a nova vida que tenho em Cristo são mais profundos ainda. O pecado vai contra a essência do meu verdadeiro eu; portanto, seguir a Cristo é o mais “verdadeiro eu” que jamais poderia ser.

Escrevo isso como alguém que tem lutado contra a tentação homossexual por toda vida cristã. Aquilo definiu minhas afeições e sentimentos por muitos anos. Às vezes, ainda exerce uma poderosa atração gravitacional na minha vida. No entanto, embora possa descrever algumas das minhas tentações, isso não é quem eu sou. Satisfazer a esses sentimentos nunca é ser fiel a mim mesmo tal como sou agora em Cristo.

O Perigo de Compreender Isto de Trás Para a Frente

Aquilo que é mais verdadeiro nos crentes nunca será algum aspecto de nossas naturezas pecaminosas. Se compreendermos isto de trás para a frente no entanto, nunca sentiremos que temos o poder de viver como Cristo.

A tentativa de viver a ética cristã com uma identidade não-cristã produz um composto instável. Necessitamos reformar nossa identidade a fim de viver nossa ética, ou então desistiremos da luta pela santidade enquanto nos apegamos, bem intencionados, mas enganados, a “quem realmente somos”.

Traduzido por Mauro Abner