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Em uma ilha próxima da costa da Índia, vivem os Sentinelenses, uma tribo de povos indígenas que conseguiram — com a ajuda do governo indiano — se isolar do mundo moderno por centenas de anos. Em Março de 2019, John Allen Chau, um missionário americano de 26 anos de idade, tentou fazer contato com eles para que ele pudesse “declarar Jesus àquelas pessoas”.

Segundo o The New York Times, Chau fez um acordo com um pescador local para levá-lo para perto da ilha, onde ele esperava distribuir presentes tais como tesouras, alfinetes de segurança, linha de pesca e uma bola de futebol. Após chegar à ilha e ao ser confrontado por guardas, ele bradou: “Meu nome é John, eu amo vocês e Jesus ama vocês”.

Quando ele tentou entregar os presentes, porém, um menino atirou uma flecha na Bíblia que ele estava segurando. Chau escapou sem ferimentos e ficou na dúvida se voltaria. Mais tarde, ele disse aos pescadores que não teria problemas em ficar na ilha durante uma noite. Quando passaram pela ilha na manhã seguinte, os pescadores viram os moradores da ilha arrastando o corpo de Chau na praia com uma corda. A polícia acredita que é bem provável que o jovem norte-americano tenha sido assassinado.

Relatos desta tragédia provocaram uma série de debates. Alguns críticos do cristianismo — tanto externos quanto internos — estão usando a morte de Chau para condenar todas as atividades missionárias por as considerarem como “imperialismo” e “colonização”. Em resposta, alguns cristãos, estão louvando de maneira irrefletida, a coragem do jovem ao tentar falar a respeito de Jesus a uma das tribos mais remotas do mundo.

Não há razão para adotar qualquer das duas abordagens, nem é necessário condenar diretamente ou defender as ações de Chau. Mas podemos e devemos usar esta morte trágica para examinar como pensamos sobre nosso próprio papel no envio de missionários. Você teria comissionado Chau para ser um missionário aos Sentinelenses? Ao considerarmos esta questão, poderemos obter uma melhor compreensão de ambos o papéis, tanto dos missionários como também o papel que desempenhamos ao enviá-los.

Tal como explicou Kevin DeYoung, os missionários são aquelas pessoas singulares chamadas por Deus e enviadas pela igreja para sair e levar adiante a missão onde ela ainda não foi estabelecida. Por esta definição, se você é um membro de igreja, você terá (ou pelo menos deveria ter) a oportunidade de determinar quem será enviado ao campo missionário.

Aqui estão alguns exemplos dos tipos de perguntas que devemos considerar ao avaliar as qualificações de um candidato a missionário.

Estão eles dispostos a serem enviados por uma igreja local?

Vamos começar com aquilo que alguns podem considerar uma afirmação controversa: ninguém deveria estar no campo missionário a menos que seja enviado por uma igreja saudável e centrada no evangelho. Isto significa que o candidato deve ser membro de uma igreja local e estar se submetendo à autoridade dos líderes da igreja.

Concordo com o Mack Stiles. “Batizar-se a si mesmo é tolice”, disse Stiles. “E ir para as nações sem o apoio de uma igreja local é como se batizar a si mesmo. Ser um autoproclamado missionário solitário é tão ridículo e arrogante quanto se batizar a si mesmo. ”

Até agora, não se sabe se Chau foi enviado por qualquer igreja. Embora tenha se juntado a All Nations em 2017, também não está claro se a organização missionária sancionou sua viagem ao povo sentinelense.

São eles capazes de comunicar o evangelho ao grupo-alvo?

Esta questão tem três elementos, cada um deles inegociável.

A primeira é se o candidato tem uma compreensão adequada do evangelho. Nunca devemos pressupor que pelo simples fato de alguém ter um coração para missões, que ele entenda, ou mais ainda, seja capaz de comunicar a mensagem do evangelho. Peça-lhe que explique o evangelho a você antes que tente explicar para um grupo de pessoas perdidas.

A segunda consideração é se eles são capazes de explicar o evangelho no contexto do grupo das pessoas-alvo. A contextualização transcultural é um assunto complicado e repleto de armadilhas. Mas, no mínimo, um missionário deve ser capaz de comunicar o evangelho dentro de um contexto cultural de modo a garantir que o que as pessoas estão ouvindo é na verdade o evangelho.

Terceiro, e mais importante, é se eles podem se comunicar na linguagem do grupo das pessoas-alvo. Se eles não sabem falar a língua, não serão capazes de cumprir o propósito de ser missionário. Podem se inserir em um povo para estudar a língua e adquirir as habilidades necessárias para a comunicação. Mas até que sejam capazes de comunicar o evangelho ao grupo-alvo, não estarão operando como missionários.

Este é um problema particularmente sério em relação aos Sentinelenses, já que ninguém sabe nem mesmo que língua eles falam. O plano de Chau, segundo seus amigos, era “usar a linguagem corporal” para se comunicar com os Sentinelenses. Visto que o evangelho não pode ser comunicado através de gestos, levaria anos — talvez até décadas — para que Chau pudesse falar às pessoas sobre Cristo.

Quem fará parte de sua equipe?

O cristianismo não é para pessoas solitárias. Como crentes, somos chamados a fazer parte de — e a nos submetermos — a uma igreja local. O mesmo modelo é verdadeiro para os missionários. Exceto em circunstâncias raras e extraordinárias, devemos seguir o exemplo e modelo que vemos no Novo Testamento de missionários fazendo parte de equipes.

Tal como observou Paul Akin, “Jesus e seus discípulos viveram e fizeram ministério juntos. Paulo e Barnabé — separados pelo Espírito Santo e pela igreja em Antioquia — saíram juntos na primeira viagem missionária. . . e pelo menos 55 homens e 17 mulheres estavam associados a Paulo em suas viagens missionárias. Tudo isso para dizer que há razões bíblicas, práticas e pastorais pelas quais encorajamos a formação e o envio de equipes missionárias”.

Teríamos eles como parte da equipe em nossa igreja?

Você consideraria o candidato missionário “bom o suficiente” para um povo primitivo, mas não alguém em quem confiaria para ser um professor na escola dominical ou um presbítero em sua própria congregação? Se assim for, você deveria considerar por que acha que Deus tem um padrão menor para a liderança de um grupo de pessoas perdidas do que para sua própria igreja. Como escreveu Stiles, “as igrejas devem enviar pessoas que estariam dispostas a contratar como funcionários, aquelas que fariam falta se fossem para o trabalho no exterior”.

Eles avaliaram os custos?

Na carta que escreveu antes de morrer, Chau disse: “Penso que poderia ser mais útil vivo. . . mas para você, Deus, dou toda a glória de tudo o que possa acontecer.” Ele também pediu a Deus para perdoar “qualquer das pessoas nesta ilha que tente me matar, especialmente se tiverem sucesso”.

Quaisquer que fossem suas falhas de metodologia, Chau tinha a coragem, o comprometimento e a disposição necessárias para dar tudo de si pela missão. Devemos manter o mesmo padrão para nossos candidatos, pois nenhum missionário está verdadeiramente preparado até que esteja pronto para perder sua vida por causa do evangelho.

Traduzido por Tiago Hirayama

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