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Substituir o Deus no Espelho

Com as palmas suando e as bochechas ruborizadas, eu sabia que não poderia esconder meu constrangimento. Eu havia deixado a peteca cair. Não só não estava conseguindo acalmar o bebê se contorcendo irritado no meu colo, mas havia esquecido o nome da aluna que visitava nosso grupo de jovens. Ela me olhou com decepção e me corrigiu. Naquela mesma manhã, sua mãe foi buscá-la de nosso estudo bíblico, com desaprovação por a lição ter se estendido por alguns minutos.

Eu estava fracassando como esposa de pastor de jovens. Sem mencionar que eu estava cada vez mais longe de ser como a fulana. Preferia muito mais ser notada por minhas habilidades maternais de manejar uma multitude de tarefas e de me relacionar com estudantes.

Eu mereço receber honras e não as receberei, se continuar assim.

Nossa Inclinação Interior para a Vanglória

Todos buscamos incessantemente a glória. Sentimos a influência de nossos amigos que estão avançando na fé e desejamos ser como eles; necessitamos fazer com que nossa vida conte para algo na vida cristã. Esta tentação constante é o flagelo de nossas igrejas locais, e nossas lutas dão a luz a afeições contrárias ao evangelho.

Para alguns de nós, há algo por detrás de quem somos como mentores, das disciplinas que estamos praticando visivelmente e das palavras de encorajamento teológico profundo que compartilhamos com todos os nossos amigos de grupo pequeno. Nossos corações, que são capazes de criar ídolos a ritmos acelerados, necessitam somente vivenciar o menor reconhecimento, ou ouvir elogios da nossa família da igreja e começam a dar lugar à auto-indulgência.

Com acanhamento e tristeza, muitas vezes me encontro diante do Senhor me arrependendo do desejo profano de receber dos que me rodeiam, aquilo que nunca foi destinado a mim. O abominação da vanglória é que tendo recebido aquilo que é de primeira importância, ou seja, “que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E apareceu” (1 Coríntios 15.3-5), nós declaramos que isto é insuficiente para nossa alegria. Quando experimentamos um pequeno gosto de vanglória, isto altera nossas afeições para longe de Cristo, que é a verdadeira luz que brilhou em nossos corações obscurecidos e nos deu o conhecimento da glória de Deus (2 Coríntios 4.6).

Indicadores de Vanglória

A questão central é que substituímos a quem pretendemos contemplar. Mesmo em nossos pequenos grupos e cultos de adoração, podemos direcionar nossos corações a nós mesmos, buscando projetar nosso próprio valor em arenas sagradas. No entanto, o evangelho de Cristo deveria ser para nós uma ocasião para nos retirarmos do trono, o que, em última análise, é para nossa alegria.

Mas, para nos retirarmos de nossos tronos usurpados, em primeiro lugar, necessitamos ver todas as maneiras em que somos tentados a nos sentarmos neles. Há muitas maneiras pelas quais esse pecado pode começar a se infiltrar em nossas vidas, mas aqui estão algumas maneiras comuns que devem nos fazer prestar atenção, se começarmos a notá-las.

1. Quando ficamos vexados (por motivos errados), por termos fracassado diante de outros cristãos. “Não posso falhar”, dizemos a nós mesmos. No entanto, quando fracassamos, isto incapacita nossos corações. Tal temor de homens pode até nos levar à relutância em confessarmos nossos pecados uns aos outros (Tiago 5.16), pois não queremos uma ampla divulgação de nossas falhas.

2. Quando sentimos que não estamos à altura de fulano ou cicrano (ou os superando) e nos sentimos inadequados. Chegamos à falsa conclusão de que essa pessoa é o epítome da semelhança de Cristo. Quando não podemos viver uma vida no mesmo nível ou melhor que a dela, nossos corações esmorecem.

3. Quando nosso serviço ao Senhor não pode mais ser feito secretamente. Necessitamos receber o reconhecimento por nossos estudos, nossas buscas e encontros, ou então estes nos parecerão menos autênticos. Pode ser útil nos perguntarmos se estaríamos tão satisfeitos com o nosso serviço, se Deus utilizasse outra pessoa para realizá-lo. Em ambos os casos, a questão é se amamos nosso trabalho, ministério ou serviço ou meramente nossa parte nele.

4. Quando nosso tempo e prazer nas mídias sociais ultrapassa nossa comunhão com, e prazer no Senhor. Em uma cultura de gratificação virtual imediata, podemos ser tentados para a glória transitória de “amigos” e “seguidores”. Se ter influência nas mídias sociais atrai nossos corações com tal intensidade que nosso deleite em Cristo começa a ser posto de lado, devemos checar nossos corações quanto à auto-idolatria.

Esperança para Quem se Exalta a Si Mesmo

Então, o que devemos fazer se observarmos nossos corações se voltando a nós mesmos ao invés de se inclinar a Deus?

Primeiro, necessitamos reorientar diariamente nossas afeições em Cristo. Devemos contemplá-lo por quem ele é, como o Salvador que se esvaziou, o Deus-homem servo, o Cordeiro obediente até a morte, o Senhor crucificado, e o altamente exaltado, que, por meio de seu desinteresse pessoal, recebeu o nome sobre todos os nomes (Filipenses 2.6-9). Se o nosso maior deleite é o próprio Deus-homem, que confessou que sua própria auto-glorificação não tinha valor (João 8.54), que tipo de deleite poderíamos obter em uma auto-exaltação?

À medida que a tentação de ansiar por louvores a nós mesmos, em nossas igrejas locais aumenta, considere como um bem, estar ocultado em Cristo. Todas nossas obras de obediência que podem merecer favor perante homens, são nada mais (e nada menos) do que um testamento da graça consistente e suficiente de Deus (Efésios 1:5-6). Ser achado em Jesus, não tendo justiça própria (Filipenses 3.9), é suficiente. Permaneça aí com alegria.

Movidos pela Fama de Outro

O desejo de ser separado é bom e justo somente quando fica sob a cobertura da graça; quando reconhecemos que somos justos diante de Deus somente através da justiça de seu Filho, e que agora estamos separados para louvar a glória de sua graça neste mundo.

Não é errado desejar ser influente com o glorioso evangelho da graça que nos foi confiado. Corações que amam o evangelho, amam participar no gracioso privilégio de serem usados ​​em seu avanço. Mas, ao compartilharmos, devemos perscrutar os motivos de nossos corações com a realidade de que fomos enxertados na família de Deus para este propósito: de contemplar a Cristo, o Filho, não esperando receber uma medida dessa glória para nós mesmos.

Com este objetivo, devemos frequentemente colocar uma questão em nossos corações: meus pensamentos e ações sugerem que Cristo é incomparavelmente glorioso? Estou desfrutando de influência, ministério ou serviço porque sou conhecido ou porque Cristo é conhecido através de mim? Alimentar-nos do louvor dos homens não pode nos sustentar. Esta nunca foi a intençāo. No entanto, quando vemos a Cristo em toda a sua humilde glória, provamos daquilo que fomos criados para saborear.

Traduzido por Rafael Salazar

Originalmente publicado em DesiringGod.org.

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