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Nesse Natal Não Vá Para a Igreja

Durante minha jornada com o Senhor eu participei de muitas reuniões de celebração de Natal com diferentes comunidades cristãs. Era um dia especial, com uma mensagem especial que em muitas ocasiões visava promover comunhão entre os membros da igreja. Ainda que o dia 25 de Dezembro não acontecesse em um domingo, um culto excepcional era criado para realizar a celebração.

A experiência sempre foi positiva e agradável, mas com o passar do tempo comecei a perceber que nossa ausência era recebida com desgosto por familiares não cristãos. Ao que parecia nossa reunião era mais importante do que o tempo com eles. E pior, comecei a perceber que tínhamos diante de nós uma excelente oportunidade missional que estava sendo mal aproveitada: No dia em que se celebra o nascimento de Cristo, nós cristãos deixávamos de falar sobre o que Ele tinha feito em nossas vidas em uma das únicas oportunidades do ano em que tínhamos familiares e amigos reunidos juntos em um mesmo lugar.

Minha perspectiva sobre um culto como esse passou a mudar quando li uma mensagem do Charles Spurgeon sobre o assunto.[1] Não que essa tenha que ser a realidade de toda comunidade cristã todo ano, mas por diferentes razões é exatamente isso que irá acontecer com nossa igreja esse ano: Na Igreja Batista Fonte São Paulo nós vamos todos para casa nesse Natal.

Um Sermão de Natal

Na manhã de domingo, 21 de dezembro de 1856, Charles Spurgeon pregou um sermão para preparar a sua igreja para o Natal intitulado “Vai para tua casa”, cujo objetivo era a de encorajar os membro da sua congregação a encontrar oportunidades para compartilhar seu testemunho pessoal com Cristo para  família e amigos. Spurgeon havia se tornado pastor da Igreja New Park Street em abril de 1854. Naquela ocasião a igreja tinha 232 membros. No Natal de 1856, participavam do culto cerca de 4.000 pessoas. Em outras palavras, um grande número de cristãos recém-convertidos precisava ser estimulado e preparado para voltar e se encontrar com seus familiares na ocasião do Natal.

O texto do sermão foi produzido a partir do relato dramático em que Jesus cura o endemoninhado gesareno em Marcos 5.1-20. Spurgeon focou sua atenção na comissão de Jesus para o homem depois que ele foi curado: “Vai para casa com seus amigos e lhes dizer o quanto o Senhor fez por ti e como teve misericórdia de ti” (v. 19). Depois de explicar a transformação radical da vida do endemoninhado por Cristo e sua comissão para ir para casa, Spurgeon comissionou sua igreja a voltar para casa. No restante do sermão de Spurgeon desenvolve várias sugestões de como aproveitar a celebração familiar do Natal como um palco da graça de Deus. O que segue são alguns princípios inspirados no texto dessa mensagem extraídos com algumas modificações. O texto original pode ser visto da mensagem pode ser lido aqui (aqui e aqui).

O Natal Pode Ser Familiar

A verdadeira religião não rompe os vínculos de relação familiar. A verdadeira religião raramente usurpa o que é sagrado, como a instituição chamada lar. Ela não separa os homens de suas famílias, nem os torna estrangeiros a seus parentes. O cristianismo faz de um homem um marido melhor; faz de uma mulher de uma esposa melhor. Não me livra de meus deveres de filho, mas me faz um filho melhor. Em vez de enfraquecer o meu amor, me dá motivos para o meu amor. Por exemplo, aquele a que eu já amava antes, meu pai, agora eu amo como meu irmão e parceiro de ministério em Cristo Jesus. A ela, a quem eu reverenciava como minha mãe, eu agora a amo como a minha irmã no pacto da graça.

O Natal Pode Ser Missional

Você não deve ir para casa para pregar. Você não deve escolher temas doutrinários para discorrer sobre eles, nem se esforçar para convencer as pessoas a respeito de suas opiniões e sentimentos particulares. Você não deve levar para casa os ensinamentos que tem aprendido nos últimos dias, nem deve tentar ensinar seus familiares a respeito deles. Você não está indo pra casa para defender o que acredita, nem o que você sente a respeito daquilo que acredita. Você está indo pra casa para compartilhar para compartilhar as grandes coisas que o Senhor fez por você. Vá para casa e conte a história de um pobre pecador. Vá para casa, abra seu diário de registro das ações de Deus na sua vida e apresente a seus amigos as histórias da graça de Deus na sua vida. Compartilhe a respeito das grandes obras da mão de Deus, coisas que Ele operou em sua vida. Fale a respeito de sua graça e amor soberano e imerecido.

1. Compartilhe Sua História Pessoalmente

Não conte esta história para seus amigos e familiares não cristãos quando estiverem todos juntos, pois eles podem rir de você. Leve-os um a um, pois quando você conversar com eles a parte e contar sua história, então eles o ouvirão seriamente. Lembre-se, você pode ser o instrumento que Deus irá usar esse Natal para levar alguém a Cristo, alguém que provavelmente já ouviu a Palavra e riu dela, mas que não consegue mais resistir o amor gentil de Cristo.

2. Compartilhe Sua História com Gratidão

Nenhuma história é mais digna de ser ouvida do que uma história de gratidão. A história desse pobre homem era a história de um alguém grato. Eu sei que era grato, porque  ele disse: “Eu te direi quão grandes coisas o Senhor fez por mim.” Ele sempre pensa que o que Deus fez por ele é extremamente bom e extraordinariamente grande. Nossa história deve ser transmitida com o tom de gratidão que vemos nesse endemoniado.

3. Compartilhe Sua História com Humildade

Sua história deve ser partilhada como a história de um pobre pecador que se sente não ter merecido o que recebeu. Quando contar a história de nossa própria conversão, faça-o com profundo pesar, lembrando de quem costumava ser antes de conhecer a Cristo Jesus. Compartilhe também com grande alegria e gratidão como sua história foi transformada por Cristo, lembrando sempre o quão pouco merecemos a salvação que Cristo nos ofereceu. Conte a sua história como um pecador perdoado. Não vá para sua casa para compartilhar com as pessoas da sua família com um ar arrogante, como quem diz: “Aqui está um santo vindo para casa dos pobres pecadores, para contar-lhes uma história.” Conte sua história, humildemente, não como um pregador, mas como amigo e como um filho.

4. Compartilhe sua história com verdade – não a embeleze

Não diga mais do que você sabe; não compartilhe a experiência de John Bunyan, quando você deveria contar a sua própria. Não diga a sua mãe que você sentiu o que só Calvino sentiu. Diga-lhes nada mais do que a verdade. Conte a sua experiência verdadeiramente, pois do mesmo modo que uma mosca é capaz de estragar todo um pote de pomada, uma declaração mentirosa que você fizer pode estragar tudo.

5. Compartilhe Sua História em Dependência

Não tenha medo, pense apenas no bem que você pode possivelmente fazer. Lembre-se: aquele que salva da morte uma alma encobriu uma multidão de pecados, e ele deve ter estrelas em sua coroa para sempre e sempre. … Deixe sua confiança no Espírito Santo e seja totalmente  honesto. Não confie em si mesmo, mas não tenha medo de confiar nele. Ele pode dar-lhe as palavras. Ele pode aplicar essas palavras ao seu coração, e assim permitir que você “ministrar graça aos ouvintes” (Ef 4.29).

Conclusão

Eu sei que o título desse post foi um pouco forte, e também imagino que a imagem de uma Papai Noel assustado deve ter assustado alguns. Mas o ponto que faço nesse post é simples: Investir intencionalmente em amigos e familiares no Natal é algo extremamente missional da nossa parte e algo altamente cristão. Devemos aproveitar do Natal para compartilhar nossa história com pessoas que ainda não encontraram a Cristo como salvador. Por isso eu ouso dizer: Nesse natal, não vá para a igreja! Vá para casa! Seja sal e luz entre amigos e familiares.

 


Nota

[1] Não me entenda mal: não existe nada errado em realizar um culto como esse, nem em participar de um culto como esse. Aliás, em alguns contextos, a comunidade da fé é a única família que se tem por perto. Minha intenção é demonstrar que existem boas alternativas cristas, como por exemplo, usar a ocasião para dividir sua história de transformação com amigos e familiares.

 

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